sexta-feira, 11 de maio de 2018

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Escravidão em era de “esplendor tecnológico”

Cesar Vanucci

“Dizei-me vós (...), se é loucura... 
se é verdade, tanto horror perante os céus?!”
(Castro Alves, ainda atual)

Por mais espantoso que possa parecer, a maldição do trabalho escravo ainda é detectada em numerosas paragens deste paradoxal planeta azul. Difícil pacas engolir algo tão tenebroso assim nestes tempos que tanta gente considera áureos em razão de uma extraordinária evolução tecnológica. Nos sonhos das conquistas civilizatórias, o desenvolvimento técnico a que chegamos estaria potencialmente apto a implantar, com razoável rapidez, em todas as latitudes terrenas, para a humanidade inteira, o reinado do bem-estar social.

Conclamando a comunidade das nações a combater a nefasta prática, a ONU reconhece, em estudo recente, que o “trabalho forçado” afeta, nada mais, nada menos, que 40 milhões de seres humanos, valha-nos Deus, Nossa Senhora!

A estarrecedora revelação veio a furo pouco depois da chocante apresentação, nas redes de televisão, de um documentário contendo inverossímeis cenas das operações “livres e desembaraçadas” de um mercado de escravos em funcionamento na Líbia oferecendo como “mercadoria” indefesos imigrantes africanos. Não se trata, pra vergonha da espécie humana, de caso isolado, assegura o estudo, com o acréscimo da  desnorteante informação de que um quarto da mão de obra submetida a esse ultrajante regime de servidão é composta de crianças. Pelos conceitos de “escravização moderna”, adotados por especialistas, tem-se por certo que 25 milhões de pessoas são vítimas inocentes, nos diferentes continentes, do chamado “trabalho forçado”. Já outras 15 milhões de “casamento forçado”. O modelo de “casamento” enfocado advém de injunções terrivelmente machistas. Reveste-se, às vezes, de falso cunho religioso. Impõe exigências despóticas, na base da absoluta submissão, às mulheres enredadas no degradante processo. Mas mesmo esses números – pasmo dos pasmos! – podem ainda não traduzir a perversa realidade em toda sua dimensão. São subestimados, admitem unanimemente os responsáveis pelo levantamento, a Organização Mundial do Trabalho (OIT), o “Walk Free Fundation”, instituição de defesa dos direitos humanos internacionalmente acatada e a Organização Internacional das Migrações (OIM).

Noutras palavras, o problema não é apenas tão arrasador quanto se possa imaginar a princípio, mas bem mais arrasador do que se consiga jamais imaginar. As modalidades do “trabalho escravo” comportam infinitas crueldades. Mais da metade do contingente humano explorado enquadra-se no asqueroso “sistema da servidão por dívidas”. As ligações de abjeto servilismo aos algozes podem resultar de dependência química, o que implica para os viciados permanentes abusos físicos e psicológicos. Significativa parcela dos “escravos”, com predominância feminina no caso, é forçada a se prostituir. Em campos de refugiados, na culta Europa, grupos mafiosos costumam recrutar “mão de obra”. A ONU constata ainda que somam mais de 4 milhões os seres humanos sob a tutela de “trabalho obrigatório” instituído pelos próprios governos de certos países onde os direitos humanos são clamorosamente espezinhados. E, no fecho destas considerações, um último indicador estatístico, pinçado entre outras dezenas de chocantes informações: mulheres e meninas representam 71 por cento dos casos avaliados, quase 29 milhões de pessoas.

A brutalidade das revelações faz surgir, em mentes bem formadas, comprometidas com os valores humanísticos e espirituais que conferem dignidade à aventura da vida, clamor semelhante ao que levou o genial Castro Alves a arremeter-se, em seu tempo, contra a ignominia da escravidão legalmente aceita no Brasil império. O brado de revolta por ele emitido conserva, ainda, desafortunadamente, inadmissível frescor de atualidade: “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade, tanto horror perante os céus?!”


 “Brasil, a Reconstrução”,
o livro

Cesar Vanucci

“A autora conta como um país que pareceu ter 
tudo para dar certo acabou perdendo o caminho.”
(Thomas J Trebat, diretor da Columbia Global Centers)

Depois de Paris, Porto Alegre e Rio de Janeiro, o livro “Brasil, a Reconstrução” – da jornalista Maria Paula Carvalho - será lançado em Belo Horizonte. A palestra, seguida de sessão de autógrafos e coquetel, acontece nesta quinta-feira, 19 de abril, às 19h30 na Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, alto das Mangabeiras. A repórter e apresentadora de televisão tem realizado debates sobre os rumos do país, após 30 anos de democracia. Os encontros, em universidades, refletem sua atuação no jornalismo e no mundo acadêmico, onde nasceu a ideia de produção desse livro-reportagem.

Maria Paula, mestre em jornalismo político pela Columbia Graduate School of Journalism (Nova Iorque), vale-se de seu senso crítico de análise e reflexão para abordar os desafios da conjuntura atual. Com linguagem acessível, o livro examina temas intrincados, como recessão econômica, o impacto da corrupção para o desenvolvimento, a relação entre o comportamento fatalista da população e os desmandos detectados, o papel da imprensa na democracia e a forma como a máquina do Estado vem se estruturando na busca por mais transparência nos negócios públicos.

