sexta-feira, 4 de março de 2016

Crise econômica mundial

Cesar Vanucci

“Fatores domésticos manjados e deplorados concorrem para a crise econômica brasileira. Mas não se pode ignorar, também, a circunstância de que a crise mundial afeta a vida nacional.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)


Ao nos louvarmos no que as manchetes e as colunas econômicas habitualmente propalam, o Brasil anda mal o tempo todo em matéria econômica. Em contraste, por sinal, com a relativamente bem sucedida performance econômica dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Não existiriam lá fora, ao contrário do que estaria acontecendo aqui dentro, sinais tão pronunciados de fragilidade econômico-financeira com riscos de impacto negativo na economia geral.

As revelações de que nas primeiras seis semanas do ano em curso, em tudo quanto é canto do planeta, as bolsas despencaram, acusando o pior desempenho de um inicio de ano de todos os tempos (incluído aí o próprio período da chamada “grande depressão”) não são de molde a alterar em nada as doutas avaliações circulantes na mídia. A crise brasileira seria um fenômeno quase que isolado no contexto mundial. Não estaria sujeita a qualquer fator de influência externa...

A circunstância de que, inesperadamente, da noite pro dia, como resultado  do frenético e enigmático jogo das bolsas, evaporou-se soma equivalente a 24 trilhões de reais, praticamente duas vezes a riqueza bruta nacional, não estimulou analistas conceituados a reverem os conceitos. A admitirem  ligeiríssima possibilidade de que a conjuntura internacional possa estar, de alguma maneira, acrescida das manjadíssimas distorções comportamentais domésticas, afetando as atividades econômicas brasileiras neste momento. Difícil supor que um esquema desses, com tais características de informação incompleta ou de desinformação, não decorra de uma disposição clara, sabe-se lá com que propósitos, de má vontade rematada com relação às coisas nossas.

Há no ar indícios sólidos de enfraquecimento das estruturas financeiras internacionais. Inevitável associar alguns perturbadores dados da atualidade a situações vividas na crise de 2008 que tantos estragos deixou. Naquela ocasião, como se recorda, os governos estadunidense e europeu viram-se obrigados a injetar recursos astronômicos nas instituições financeiras envolvidas nas ações fraudulentas detectadas, impedindo com essa emergencial ajuda que a debacle econômica se tornasse ainda mais contundente.

Alguns dos indícios das fragilidades presentes do sistema econômico podem ser colhidos nos números constantes de estudos divulgados por organismos internacionais que acompanham a atuação das instituições bancárias. Num quadro demonstrativo do comportamento recente das 21 maiores organizações bancárias norte-americanas e europeias é assinalado que todas essas organizações, sem exceção alguma, sofreram quedas acionárias vertiginosas nas bolsas de todo o mundo em apenas um mês. Ativos fabulosos foram reduzidos quase à metade, em curtíssimo período,.

Alinhamos na sequência alguns exemplos. O Unicredit da Itália sofreu desvalorização assustadora: 41.6%. A desvalorização das ações do Deutsche Bank, da Alemanha, o maior banco da Europa, foi de 39.1%. A do Credit Suisse foi de 37.4%. No tocante aos demais bancos listados as quedas de ativos andaram bem próximas dos índices acima apontados.

Alguma coisa bastante grave anda, na verdade, rolando no cenário econômico mundial. Nem tudo que acontece vem sendo, entretanto, trazido ao conhecimento da opinião pública brasileira pelos órgãos de comunicação social.


Uma tragédia sem fim

Cesar Vanucci

“Triste sinal dos tempos: milhares de pessoas protestaram nas ruas e nas redes sociais contra estupro que não houve. Esse foi mais um lance dramático contra a acolhida aos refugiados no território europeu”
(Antônio Luiz da Costa, educador)

Organizações humanitárias engajadas em operações de socorro, tomadas de estupefação e angústia, constatam que o sofrimento e as provações dos refugiados não cessam nunca.  Nem quando nos casos em que o almejado asilo se lhes é concedido.

Já somam mais de dois milhões as indefesas criaturas imersas nessa “via crucis” sem desfecho à vista. Elas foram expulsas pelos horrores das guerras e da miséria dilacerante que tomou conta de seus territórios e reduziu a escombros seus lares. Sobreviveram a travessias marítimas traiçoeiras. Fatais, como documentado, para muitos de seus companheiros de desdita. Recebidas de forma quase sempre inamistosa, ou até mesmo francamente hostil, tornaram-se alvo prioritário nas discriminações, intolerâncias e desconfianças cultivadas desde sempre em muitas das regiões aportadas.

Nalguns lugares ditos civilizados houve até quem lhes confiscasse pequenos pertences, de valor financeiro relativo como simples alianças, à guisa de compensação pela “generosa ajuda”... Fazem-lhes ver, não poucas vezes, que não são nem um tiquinho bem-vindas. Tratados como párias, os refugiados colocam-se sob o fogo cerrado de acusações torpes e mesquinhas, produzidas por discursos xenófobos e racistas, frequentes em tempos de agora  no cenário político europeu.

Não bastasse tudo isso, já não se mostrasse insuportável a carga volumosa de infortúnios carregada sobre os ombros arqueados, os refugiados estão sendo compelidos a confrontar ainda, consoante denúncias das organizações humanitárias, inesperado e atordoante problema que representa libelo arrasador aos padrões civilizatórios de que o mundo contemporâneo tanto se jacta.

