quinta-feira, 20 de março de 2014

Absurdo atrás de absurdo

“Mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo!”
(Albert Einstein)

Os números vindos a seguir estampam um acúmulo inimaginável de absurdos. São típicos deste mundo em que vivemos, surreal sob tantos aspectos.

Dan Akerson, antigo presidente mundial da General Motors, embolsava salário de 9 milhões e 100 mil dólares anuais. Ou seja, 21 milhões, 840 mil reais. Deixou a função para continuar prestando consultoria à própria montadora por “módicos” 4 milhões e 600 mil dólares por ano. Em nossa moeda algo equivalente a 11 milhões. Quem passou a ocupar, com sua saída, a presidência da empresa, foi a engenheira Mary Barra, primeira mulher no comando da organização, contratada com o salário de 4 milhões e 400 mil reais, inferior à remuneração atual de seu antecessor pelas tarefas de consultoria.

As primeiras situações absurdas detectadas decorrem, naturalmente, dos valores que acabam de ser enunciados. São valores que escancaram a abissal diferença existente, a bem da verdade em tudo quanto é lugar, entre quem é colocado no topo e quem é colocado no piso do sistema salarial vigente, mesmo que não saibamos neste momento qual vem a ser o salário mínimo na GM. Não fica difícil pra ninguém comprovar o desnível injusto dos padrões salariais adotados tanto em organizações públicas quanto privadas. Trata-se de uma insensatez que, nalgum momento futuro da trajetória humana, terá que ser fatalmente corrigida.

Cabe registrar agora outra absurdidade. O salário que a GM pagava ao antigo presidente é infinitamente superior ao que ora é pago pelas mesmíssimas tarefas à presidenta, um e outro, já visto, elevadíssimos O episódio é revelador de uma tendência universal, inexplicável à luz do bom senso, de se atribuir gratificação diferenciada ao esforço produtivo de homens e mulheres. Tudo funciona naquela manjada base daquele refrão publicitário antigo, bem maroto, de uma marca de chocolate, que distribui um “delicado” pra elas e dois ou muito mais “delicados” pra eles. Prática genuinamente machista provinda de tempos antediluvianos, incompatível com tudo aquilo que as lideranças costumam teorizar, em ocasiões solenes, na exaltação dos princípios fundamentais que conferem dignidade a pessoa humana.

A disparidade salarial foi classificada, dia desses, pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como um “constrangimento”. A mulher – asseverou – merece o mesmo pagamento pelo mesmo trabalho. A jornalista Mariana Queiroz Barbosa menciona o fato em reportagem da “IstoÉ” repleta de registros numéricos comprobatórios do abismo salarial prevalecente entre homens e mulheres.

Creio que o leitor concordará com a observação de que a expressão “constrangimento” é por demais branda para classificar o que realmente rola no pedaço. O que os dados levantados pela jornalista projetam deve ser definido como um desproposito sem tamanho. Como uma indecência. Vejam só se não tenho razão! No mundo de hoje a distância remuneratória entre gêneros é, em média, de 22.8%. No Brasil, o indicador é um pouco maior: 27%. Há 10 anos, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho) a coisa mostrava-se pior ainda: 36.4%. Santa Catarina é o Estado com a diferença mais gritante: 34.2%. Já o Amapá, surpreendentemente, é a unidade da Federação que registra a diferença menor: 6.7%.

Para reflexão geral seguem mais esses elementos informativos. Praticamente em todas as partes do planeta o abismo salarial entre homens e mulheres, mal ou bem, tem decrescido. Menos – ora, veja, pois! – em Portugal, onde só tem feito crescer de ano para ano. Na Itália, a diferença fica abaixo de 10%. Nos Estados Unidos chega a 23%. Na União Europeia cai: 16.2%. Mas isso não impede que na Alemanha e na Inglaterra atinja mais de 20%.

Recordando o empenho incessante, muitas vezes infrutífero, dos homens e mulheres de boa vontade no sentido de libertar o mundo dos grilhões dos inúmeros preconceitos odiosos que o asfixiam, entre os quais se avulta o machismo, caracterizado aqui numa de suas facetas mais notórias, somos levados a um registro lapidar de alguém nada menos que Albert Einstein: “Época triste a nossa em que é mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo”.


