sexta-feira, 12 de março de 2021

 







O ESPLENDOR DA MULHER FARDADA NA 

POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

   João Bosco de Castro


Até o terceiro quartel do Século XX, mais enfaticamente, a Mulher padeceu preconceitos e estereótipos, mundo afora, acentuadamente no Brasil, como se ela fosse minúsculo vivente, ou ser meramente utilitário, ou femeazinha qualquer restrita à procriação e às coisas e quefazeres domésticos, à moda de boneca de redoma, cozinheira, lavadeira e bordadeira. Fora de casa, ela trabalhava muito pouco. Algumas poucas, para a felicidade de todas as pessoas, até dos machos-machistas, podiam formar-se para Professora Primária no magnífico e insuperável Curso Normal das insuperáveis e magníficas Escolas Normais ─ como as de Pará de Minas, Dores do Indaiá, Pitangui, Bom Despacho, Itapecerica, Divinópolis, Belo Horizonte (naquele modelar e saudoso Instituto de Educação) ou Ibirité (naquela estrondosamente espetacular e austera Fazenda do Rosário, de Helena Antipoff, Abgar Rénault, Elza de Moura e Saul Alves Martins). Tais Mestras do Melhor Jaez garantiram a Pindorama e Pindoramuaras ─ machos e fêmeos ─ a sorte do respeitado estudo de Aritmética, Linguagem, Redação, Literatura ─ gostosamente, a Infantil ─, Ciências Biológicas, Geografia, História, Conhecimentos Gerais e Bons-Modos. Tais Construtoras da Educação Básica Brasileira, respeitáveis Mulheres, quase sempre esquecidas, lograram alguma referência de mérito ou reconhecimento social, como de Ataulfo Alves, na letra poética de “Meus Tempos de Criança...”! Uma felizarda, a indômita e plurivalente Professora Dona Zulma Corrêa Couto, mereceu a marca de “Máter et Magistra”: maravilhoso Poema contido no Livro dele homônimo, escrito e publicado, em 2015, por seu Filho, nosso excelente Poeta Coronel José Guilherme do Couto. 

 Afora isso, a Mulher ficava à mercê do preconceito e estereótipo cáusticos, trancafiada em casa para a trabalheira no tanque, agulhas de coser, copa, cozinha, ferro de passar, além dos urdumes de marido e filharada.

 Vestir farda?! ─ Não! Cruz-Credo! Isso é pra homem...

 Policiar?! Subir ladeira e prender bandido?! ─ De jeito nenhum! Mulher não foi feita pra isso...

 Em minhas pesquisas na Literatura Brasileira sobre a Mulher Fardada no Brasil, encontrei somente dois registros, ambos machistas, absurdos e incovenientes. Nos domínios de Minas Gerais, em 1931, o Itabirano Carlos Drummond de Andrade (então Chefe de Gabinete do Secretário do Interior Gustavo Capanema Filho, no majestático e irretocável Governo de Olegário Dias Maciel) escreveu e publicou, na página 12 do Minas Gerais (Diário Oficial do Estado) de 18 de junho do mencionado ano, as zombeteiras, impiedosas e machistas páginas de “Contra a Polícia Feminina”, crônica satirizante da imagem institucional da Polícia e detratora da Dignidade Feminil, além de presunçosamente contrária à Polícia Feminina, ainda, até então, inexistente no Brasil. Em 1987, a Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, patrocinada pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, republicou-a em “Crônicas [de Carlos Drummond de Andrade], 1930-1934”(Belo Horizonte:Barba Azul, 288p.), em suntuosa edição de apenas mil exemplares, um dos quais, no mesmo ano, destinado à minha Biblioteca. Pelas Terras da Bahia, em 1962, Alfredo de Freitas Dias Gomes lançou a maravilhosa peça “O Bem-Amado”, na qual se lê deprimente e deletério diálogo entre o cangaceiro Capitão Zeca-Diabo e a Delegada de Polícia de Sucupira Chica Bandeira. Conversa lamentável: o cangaceiro chama a Delegada Chica, sempre bem-fardada e rigorosamente alinhada e armada, de macaco de saia (macaco, na linguagem nordestina, a partir da Bahia, é soldado de polícia, meganha, soldado amarelo, policial militar): macaco de saia é soldada de polícia, Mulher Fardada. A reposta da Delegada Sucupirana ao cangaceiro foi severa e irretocável: “Pois saiba que, mesmo de saia, sou tão homem quanto o senhor. E esse é um caso de Polícia. (...) O senhor está preso!”

 A própria Mulher de então considerava absurdo ser ela destinada ao exercício dessas fainas tachadas de exclusivas ao Homem, embora sofresse com referidas restrições, hoje tidas como preconceituosas, mas ela mesma não fazia nada para livrar-se delas. 

