sexta-feira, 7 de agosto de 2015

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Blog do Vanucci



Achados arqueológicos fantásticos

Cesar Vanucci

“Um motivo de alegria para toda a comunidade cientifica!”
(Luiz Carlos Ribeiro, geólogo, anunciando a implantação
 de normas que protejam o patrimônio arqueológico em Uberaba)

Os dinossauros povoaram a Terra em tempos imemoriais. Alguns cientistas falam em dezenas de milhões de anos. Herbívoros ou  carnívoros, eram seres de descomunais proporções. A expressão antediluviana empregada para indicar o período de sua presença no planeta fortalece a tese de que essa espécie desapareceu por completo em consequência de alguma alteração geológica radical. Um cataclisma que, provavelmente, eliminou toda e qualquer manifestação de vida animal.

Escavações realizadas com variados objetivos em diversos lugares acusam, de quando em vez, vestígios da existência desses gigantescos sáurios naqueles tempos longínquos da história desconhecida do mundo. Uberaba, no Triângulo Mineiro, por conta das sucessivas descobertas de fósseis, tornou-se uma referência mundial em matéria de pesquisa paleontológica.

Ainda agora, o noticiário nosso de cada dia reporta-se a sensacionais achados na região durante trabalhos de terraplenagem (bairro São Bento) destinados à construção de conjuntos residenciais. Das rochas escavadas aflorou volume apreciável de esqueletos de dinossauros, datação estimada entre 80 e 90 milhões de anos. Não é a primeira vez que uma descoberta dessa magnitude é anunciada. O município e adjacências escondem nas entranhas da terra, a começar pelo distrito de Peirópolis, estendendo-se à zona urbana, indícios fabulosos da pré-história. Há décadas isso é constatado. Acostumei-me, na infância e na adolescência passadas em Uberaba, a anotar ocorrências desse gênero. Naqueles períodos ainda não havia sido reconhecida a enorme importância científica das descobertas. Foi entre o finalzinho da década de 40 e o começo da década de 50 que se deu a implantação do sitio arqueológico de Peirópolis, com a chegada do pesquisador Lewellyn Ivor Price. O aparato técnico então montado derivou de relatos (circulantes há décadas) feitos por moradores da localidade. De outros pontos da zona rural e também da zona urbana emergiam, com frequência, “restos de bichos” com características singulares. A divulgação dos fatos ficava obviamente restrita. Lembro-me, com clareza, dos vários momentos em que tive em mãos com tempo para examiná-las peças recolhidas em diferentes sítios. Entre outros, a serra da Galga, na estrada que liga Uberaba a Uberlândia, e o terreno bem no centro da cidade onde veio a ser erguido o Uberabão. Da movimentação de terra nos dois locais, com emprego de máquinas possantes e de dinamite, brotou enorme quantidade de material pré-histórico. Não foram poucas as pessoas que recolheram amostras. Possivelmente algumas delas ainda adornem mesas ou prateleiras em residências e escritórios.

Essas descobertas mais recentes na parte urbana, segundo técnicos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, dizem respeito num primeiro momento a vinte fósseis parcialmente articulados de dinossauros da família dos titanossauros, que teriam povoado a região entre 80 e 90 milhões de anos. O geólogo Luiz Carlos Ribeiro, coordenador da pesquisa, tornou conhecida oportuna recomendação do Ministério Público às autoridades municipais: sejam adotadas, daqui pra frente, normas de proteção do patrimônio paleontológico em obras ou serviços que impliquem em movimentação de terra. A partir de agora, por conseguinte, interessados na execução de obras tanto na zona urbana quanto na zona rural terão que estudar o solo e aviar diagnóstico das potencialidades geológicas. Pelos laudos ficará ou não comprovada a existência de matéria de interesse científico nas rochas. A medida representa ganho nas pesquisas. Uma coisa é certa: novas descobertas fatalmente ocorrerão.        



Peirópolis, Uberabão e Galga

Cesar Vanucci

"Crocodilo pré-histórico descoberto em Peirópolis."
(Dos jornais)

Retorno ao tema das descobertas pré-históricas em Uberaba, reproduzindo comentário feito há mais de dez anos.

Fiquei conhecendo o Lewellyn Ivor Price no começo das escavações. O hoje mundialmente famoso sítio de Peirópolis ainda não fazia parte da cartografia paleontológica. Em alguns de meus encontros com o cientista esteve presente o engenheiro José Domício Furtado, então diretor da Fábrica de Cimento Ponte Alta, pessoa dotada de muita largueza de ideias. O Domício foi quem primeiro me chamou a atenção para a existência em Peirópolis dos paredões de arenito recheados de fósseis. Os contatos com Price revelaram-se sumamente enriquecedores. O brilhante pesquisador resolveu presentear o repórter com revelações instigantes a propósito do trabalho de pesquisa processado naquele pedaço de chão da zona rural de Uberaba. Acabei desfrutando do privilégio de ser o primeiro jornalista a falar dos achados. Esmerei na preparação de reportagens, estampadas em jornais de vários lugares. Creio na possibilidade de recolocar as mãos em recortes dessas publicações, por meio de "escavações" a serem feitas nos guardados profissionais acumulados de algumas décadas.

Lembro-me bem de minhas tentativas insistentes em arrancar declaração do entrevistado acerca da viabilidade de aflorar no subsolo trabalhado, de repente, um esqueleto inteiro de dinossauro. Ele encarou com sorriso benevolente o açodamento do entrevistador e discorreu, didaticamente, sobre os aspectos tremendamente complexos de sua empreitada, envolvendo a busca e seleção paciente do material soterrado, em profundidades variadas, nas grossas camadas de arenito acumuladas por milhões de anos.

