sexta-feira, 4 de maio de 2018


O radicalismo não tem limites

Cesar Vanucci

A salvação do homem não vem do leste nem do oeste, vem do Alto.”
(Tristão de Athayde)

Usei, em fala recente, a expressão “radical fanático”. “Isso é pleonasmo!” - anotou, de pronto, estimada amiga, presença realçante em atividades voltadas à defesa da democracia e direitos fundamentais. O papo girava em torno dos destemperados posicionamentos de indivíduos e grupos radicais, de diferenciados matizes, que vêm dando o “ar da graça” no conturbado cenário brasileiro, botando pra fora, em gestos e vociferações raivosos, suas propostas incendiárias.

A sinalização dos “façanhudos atos” dos extremistas de carteirinha revela-se abundante. Nas redes sociais, o pessoal deita e rola. Os radicais realimentam o febeapá de que falava o irreverente Stanislaw Ponte Preta. Mas, mais do que isso, lançam no ar mal estar e desassossego sociais. Propagam falsidades, constroem versões insanas de histórias em evidência, falsificam dados, deturpam as coisas, fazem de tudo para implantar a inquietação nos lares e nas ruas. Não enxergam limites nos nefandos propósitos. Tentam intimidar autoridades envolvidas em investigações criminais; agridem verbalmente e fisicamente pessoas de cujos pontos de vista discordem; picham fachadas de prédios e obstruem acessos rodoviários em retaliação contra decisões que lhes desagradem; disparam tiros contra veículos que conduzem caravana de dirigente político em campanha eleitoral; até mesmo, no auge da paranoia, eliminam vidas preciosas, como sucedeu no caso da destemida vereadora carioca e assessor, um atentado que comoveu a Nação sem solução à vista, pelo menos até o momento em que estes escritos são datilografados.

Entre vários outros lances de natureza radical há um episódio recente, no mínimo intrigante, não noticiado pela grande mídia com o alarde de que se faz merecedor, carecedor ainda de esclarecimentos suficientes por parte das autoridades, compreendendo declarações ameaçadoras confusas, de origem não identificada, interceptadas pelos serviços de escuta do tráfego aéreo durante a operação do voo que transportava o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva a Curitiba, no cumprimento da ordem de prisão determinada pela Justiça.

Tudo quanto dito acima, amostra representativa de condutas radicais produzidas - repita-se - por extremistas de diferentes falanges, antagônicas, com toda certeza em não poucos posicionamentos, configura febril atividade de um punhado de indivíduos e núcleos empenhados em promover estragos de proporções. É certo que as lateralidades ideológicas incendiárias, em suas distorcidas percepções das coisas do mundo, pouco se lixam para os sentimentos das ruas. Sabem-se insignificantemente minoritárias, mas persistem na ilusória concepção de exercerem “redentora missão” como “salvadores da pátria”. Sentem ojeriza da democracia. Renegam as liberdades fundamentais, as aspirações de paz que palpitam nas mentes e corações. Não se preocupam nadica de nada com a circunstância de que a sociedade abomina pra valer suas desconstrutivas proezas. Para o extremista fanático (olha o pleonasmo aí, de novo) quanto pior, melhor.

Muita gente supõe equivocadamente que os radicalismos de inclinações rotuladamente opostas não encontrem ponto de conciliação em suas trajetórias. O denominador comum do ódio, carregado pelos adeptos nas vísceras, torna todos eles, todavia, mais próximos do que imagina nossa vã filosofia. A história está recheada de exemplos. Mussolini bandeou de lado ao virar ditador fascista. Hitler e Stalin, no começo da segunda guerra mundial, firmaram um pacto de não agressão que levou à partilha da Polônia, antes que ocorresse a invasão malsucedida das tropas alemãs ao território russo, que resultou na reversão dos rumos do conflito.

Anos atrás, fiquei conhecendo pessoas de nacionalidade húngara que encontraram abrigo no Brasil quando da odiosa perseguição nazista aos judeus. Eles haviam retornado de uma viagem à terra natal. Confessaram-se atônitos: radicais bastante conhecidos no passado da repressão do nazismo continuavam firmes nas rédeas da repressão em nome do comunismo.