O todo poderoso “mercado”

 "A Bolsa despencou por causa de um feriado nos Estados Unidos."
(É o que propalou a mídia, algum tempo atrás)

As pessoas que desejam o melhor ao Brasil, notadamente as que atuam na comunicação social, bem que poderiam firmar um pacto no sentido de desmistificar e desqualificar as forças contrárias aos interesses nacionais que se movimentam por aí, com irresponsável desenvoltura, travestidas de "mercado".

Fico pasmado, dia sim outro também diante das reações cotidianas do tal "mercado". Onipotente, esse ser incorpóreo, com lampejo de vida estritamente ectoplásmico, é “convocado” a opinar a respeito de tudo, Ele funciona como uma espécie de sismógrafo viciado, medindo a conjuntura econômica a serviço escancarado dos grupos de assalto especulativo. Interpreta as coisas a seu exclusivo talante. Não se dá ao mais leve escrúpulo de disfarçar as contradições gritantes dos posicionamentos de encomenda. Mantém sob controle, a soldo, um batalhão de prestimosos colaboradores. Gente fervorosamente engajada em esforço conspiratório contrário às nossas aspirações de progresso. É só por tento no que tais colaboradores, que atendem pelos apelidos de "analistas", agências de risco etc., costumam aprontar a cada vez que nas áreas política, administrativa, tecnológica, produtiva – considerados aí os setores produtivos primário, secundário e terciário – se delineiem iniciativas ou atitudes estimuladas pelos interesses brasileiros de caráter desenvolvimentista. Tudo serve de pretexto para as soezes tentativas de apequenar-nos diante de nossos próprios olhos. Para fazer-nos crer que, os brasileiros, somos ineficientes, despreparados, sem condições, portanto, de almejar acesso a brevês que assegurem autonomia de voo mais ampla na conquista de novos espaços econômicos e sociais no contexto mundial.

O monitoramento feito pelo "mercado" é tendencioso e implacável. Por inexistir uma constatação à altura das impertinências praticadas, o "mercado" passa a ideia de infalibilidade. Defende com fervor frenético seus bolorentos dogmas. Suas reações têm força, para alguns, de édito real ao tempo em que as monarquias eram levadas a sério. São recebidas como clausulas pétreas no contrato comunitário em círculos não afeiçoados ao exercício da divergência democrática. Em face dessas circunstâncias, o "mercado" não se acanha de insultar a inteligência dos cidadãos, de alvejar despudoradamente o bom senso. Ele, "mercado", sabe muito bem que suas opiniões encontram sempre boa divulgação, agências de risco para respaldá-las, porta-vozes solícitos para justificá-las.

O "mercado", visto está, não se peja um tiquinho que seja, em lançar mão de arguições absurdas, quando colocado diante de pedidos de explicações dos setores mais lúcidos da opinião pública, com relação ao que ocorra de estranho na economia. Mantém engatilhado um pretexto extravagante para ocultar os incessantes ataques especulativos acobertados. Está aqui, como amostra, um exemplo dos procedimentos escalafobéticos que adota, sempre confiante na extremada simploriedade popular.

Num momento de razoável euforia face aos anúncios da ligeira reação nos negócios, da expansão significativa na balança comercial, da superação prematura da meta do "superávit primário"; justo nesse preciso momento, tempos passados, a Bolsa despencou. As taxas do dólar e do euro se elevaram e o "risco Brasil" (olha aí!) subiu. O que foi mesmo que o "mercado" saiu apregoando a respeito? Acredite, se quiser: a "causa" de toda a ebulição negativa foi um feriado ocorrido no meio de semana nos Estados Unidos.

A "explicação" é dada assim, com a mesma cara-de-pau com que se estaria levantando a hipótese maluca de que os "resultados adversos" decorreriam de uma crise de disenteria que acometeu os habitantes de uma vila na parte setentrional da Capadócia.

Valha-nos Nossa Senhora da Abadia D'Água Suja!



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