A autora sustenta ser preciso reavaliar os conceitos sobre como atingir um crescimento sustentável com avanços sociais, investimento na infraestrutura, aumento de produtividade, a eliminação das alianças entre corruptos e corruptores, danosas às aspirações brasileiras no tocante à evolução civilizatória. Com clareza literária, a autora relata a tumultuada história brasileira dos anos recentes.  Conta como um país que parecia ter tudo para dar certo acabou perdendo o rumo e também como poderá reencontrar sua vocação de progresso no futuro, conforme anota o diretor da Columbia Global Centers Rio de Janeiro”, Thomas J Trebat.

Mais do que uma compilação de dados e opiniões, “Brasil, a Reconstrução” oferece um reordenamento das principais questões focalizadas pela jornalista em aprofundada pesquisa. Retrata de forma ampla a situação brasileira, com base em entrevistas e fatos históricos. Para um país que se sentia prestes a ingressar numa nova era política, diplomática, social e econômica, o amanhã parece agora um tanto incerto. “Apesar da taxa de crescimento maior finalmente alcançada em 2017 - cerca de 1% - e das estimativas de expansão futura, ainda há muito a ser feito. Especialmente em relação ao aumento súbito do endividamento público e o desaparecimento do superávit pessoal como compensação dos déficits fiscais. Uma maneira significativa de controlar as receitas públicas, além de aumentar os impostos”, explica o economista de Columbia, Albert Fishlow, no prefácio do livro.

Além de uma solução para os desafios socioeconômicos, os brasileiros esperam por reformas estruturais e mudanças de comportamento que sejam capazes de extirpar o clientelismo. Isso ainda não acontece no ritmo desejado. Consoante a autora, repetitivos fracassos de governança provocam a sensação de ilusão, enquanto uma sequência de escândalos deprimentes tem levado desassossego às ruas. Maria Paula avalia com clareza os riscos de eventuais apatia popular e perspectiva de ascensão de forças socialmente retrógradas. Ao abordar fatos que analisam o movimento anticorrupção e o impacto das condenações de agentes públicos, parlamentares e empresários, “Brasil, a Reconstrução” examina em que grau os malfeitos praticados concorrem para uma cultura de impunidade. Ou, pelo contrário – coloca o livro -, será que finalmente chegou o momento em que esses comportamentos possam ser anulados por ações mais participativas da sociedade, à medida que a população se organiza para clamar melhora nas condições de vida do país?

“Para o cidadão comum, que quer saber se o Brasil sairá diferente dessa experiência traumática, Maria Paula oferece o convincente argumento de que o Brasil está em uma conjuntura crítica, mas que pode mudar sua trajetória através da depuração de costumes, da reorientação de seus valores, e da busca por novas lideranças”, escreve Matthew Taylor, professor da American University de Washington, na apresentação do livro.

Recomendo, com ênfase, a leitura da obra.




Dia das mães

Acadêmica Maria Inês Chaves de Andrade *

Dia das mães. O coletivo individualizar-se-á no Domingo. Então, a mãe de seu filho estará com ele à mesa, no hospital, na penitenciária, na rua. A mãe de seu filho se lembrará dele e será lembrada. O dia terá presente e ausência. Para a emoção haverá indulto, licença e alta. A memória fará álbum e postagem. Todas as pazes serão feitas. Pudesse a paz ter mãe! Os filhos da mãe se assentarão com ela. A Mãe será lembrada na missa e nossa missão será entender a Palavra do Filho e pediremos que Ela interceda por nós. As mães solteiras reconhecerão o semblante do amor que tanto não antecedeu a face do menino como ficou brocado nele. O pai viúvo dirá da beleza da menina de onde ela a puxou. O marido vai agradecer pelos filhos que aquela mulher lhe deu. A avó vai emocionar-se com tanta família. A empregada vai servir a saudade dos seus no prato de hora extra com necessidade. Nas maternidades outras mães chegarão ao mundo. Nos velórios haverá mães que descobrirão que nunca deixamos de sê-lo, mesmo quando já não somos mais. As mães seremos homenageadas, seja como for e como der. Nós olharemos para nossos filhos, sejam eles quem forem. E quereremos que fiquem bem e que consigam realizar seus sonhos e enfrentar a realidade. E esperaremos que os filhos de outras mães não os ofendam e muito menos sob a guarida delas. Afinal, nossos filhos são múltiplos e tantos. E todos eles merecem viver deixando que os outros vivam também. As mães precisamos aprender a ser, verdadeiramente, maternais e conosco e umas com as outras porque a fêmea do bicho-homem tem-nos sido insuficiente à humanidade que queremos realizada para os nossos filhos. Nenhum filho mais haverá de ser crucificado porque houve Naquele o limite para o perdão de nossos pecados. O Planeta lar precisa que nossa igualdade na diferença faça diferença. Somos mães e mães sabem o que fazer por sua família humana e pela humanidade de sua família, quase seja o mesmo, eco e toada. Dia das mães. Todas seremos únicas. O coletivo, singular. A responsabilidade, grave. Especialmente, porque Domingo é a primeira chance que teremos depois de tanto para fazer deste mundo um lugar melhor e mais bonito para todos os nossos filhos. Dia seguinte será a segunda ou só segunda-feira.


* Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais - Amulmig


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