 Como em toda a parte do Brasil, nos quartéis ─ inclusive nos da Polícia Militar de Minas Gerais ─, o machismo topetudo roncava alto e grosso, infelizmente. 

 Súbito, em 1981, nossa Corporação Policial-Militar Mineira instituiu a Companhia de Polícia Feminina e deitou apropriadas e necessárias pás de cal aos grunhidos machistas embutidos na deletéria crônica de Drummond e nos arroubos cascudos e preconceituosos dos muitos capitães-zecas-diabos à moda lamentosa daquele energúmeno descrito pela criativa pena de Dias Gomes. Em pouco tempo, nossa respeitável Mulher Fardada, mercê de sua aguda inteligência, gentileza, coragem, pertinácia e capacidade prática de organização e controle, sufocou a insustentável e incoerente jactância machista e provou-se policial-militarmente igual ao Homem Fardado, respeitadas as particularidades naturais de cada gênero. 

 Ao longo de seus quarenta anos de atuação pública e modelar na diuturna Fornalha da Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública, a par das missões constitucionais de Defesa Interna e Territorial, nossa Mulher Fardada, inclusive nos Quadros de Saúde e de Especialistas, da Soldada à Coronela, construiu sua História Tecnoprofissional consentaneamente com os parâmetros da Dignidade Policial-Militar norteados pela Ética e Deontologia, com vistas na Tranquilidade Pública e Paz Social dos Cidadãos, Entidades e Instituições, em oitocentas e cinquenta e três cidades e mais de três mil Distritos da vastíssima Rede Municipalista Mineira. Isso consolida a honorabilidade e a glória, a imagem e o decoro de nossas notáveis e bravas Servidoras de todos os Quadros de Pessoal Militar da Corporação do Alferes Tiradentes. 

 Coincidentemente com as celebrações dos quarenta anos de exercício idôneo e profícuo de nossa Mulher Fardada, a Polícia Militar de Minas Gerais confia, a partir de 4 e 5 de fevereiro de 2021, repectivamente, as excelsas Gestões Estratégicas de sua Corregedoria-Geral à Coronela Silma Regina Gomes da Rocha Oliveira e de seu Sistema de Educação Policial-Militar com o efetivo Comando da Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro ─ nossa exemplar Universidade de Policiologia e Ciências Militares da Polícia Ostensiva, remanescente do sublime Departamento de Instrução, o D.I. ─ à Coronela Cleyde da Conceição Cruz Fernandes. Pela primeira vez, a moderna Gestão da Imagem Eticodeontológica e Disciplinar de Oficiais e Praças da Corporação e o Comando da Nobre Escola do Prado Mineiro, elevados cargos da Estrutura da Polícia Militar das Alterosas, exatamente por deterem a competência para realizar, respectivamente, o Burilamento Deontológico e a Profilaxia Ética ─ pelo Código de Ética e Disciplina e Diplomas e Regulações Jurídico-Penais indispensáveis à vigilância da compostura e saneamento da Conduta Policial-Militar de Servidores e Servidoras Militares ─ e o Comando da Nobre Escola do Prado Mineiro ─ pela Gestão Estratégico-Pedagógica da Educação (Ensino, Pesquisa, Extensão e Treinamento) de Polícia Militar, nos Cursos e Programas Tecnoprofissionais de Graduação e Pós-Graduação para Qualificação (Capacitação e Habilitação) e Atualização do Quadro de Pessoal Militar, são entregues a duas Mulheres Fardadas ocupantes do mais elevado posto da Escala Hierárquica da Polícia Militar de Minas Gerais. Integrantes das proativas e extraordinárias Turmas de Aspirantes de 1997 e 1995, as Coronelas Silma e Cleyde, por força de sua inteligência, indiscutível capacidade gestorial, autonomia ética, prudência, convicção deontológica, diversificada experiência tecnoprofissional em segmentos operacionais e administrativos da Corporação, garbo militar irretocável e conduta pessoal nutrida em elegância, postura, cordialidade e compostura, conduzirão a respeitável Corregedoria-Geral ao zênite da autenticidade e legitimidade da Idoneidade e Consciência Policial-Militares, segundo os melhores parâmetros de Justiça, Hierarquia e Disciplina, e a renomada Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro ao sucesso digno da Presteza e Boa-Fama da Melhor Escola de Comandantes e Artífices da Paz Social da América Latina. Deus as abençoe, ilumine e guarde no cumprimento pleno e magistral destas notáveis Missões Policial-Militares de Corregedora e Educadora!