Deixem-me, agora, esclarecer que esses papos amistosos com o pioneiro das escavações, sem necessidade alguma de recorrer ao carbono 14, são de datação superior a 50 anos. O sítio arqueológico ostenta hoje o nome do eminente pesquisador. E, ainda outro dia, arqueólogos que dão continuidade à obra do patrono fizeram conhecida mais uma importante descoberta: o fóssil completo de um antepassado do crocodilo, com idade que remonta à era jurássica. Além de região considerada equiparável em relevância paleontológica a áreas escavadas dos Estados Unidos, Rússia e Patagônia, na Argentina, Peirópolis coloca-se também na atualidade  sob o foco da atenção de educadores, à vista de experiências de cunho humanístico-espiritual ali conduzidas num complexo universitário que confere primazia a conceitos disseminados pelo célebre guru indiano Sai Baba.

Observo que o abundante noticiário relativo aos sucessos científicos vividos na localidade nunca faz menção, sabe-se lá por quais razões, à circunstância de que Uberaba abriga outros pontos expressivos de potencialidade arqueológica. Um deles, bem no coração da cidade.  Local totalmente inesperado: o estádio de futebol conhecido por "Uberabão" (andei defendendo, à época de sua inauguração, fosse adotada, por motivos fáceis de serem entendidos por qualquer uberabense, a denominação de "Berababão"). Quando as motoniveladoras e as cargas de dinamite iniciaram o desbastamento do terreno, para dar configuração às arquibancadas e gerais, topou-se, ali, surpreendentemente, com razoável quantidade de fósseis de animais pertencentes a períodos remotíssimos da história. O mesmo sucedeu noutra parte do município, por ocasião dos serviços de terraplenagem para ligação do trecho Uberaba–Uberlândia, na BR 106, no instante em que as máquinas revolveram as encostas da serra da Galga. Muita gente andou recolhendo, então, pedaços volumosos de esqueletos dos antiquíssimos habitantes do lugar. A serra da Galga, na beira do trepidante caminho asfáltico, ainda conserva, toda ciosa, com seu jeito de esfinge, preciosos segredos de eras primevas da história deste mundo do bom Deus onde o diabo costuma fincar também seus perturbadores enclaves.



Cuidado com o efeito manada

Alberto Dines *

A nova prisão de José Dirceu — ex-deputado, ex-ministro e cérebro da ascensão do PT ao poder — tornou ainda mais tenso o clima político. O juiz Sérgio Moro, porém, teve o cuidado de advertir que não se deve esperar para já o exame dos dossiês dos acusados com foro especial (deputados, senadores ou governadores). Os nomes deste grupo mencionados recentemente no âmbito da Operação Lava Jato o foram por acaso, resultado das delações, não valendo como sinal da abertura formal de processos na instância apropriada – o STF.

Com isso fica evidente que o esperado confronto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, dar-se-á em outra fase da Operação – talvez a 19ª ou 22ª.

Apesar do seu extraordinário significado simbólico, neste momento José Dirceu é peça secundária no tabuleiro de xadrez. Sua segunda prisão e a consequente acoplagem entre o Mensalão e o Petrolão fatalmente pesarão nas eleições de 2016 e 2018, mas a presença de Eduardo Cunha no poleiro do poder é uma ameaça concreta, imediata, permanente, à melhoria do cenário institucional, político e econômico. A presença de um caudilho fanatizado e messiânico no comando da Casa do Povo é apavorante.

Nossa mídia vibrou na manhã da segunda-feira, 03-08, a partir do noticiário televisivo e radiofônico referente ao início da 17ª fase da Lava Jato e a ordem para prender o ex-todo-poderoso dos últimos três mandatos presidenciais. Prova da cabal evaporação do nosso senso trágico, esta euforia é um doloroso indicador da intensidade da radicalização ideológica iniciada há um ano e da irracionalidade das cassandras (de ambos os sexos) que convertem a mídia no fator exacerbador e, não, moderador.

No fim de 2003, antes mesmo de assumir a Chefia da Casa Civil da Presidência e diante de uma crise econômica tão angustiante como a atual, José Dirceu lançou no programa “Roda Viva” da TV-Cultura, a ideia de uma linha de credito especial através do BNDES para ajudar as empresas de mídia sufocadas pela falta de crédito.

Convém lembrar que àquela altura havia mais títulos nas bancas de jornais e mais empresas jornalísticas com a língua de fora – o JB, “Jornal do Brasil, o mais famoso deles. Nenhum de esquerda ou, pelo menos, “progressista”.

Nenhuma empresa ou grupo opôs-se ou condenou a manobra de Dirceu como tentativa de subjugar a imprensa. Alguns encontros foram celebrados já na esfera do BNDES procurando contornar as naturais dificuldades sempre num clima de convergência de interesses. O projeto não avançou. Felizmente para as partes e sem qualquer dissabor ou contrariedade.

Porém, doze anos depois, o político que tentou oferecer um respiro à imprensa asfixiada, sem fôlego, é linchado com incrível ferocidade pelos sobreviventes.

Ao relembrar um episódio convenientemente esquecido não se pretende minimizar os malfeitos posteriores de José Dirceu, muito menos ignorar a perversa privatização da nossa mais importante estatal.

Numa hora em que cabível seria horror ou melancolia, vale a pena acautelar-se com os perniciosos efeitos da confusão de sentimentos. Diante do adversário caído, melhor despachar as fúrias e cuidar das batalhas seguintes.

*  Escritor e Jornalista

(Extraído da edição 862 do “Observatório da Imprensa”)








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