A revelação estarrecedora transmitida diz o seguinte: mais de dez mil menores encontram-se, no presente momento, em locais incertos e não sabidos, desapartados por inteiro do convívio dos pais ou responsáveis. Muitas as hipóteses levantadas a respeito dos extravios. Terão sido sequestradas? Estarão em poder de pessoas que não sabem lidar com a questão de seu reencaminhamento a quem de direito? A terrível situação é consequência direta da desorganização, dos embaraços burocráticos e de outros fatores adversos eclodidos em meio ao turbilhão do processo das adaptações migratórias que ocorrem na Europa. Existe fundado temor de que parte dos inocentes seres humanos, perdidos em ambientes onde prevalecem hábitos e idiomas diferentes dos seus, possa ter sido capturada por máfias que exploram o lenocínio e outras atividades ao arrepio da lei. Essa história dolorosa, com divulgação de certo modo comedida na mídia internacional, configura um drama asfixiante inserido numa tragédia que enche o mundo de aturdimento, comoção e pavor, qual seja o êxodo dos milhões de cidadãos escorraçados pela insanidade humana.

E por falar em insanidade humana, vejam só o que aconteceu recentemente na Alemanha num movimento amplo de repulsa a imigrantes muçulmanos articulado por partidos radicais, de tendência nazista. Falso lance de estupro inspirou uma manifestação hostil aos refugiados. Garota de 13 anos desapareceu de casa por quase dois dias. Ao ser localizada, contou ter sido violentada por dois homens de aparência norte-africana. As redes sociais fervilharam de indignação e milhares de cidadãos inconformados com a política de acolhida aos imigrantes resolveram sair às ruas em sinal de protesto. Descobriu-se, mais tarde, que a história do estupro era improcedente. A menor havia apenas resolvido não voltar pra casa devido à circunstância de haver sido repreendida por comportamento inadequado na escola que frequentava.  Isso aí!

Os lucros do petróleo

Cesar Vanucci


“Existe uma perigosa relação nossa com a família real saudita.”
(Roberto Bowman, diretor do programa  “Guerra nas Estrelas” em duas administrações estadunidenses)

Há alguns dias andei utilizando este “minifúndio de papel” (tomando emprestada a expressão empregada com constância pelo saudoso Roberto Drumond) para reproduzir texto escrito sobre momentosa questão de anos atrás que conservou frescor de atualidade. Repito agora a dose.

O artigo que submeto na sequência à clarividente apreciação dos leitores diz respeito a uma situação considerada, não é de hoje, por experimentados analistas da conjuntura geopolítica, o “x” da questão nessa baita confusão das arábias reinante no Oriente Médio, onde a Arábia Saudita desponta como protagonista rodeado de suspeições. Foi publicado em fevereiro de 2002. Dizeres abaixo.

Em recente depoimento, um personagem acima de qualquer suspeita fornece novos e preciosos subsídios à avaliação do perigo representado pelo fundamentalismo saudita, beneficiado pela conivente cobertura dos Estados Unidos. Trata-se de Roberto Bowman, frequentador há dezenas de anos dos bastidores da política externa em seu país. Ele tem estado em constante contato com os segredos e estratégias do Pentágono e Casa Branca. Foi diretor do “Guerra nas Estrelas”, nas administrações Ford (74-77) e Carter (77-81). PHD em engenharia aeronáutica e nuclear, dirigiu o ultrassecreto Departamento Nacional de Reconhecimento de Satélites e Espionagem. Presidiu, ainda, até 1999, o Instituto de Estudos para o Espaço e Segurança. Não bastasse tudo isso, acumulou um estoque de medalhas, por haver participado de 101 missões de combate no Vietnã.

O que disse à revista “IstoÉ”, oferecendo análise panorâmica da política externa estadunidense, é impressionante. Vamos reproduzir a parte em que fala do estranho e dúbio comportamento da Arábia Saudita.

Roberto Bowman com a palavra: “Dentro da perspectiva atual dessa guerra (Afeganistão), nós, americanos, deveríamos tratar esses terroristas como criminosos comuns e trazê-los para serem julgados aqui nos EUA ou em uma corte internacional. Entrar numa guerra como essa é desaconselhável, porque eleva os terroristas ao status de guerreiros, o que eles não são. (...) O que não está sendo feito são as medidas de longo prazo que envolvem acabar com as razões pelas quais somos odiados. Isso significa resolver nossa dependência do petróleo do Oriente Médio, além de promover alternativas energéticas nos EUA. Feito isso, poderíamos mudar nossa política externa na região para não ter que apoiar ditaduras como a da Arábia Saudita. Não teríamos que apoiar nenhum governo de Israel que violasse os direitos dos palestinos. E seríamos capazes de ter uma política externa em que não tivéssemos que colocar os direitos humanos dos árabes, especialmente das mulheres, abaixo dos lucros das companhias de petróleo.”

E mais adiante: “As tropas americanas na Arábia Saudita são uma ofensa ao povo muçulmano. (...) A guerra contra o Iraque foi fabricada. (...) Levamos Saddam Hussein a invadir o Kuait. Fizemos uma armadilha para que ele caísse e depois, quando ele concordou em sair, nós não o deixamos. (...) Existe uma perigosa relação entre os EUA e a família real saudita. Nossas tropas não estão ali para defender os interesses das populações dos países na região, mas preocupadas com os lucros do petróleo.”




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