segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Uma pesquisa surpreendente

Cesar Vanucci

“Os entrevistados foram ouvidos em um ambiente de opinião desfavorável a Lula.”
(Marcos Coimbra, diretor da “Vox Populi”)


Recente pesquisa de opinião promovida pelo Instituto “Vox Populi” trouxe dupla surpresa. A primeira surpresa correu por conta do silêncio quase unânime, em relação aos dados anunciados, observado por parte dos grandes veículos nacionais de comunicação, sabidamente fissurados em divulgações desse gênero. A unanimidade só não ocorreu em função de matéria a respeito do assunto estampada nas páginas da revista “CartaCapital”.

O outro motivo de surpresa decorreu dos próprios números apontados na pesquisa. Abstemo-nos de comentá-los, deixando para o leitor a análise das informações apuradas. Segundo a “Vox Populi”, entre 11 e 15 de dezembro passado, 2 mil  eleitores foram entrevistados em todo país. Seguindo formato padrão tradicionalmente utilizado pelos institutos de pesquisas, o levantamento abrangeu um conjunto de perguntas com o fito de estabelecer comparação de desempenho governamental entre los ex-Presidentes da República Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, em diferentes áreas de atuação. As pessoas consultadas apontaram qual deles se saiu melhor em cada uma das situações propostas. Deu Lula na cabeça em praticamente todos os itens. As diferenças percentuais foram sempre altas. Nos temas sociais, bastante altas.

Vale a pena tomar conhecimento dos índices registrados. O único tópico do confronto que se mostrou desfavorável ao líder petista foi aquele em que se formulou indagação sobre em qual administração “houve maior volume de corrupção”. Estas as respostas dadas: 47% quanto ao Governo Lula. 18% quanto ao Governo FHC e 15% quanto “aos dois governos, igualmente”. No tocante aos demais quesitos, os índices comparativos foram os que se seguem: a) Quem gerou mais empregos? - Lula 65%, FHC 19%; b) Quem investiu mais em educação? - Lula 60%, FHC 18%; c) Quem teve maior preocupação com os pobres? - Lula 74%, FHC 9%; d) Quem investiu mais em saúde? - Lula 46%, FHC 18%; e) Quem controlou melhor a inflação? - Lula 52%, FHC 28%; f) Quem mais concorreu para melhorar a imagem do Brasil no exterior? - Lula 55%, FHC 20%; g) Quem mais estimulou o crescimento econômico? - Lula 55%, FHC 21%; h) Quem investiu mais em segurança pública? - Lula 37%, FHC 17%; i) Quem mais combateu a corrupção? - Lula 32%, FHC 18%. É interessante frisar, no que concerne ao último item anotado, que esta foi a única parte da consulta onde a resposta correspondente a “nenhum dos dois”, com 38%, revelou-se superior aos índices atribuídos a cada ex-Chefe de Governo.

Marcos Coimbra, diretor da “Vox Populi”, destaca aspecto relevante da pesquisa: a circunstância especial do momento em que a mesma  se realizou. “Ninguém ignora – sublinha – o que se passou em 2015 e a intensidade da campanha (...) contra o Governo Dilma Rousseff e o PT. (...) Os entrevistados foram ouvidos, portanto, em um ambiente de opinião desfavorável a Lula”.



A charge, o filme, o candidato

Cesar Vanucci

“Vivemos no tempo mais esquisito de todos os tempos!”
(Duke, chargista)

Em charge magistral, o talentoso Duke conta em “O Tempo” uma história bem típica da alucinatória incongruência econômica e social desses tempos amalucados. No primeiro rabisco, o aparelho de televisão informa ao telespectador refestelado na poltrona: “Estamos na maior crise de todos os tempos!” Na cena retratada no quadrinho seguinte, a notícia passada ao telespectador é esta aqui: “Bancos registram os maiores lucros de todos os tempos!” No derradeiro registro, com o olhar perplexo fixado na telinha, o telespectador sapeca: “Vivemos no tempo mais esquisito de todos os tempos!”
Uma charge apenas. Vale por uma grosa de comentários a respeito dessa tremenda distorção do comportamento social que privilegia o lucro descomedido na escala dos valores proporcionados pelo labor humano.  E já que se está a falar de ganhos himalaianos, queira o distinto leitor aí, por favor, anotar: as taxas dos cartões de crédito já andam pelas altitudes irrespiráveis dos 410.97%, o cheque especial já chegou a 248.34% e o “spread” bancário a 87%, em decorrência, ao que se alega, do aumento da taxa básica Selic de 2%. Dá procês?

