quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Itinerário difícil e árduo

 



 

*Cesar Vanucci

 

A solução da crise só será duradoura com a criação de um Estado palestino, reconhecido como membro pleno da ONU”.                                                                                                                                               (Presidente Lula)

 

A comparação do conflito em Gaza com o Holocausto, feita pelo Presidente Lula, ganhou compreensivelmente repercussão negativa. Mas, outra fala de Lula, ainda na Etiópia, pouco antes da malfadada e duramente criticada entrevista, produziu efeito diametralmente oposto.

Reportando-se à guerra que galvaniza as atenções, o Presidente fez correta avaliação de múltiplos aspectos do litígio, refletindo o modo de ver de parcelas majoritárias da opinião pública universal. O pronunciamento, numa conferência com chefes de Estado africanos, pode ser assim sintetizado: 1) Ser humanista, nestes tempos conturbados, é condenar com veemência o ato terrorista do Hamas em território Israelense, matando inocentes e sequestrando civis; 2) ser humanista, nestes tempos belicosos, é rechaçar igualmente a resposta desproporcional do Estado de Israel, que já vitimou 30 mil palestinos na maioria mulheres e crianças; 3) ser humanista, nos tempos de hoje, é clamar pela libertação dos reféns e pela trégua humanitária; 4) ser humanista, nestes tempos tumultuados, é admitir sem titubeios que a solução para a crise só será duradoura com a criação do Estado da Palestina.

 Estas considerações devem ser acrescidas, para melhor entendimento do assunto, de informações relevantes. Os conceitos expendidos pelo Presidente do Brasil no pronunciamento estão em sintonia com manifestações da quase totalidade dos países da ONU. Fazem parte de numerosas resoluções acolhidas por votação maciça em plenário, embora não conseguissem prosperar devido a vetos isolados.

É oportuno enfatizar, ainda, que a Assembleia da ONU definiu, já em 1948, a criação dos Estados de Israel e Palestina, nutrindo mais do que um desejo, uma inquebrantável esperança de que as duas pátrias pudessem conviver para sempre em harmonia. Israel tornou-se potência de primeira grandeza política e econômica. Mas, a Palestina, transcorridos mais de 70 anos, não ganhou o espaço prometido, tão almejado, no atlas geográfico, pelo menos até agora. O processo de implantação definitivo da Palestina com limites geográficos bem precisos, identidade própria e tudo mais que sirva para assegurar legitimidade a uma Nação no concerto mundial, esbarra em ferrenhos obstáculos. Decorre daí a lentidão, pode-se dizer mesmo, o andamento acovardado, com que são conduzidas, nas altas esferas decisórias mundiais, as articulações com vistas a tornar realidade o sonho ardente de milhões de palestinos. Uma gente espezinhada que perambula pelos descampados da vida, sem eira nem beira, recolhidos, boa parte deles, nos campos de refugiados de terras alheias.

Por mais estranho que seja, entre os que se opõe tenazmente à existência  da Palestina aparecem com destaque os próprios contendores deste conflito feroz que ensanguenta o Oriente Médio. Hamas, Hezbollah e outros grupos terroristas engajadas no conflito não aceitam o Estado da Palestina. Sua iracunda obsessão é a completa destruição do Estado de Israel. Por sua vez os governantes de Israel já deixaram manifesta em várias ocasiões radical oposição à ideia da estruturação, nos termos previstos pela ONU, do Estado da Palestina. Os contínuos assentamentos de colonos na Cisjordânia, em desafio aberto à ONU e comunidade das Nações, representão prova contundente desta censurável postura.

Pelo que se vê o itinerário a ser percorrido na busca de solução ideal para se interromper o interminável ciclo de contendas naquele cenário - o mais Sagrado da historia da civilização -, compreende, infalivelmente as etapas seguintes: cessação das hostilidades, devolução aos Palestinos das áreas indevidamente entregues a colonos israelitas, negociações com muito diálogo e participação das lideranças globais, aceitação e reconhecimento amplo, geral e irrestrito da Palestina como Estado.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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