sexta-feira, 25 de março de 2011

Feito científico notável

Cesar Vanucci *

“Pode-se trabalhar, sim, com ciência no Brasil.”
(Jacob Palis, matemático, agraciado com o “Prêmio Balzan”)

Equivocadamente absorvida, na sua relevante tarefa de retratar o cotidiano, em lances menos edificantes das ações humanas e em “celebridades instantâneas” que geralmente chamam a atenção do público por reações estapafúrdias, a grande mídia acaba ignorando, frequentemente, histórias pessoais sumamente enriquecedoras do ponto de vista da construção humana.

A preferência manifesta pelo sensacionalismo barato não deixa sobrar, no mais das vezes, espaço para vozes, feitos e imagens que sugiram esperança e expressem confiança no destino do ser humano.

Temos aqui bem à mostra nova e eloquente prova desse menosprezo habitual da mídia a realizações que exaltem a inteligência e a cultura, vale dizer, celebrem a vida. A parca divulgação, melhor dizendo, a divulgação nenhuma que se viu da conquista recente por um cientista brasileiro, mineiro de Uberaba, de prêmio internacional cobiçadíssimo. A láurea em questão, “Prêmio Balzan”, é concedida anualmente a pesquisadores de escol vinculados a diferentes áreas do conhecimento. Instituída pela “Fundação Balzan”, na Itália, é considerada das mais importantes condecorações conferidas ao talento e criatividade intelectual em todo o mundo.

Jacob Palis, uberabense de boa cepa, atual presidente da Academia Brasileira de Ciências, reconhecido como um dos mais brilhantes matemáticos dos tempos modernos, foi agraciado, em 2010, com o “Balzan”. Juntamente com três outros cientistas de renome internacional: Carlo Ginzburg, italiano, por estudos no campo da História européia, Shinya Yamanaka, japonês, por pesquisas com células-tronco, e o alemão Manfred Brauneck, por trabalho sobre a história do Teatro. Antes de Jacob apenas matemáticos estadunidenses e europeus haviam sido premiados.

A pesquisa que lhe rendeu o Prêmio é apresentada pelos entendidos como uma fórmula matemática revolucionária. Diz respeito a uma interpretação diferente de tudo quanto cientistas já colocaram no papel acerca da chamada “Teoria do Caos”. A Teoria em causa explica o funcionamento de sistemas complexos em transformação contínua. Em sistemas dinâmicos dotados de complexidade, determinados resultados podem se revelar “instáveis” no que diz respeito à evolução temporal como função de seus parâmetros e variáveis. Isso significa que certos resultados determinados são causados pela ação e a interação de elementos de forma praticamente aleatória. Pra entender o significado do que está sendo dito, basta pegar um exemplo na Natureza, onde tais sistemas são comuns. A formação de uma nuvem no céu, por exemplo, pode ser desencadeada e se desenvolver com base em incontáveis fatores: o calor, o frio, a evaporação da água, os ventos, o clima, as condições do sol, os eventos sobre a superfície, por aí.

E como foi que este escriba ficou a par dessas coisas todas? Elementar, caro Watson: recorrendo à Wikipédia. A enciclopédia livre fornece informação abundante sobre a Teoria, fazendo, entre outras revelações, que muitas coisas percebidas pelas pessoas como mero acaso constituem, na realidade, fenômeno que pode ser representado por equações matemáticas. Os maiores cérebros da ciência, Einstein naturalmente incluído, ocuparam-se do tema.

O trabalho do cientista brasileiro lança novas luzes nas questões propostas pela Teoria. As hipóteses levantadas impressionaram vivamente os responsáveis pela outorga do prêmio. Do autor há que se dizer ainda que faz parte, como engenheiro e matemático, das maiores Academias de Ciência do planeta, em todos os continentes. É professor titular do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), do qual já foi também diretor, colecionando pelo seu saber invulgar lauréis nacionais e internacionais que bem poucos cientistas no mundo lograram obter.

Na abalizada opinião de Palis, pode-se trabalhar, sim, com ciência no Brasil. Ele acha possível aos cientistas chegarem a patamares bastante elevados nos estudos ficando no Brasil. Ninguém precisa deixar o país para realizar com êxito suas pesquisas, afiança. Palavras suas textuais: “Já orientei mais de 40 teses de doutorado no Brasil. Boa parte delas tem padrão internacional.”

Palis receberá o “Balzan” agora em novembro na Itália. Conheci-o, garotinho ainda, aluno do Colégio Diocesano, morador do casarão da rua Arthur Machado pertencente aos pais, seu Jacob e d. Samis, de saudosa memória, cidadãos que desfrutavam de invejável conceito no apreço e carinho da comunidade uberabense. Ponho-me a imaginar, jubilosamente solidário, a enorme emoção que seus parentes, entre eles os irmãos Fádua, Wilmar, Lauanda, Tereza, José,  vivem neste momento especialíssimo na justa comemoração do notável feito do genial Jacozinho.

* Jornalista (cantonius@click21.com.br)

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