Filme 3D. Falaram tanto desta fita! Disseram coisas e loisas do desempenho do Leonardo DiCaprio, da direção de Alejandro Inãriptú, da narrativa empolgante recheada de tiradas inovadoras e efeitos especiais inigualáveis etecetera e tal! Tão persuasivo trabalho marqueteiro incentivou-me a trocar no final de semana a programação de filmes exibidos na tv pela fila de uma sessão noturna em sala de projeção do shopping.
Aqui pra nós, esse “oba oba” em torno de “O Regresso”, no modesto parecer deste desajeitado escriba, guarda desproporção com a ideia de uma obra de qualidade superior vendida na propaganda  do filme. Tendo em vista as 12 indicações para o “Oscar”, é provável que o celuloide arrebate estatuetas na grande festa hollywoodesca. Mas nem por isso ele faz jus à classificação de “fora de série” .
Essa superprodução ambientada em florestas da América do Norte foi rodada em paisagem invernal deslumbrante com temperaturas abaixo de zero. Dos desempenhos pode-se dizer que são marcantes. Das tomadas de cena pode-se dizer que são criativas. Até aí tudo bem. O espectador atento não consegue, entretanto, libertar-se da sensação de que DiCaprio, encarnando o personagem central responsável por inacreditáveis proezas, recebeu instruções para se comportar, na trepidante aventura encenada, como um êmulo de James Bond misturado com Capitão Marvel. Os grandes e inesquecíveis espetáculos de cinema costumam tatuar na lembrança uma marca de “quero mais”. Nasce aí aquele prazer especial que sempre se sente ao revê-los. “O Regresso” não tem como entrar numa lista do gênero. Encurtando razões: trata-se de filme mediano com 3D: desinteressante, desagradável, desnecessário.

O candidato a candidato. Esse Donald Trump, magnata estadunidense com pretensões presidenciais, que ora disputa a preferência dos republicanos nas eleições primárias em curso, vou te contar... Congregando apoios em setores que se primam pelo radicalismo mais exacerbado, o homem defende propostas aterrorizantes. Revela-se impecável versão talebã ocidental. Pra se ter uma ideia do que anda ruminando nas andanças pré-eleitorais, vejam só algumas de suas propostas.  Se eleito, expulsará imigrantes, coibirá o culto muçulmano, construirá muro igual ao de Berlim dos tempos da “guerra fria” separando os Estados Unidos do México. Não bastasse tudo isso, declara-se totalmente de acordo com o emprego de tortura em moldes medievais para arrancar confissões. Deus salve a América e o mundo!



Torcer pra não ser verdade...

Cesar Vanucci

“Prestarão imenso desserviço ao Brasil os indivíduos que se atreverem a propagar que carecemos de condições favoráveis para acolher os atletas e turistas atraídos pelas Olimpíadas.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)

Torço ardorosamente para que não seja verdade. Roço os limites máximos da boa vontade, compreensão e tolerância ao admitir que tudo não passa mesmo de lamentável mal-entendido. Puro e simples equívoco. Essa estranha e desagradabilíssima sensação percebida por tanta gente com relação a que estaria ocorrendo empenhado esforço dos incorrigíveis “plantonistas do pessimismo”, encastelados na grande mídia, no sentido de desacreditar, nas vésperas do magno evento esportivo, a capacidade do Brasil para promover os Jogos Olímpicos deve representar, tão somente e apenasmente, uma incorreta leitura dos fatos.

Isso mesmo! Só pode ser “exagero de imaginação” supor que existam por aí indivíduos mal intencionados à frente de uma central de boatos concentrada no nefasto propósito de espalhar que o nosso país esteja incapacitado a acolher os atletas e turistas das Olimpíadas por causa de mortíferos mosquitos...

Os temores de que esse procedimento perverso esteja sendo realmente mostrado, dito e lido na hora presente talvez possa ser explicado como eco distante daquilo que aconteceu em 2014, por ocasião da Copa, quando o negativismo midiático atingiu as raias do paroxismo, projetando um tipo de manifestação conhecido como “complexo vira-lata”. Algo que, seja enfatizado,  não tem a ver nadica de nada com o verdadeiro sentimento nacional. Seja também relembrado que aquele evento, noves fora o desempenho ridículo do escrete tremedeira do Felipão, notabilizou-se por  retumbante sucesso. Revelou-se incomparável em termos de organização, tomadas como referência todas as competições do gênero anteriormente ocorridas.

Proclamava-se, antes dos jogos, a torto e a direito, que os hotéis, os aeroportos, a rede de serviços de entretenimento e lazer eram totalmente desaparelhadas para dar respostas minimamente satisfatórias às exigências das levas turísticas aguardadas. Mas tudo, tudo mesmo, desmentindo maus agouros, funcionou a pleno contento. No tocante à segurança, colocada em xeque o tempo todo em antecipadas críticas maldosas, ela se revelou eficiente de tal forma que conseguiu a proeza de desbaratar um esquema fraudulento de muitos anos na venda de ingressos. O esquema estava nucleado nos bastidores da própria FIFA e funcionou impunemente em todos os campeonatos mundiais precedentes patrocinados pela entidade.

Resumindo a ópera: o Brasil aborrece a versão pessimista da vida. A opinião pública recusa espaço para quem, negando ou desconhecendo as virtualidades da brava gente brasileira, incida na imprudência de propalar a ideia falsa de que não reunimos condições para promover empreendimentos de dimensão universal. Falar verdade, com pedido de desculpas pela gabação, não há quem possa nos superar nesse mistér. Isso aí, gente boa!


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