sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

O 8 de janeiro

 

  

Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em             tempos” (Winston Churchill).

 

 Dia 8 de janeiro de 2023. Está fazendo um ano. Os graves acontecimentos vividos na Capital da República na data citada deixaram marcas impactantes na história do País. A Democracia foi vilmente alvejada. Conspiradores de meia e de tigela inteira (estes últimos até poucos dias anteriores aos fatos reportados “engarupados” em postos de relevância na atividade pública) tentaram subverter a ordem constitucional, violentando a vontade popular soberana manifesta nas urnas, negando os valores civilizatórios basilares expressos na Carta Magna.

 O 8 de janeiro constituiu o ápice de uma sequência de atentados anarquistas. Insuflados por minoritária falange ultra – direitista, uma horda de arruaceiros, incluindo “inocentes úteis” analfabetizados, invadiu as sedes dos 3 Poderes, destruindo ativos patrimoniais valiosos, conspurcando emblemas e símbolos sagrados da nacionalidade.

 A baderna encomendada, desencadeada por indivíduos transportados em ônibus procedentes de várias regiões, representou uma espécie de senha combinada para que o caos se instaurasse, segundo cálculo errático dos autores intelectuais da criminosa tramoia.

 Já antes dessa ignominiosa façanha, os golpistas haviam executado manobras preparatórias de feição terrorista: incendiaram veículos, invadiram repartição policial, ameaçaram autoridades, coloram explosivo (a tempo, felizmente, desativado) num caminhão tanque estacionado no aeroporto de Brasília, bloquearam estradas, propalaram, insidiosamente, pelas redes sociais, inverdades sobre a lisura das eleições. Espalharam como sabido, inclusive no exterior, que as urnas eletrônicas estavam sendo fraudadas pela Justiça Eleitoral.   

 A nauseante ofensiva dos radicais fracassou rotundamente. O sentimento nacional falou mais alto, bem mais alto. As Instituições Republicanas reagiram de forma pronta e esplêndida. A sublevação das ruas desejada pelo golpismo não passou de um delírio paranoico. Governo, Congresso, Judiciário deixaram de lado ocasionais divergências, próprias do mecanismo republicano, contando com sólido apoio de todos os setores representativos da sociedade, rechaçaram com veemência e altivez a maquiavélica sortida do bando de fanáticos políticos. O mundo democrático hipotecou imediata solidariedade às autoridades e ao povo brasileiro pela reação assumida diante do complô.

 A Justiça, defendendo com vigor os postulados democráticos, estabeleceu punições - por muitos consideradas severas - aos participantes das depredações, que se diziam “patriotas”. Como fecho indispensável de investigações ainda em curso, ficou restando o indiciamento dos financiadores e dos autores intelectuais da conspiração.

 As lembranças suscitadas pelas ocorrências do 8 de janeiro ajudam a avivar na consciência cívica da Nação o sublime significado da Democracia na aventura humana. Os democratas das diferentes tendências partidárias, em qualquer parte do mundo, abominam os regimes de exceção de qualquer coloração. Cultuam crença granítica de que a Democracia, mesmo comportando imperfeições ditadas pelas contradições comportamentais dos seres humanos, é o único instrumento de governança compatível com a dignidade das pessoas. Nenhuma outra das formas de gerir os destinos dos povos, já experimentadas, aqui e alhures, demonstrou condições de iguala-la. Quem captou, admiravelmente, esse conceito, transformando-o em pronunciamento memorável na Câmara dos Comuns foi Winston Churchill.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com)

 

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