E, por derradeiro, como sugestão a uma reflexão, um conceito lapidar, de permanente atualidade, transmitido por ninguém mais, ninguém menos, que Tristão de Athayde: A salvação do homem não vem do leste, nem vem do oeste. Não vem dos lados. Vem do Alto. Outra frase magistral: “O radical é alguém com os pés firmemente plantados no ar.” É de Franklin Delano Roosevelt.


As forças da desordem carioca

Cesar Vanucci

“Desde fevereiro, quando foi decretada a 
intervenção federal na segurança  do Rio, 
coisas estranhas aconteceram.”
(Jornalista Élio Gáspari)

As poderosas forças da desordem, que dominam estratégicos redutos e esquemas na vida carioca, estão emitindo claros sinais de desafio à intervenção federal na segurança do Estado. Desnorteantes indicações a respeito desse audacioso procedimento foram trazidas ao conhecimento público pelo sempre bem informado jornalista Élio Gáspari.

Incorrigíveis em sua aberta disposição de confrontamento com as leis que regem a convivência social, das quais deveriam ser por dever de oficio zelosos guardiães, integrantes da chamada “banda podre” dos organismos policiais do Rio de Janeiro vêm procurando criar todo tipo de óbice imaginável às ações das autoridades incumbidas de executar as operações de combate ao crime.

A fieira das “coisas estranhas” que andam pintando no pedaço teve começo, pouco depois do decreto de intervenção, com a execução da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Silêncio de tumba etrusca se abateu, até aqui, sobre o trabalho investigatório, causando compreensível espécie. Como uma coisa puxa a outra, a história do atentado que comoveu o país levou, dias após, à notícia, divulgada sem o costumeiro alarde midiático, da suspeitosa execução do colaborador de parlamentar carioca. O edil havia sido chamado a prestar depoimento no inquérito que apura o assassinato de Marielle.

Outro episódio estranho, contado pelo jornalista, ocorreu quando do anúncio do desencadeamento, por tropas do Exército, do processo de pacificação na Vila Kennedy. O gabinete do interventor foi surpreendido por uma operação que destruiu barracas e quiosques comerciais em logradouros da comunidade. Os autores da ação criminosa não foram identificados. Mais adiante, houve outro registro esquisitíssimo. No correr de inspeção do general que chefia o gabinete da intervenção a um batalhão da PM, parte da tropa formada recusou-se a prestar-lhe a continência devida.

Os vazamentos sucessivos em torno das ações planejadas com o fito de desmantelar os núcleos do banditismo organizado vêm tornando o trabalho, em várias ocasiões, ineficaz. Isso ficou comprovado, por exemplo, em surtidas do Exército a unidades prisionais e aglomerados comunitários. No Complexo de Lins, operação que aglutinou 3.400 militares, nada praticamente de relevante, devido ao alerta prévio aos delinquentes, foi detectado. Outro lance “singular”: o gabinete da intervenção ordenou o retorno, aos batalhões de origem, de 3.100 policiais militares e bombeiros colocados à disposição de outros órgãos do governo do Rio. Mês e meio depois da determinação, mais da metade dos 150 PMs lotados na Assembleia Legislativa ainda não haviam se apresentado à corporação.

Toda essa sequência de episódios desconcertantes, narrados por Gáspari, induz a conclusão de que, para alcançar resultados, a intervenção no setor da segurança no Rio de Janeiro vai ser obrigada a lançar mão, com foco em elementos das forças auxiliares de segurança, de medidas drásticas capazes de desfazer o nó górdio das espúrias engrenagens emaranhadas no aparelho policial.

Passa a fazer sentido, quando se tem ciência de fatos assim, a polêmica e impactante afirmação recente do Ministro de Estado que, ainda recentemente, denunciou a existência de um conluio de comandantes de unidades da PM carioca com organizações de traficantes e milicianos.

Tá danado!

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