 Os Homens Fardados da Polícia Militar de Minas Gerais, na amplidão da excelência de todos os Quadros Tecnoprofissionais da Estrutura de Pessoal Militar da PMMG (QOPM, QPPM, QOE, QPE e QOS), reflitam sobre a necessidade sociopolítica e importância teleológica de sua profissão essencial ao Desenvolvimento Humano, Tranquilidade Pública e Paz Social, qualifiquem-se, requalifiquem-se, aperfeiçoem-se e façam o melhor em seu desempenho tão esmerado quão louvável, porque as Mulheres Fardadas de todos os mencionados Quadros de Pessoal Militar de nossa Corporação já nos dão sobejas provas de sua plena capacidade tecnoprofissional de pensar e repensar a Essência Policial-Militar. Elas, como qualquer dos melhores Homens Fardados, planejam, controlam, coordenam, comandam, modernizam e executam, com primor tecnoprofissional, lucidez intelectual e rigor ético, Programas de Gestão de Políticas Públicas diversas e Projetos Policial-Militares, na Atividade-Meio e Atividade-Fim, principalmente nesta, para efetividade e glória das Ações e Operações de Polícia Ostensiva, Preservação da Ordem Pública e Defesa Interna e Territorial. Eficiência e espírito crítico, inteligência e presteza total para ser últil à Comunidade, organização metodológica e disciplina consciente, coragem, lealdade e devoção ao Serviço Policial-Militar são virtudes excelsas e comuns aos Homens Fardados e às Mulheres Fardadas da Polícia Militar Mineira, na balança da igualdade, porque nada, nesses domínios didáticos, éticos e deontológicos, diferencia macho de fêmea. 

 Aqui no Brasil, desde os primeiros anos da organização da Ilha de Vera Cruz, as mulheres marcam ponto muito alto, extramuros: fora da redoma e da cozinha. No falido projeto monárquico de Dom João III, Rei de Portugal, logo após o heroico achamento destas abençoadas Terras, dentre todas as Capitanias Hereditárias de 1534, apenas duas prosperaram: a de Pernambuco ─ nela embutidas as glebas correspondentes ao atual Estado da Paraíba ─, governada por Dom Duarte Coelho Pereira, e a de São Vicente ─ hoje, São Paulo, mais o quinhão agora conhecido como Estado de Minas Gerais ─, entregue ao Fidalgo Militar Dom Martim Afonso de Sousa. Exatamente as duas Capitanias governadas e administradas por mulheres! Dom Duarte Coelho Pereira, doente de piorreia e preguiça extrema, retornou à Metrópole, sem nunca mais ter retornado ao Brasil, após haver passado as rédeas de Pernambuco-Paraíba à intrépida, inteligente e trabalhadora Dona Brites de Albuquerque Pereira, sua esposa, a indiscutível gestora dos melhores êxitos dos empreendimentos açucareiros, para a felicidade de pernambucanos e paraibanos. Daí, a expressão “Paraíba masculina, mulher-macha, sim, Senhor...”! Martim Afonso de Sousa, campeão em certames de bebedeira, jogatina e rabo de saia, totalmente avesso a tarefas de responsabilidade e suor, seguiu, ainda em 1534, para as Índias, onde assumiu o Comando-Geral das Forças Portuguesas em Goa, e deixou sua Capitania Hereditária sob o inteligente, zelozo e profícuo bastão de sua empreendedora e incansável esposa, Dona Ana Pimentel, cujas mangas suadas e arregaçadas de gestora admirável levaram São Vicente, atual Estado de São Paulo, ao sucesso econômico. O Brasil começou a dar certo, ainda no Século XVI, graças ao brio e à multivalência dessas duas primeiras e grandes Capitãs Brasileiras ─ na verdade, Capitãs Portuguesas: desbravadoras de boas partes de Pindorama, ou Ibirapitã, ou Arabutã, ou Irabutã, ou Orabutã = nomes tupis de nosso cobiçado e pouco amado Brasil...

 Em 1930, para apoiar a Revolução Liberal favorável a Getúlio Vargas na Presidência da ainda República dos Estados Unidos do Brasil, Belo Horizonte compôs e manteve destemidos Batalhões Femininos, sob as ordens enérgicas, cívicas e sábias da Generala Elvira Kommel, com suas coronelas, majoras, capitãs e tenentas, sargentas , furrielas e soldadas, primorosamente treinadas por bravos Oficiais ( naquela época, não tínhamos, ainda, em nossos Quadros, nem oficialas, nem praças: sargentas e soldadas...) da imbatível e leal Força Pública do Estado, a atual Polícia Militar de Minas Gerais. De suas tropas de mulheres em fardas de brim cáqui, empenhadas nos Hospitais de Sangue da Capital Mineira, sobressaiu o Batalhão Feminino João Pessoa, atuante em cinquenta e dois Municípios das Alterosas, dentre os quais Belo Horizonte, Sede da Generala Feminista. 

 Nestes quarenta anos de sua existência tecnoprofissional altiva, honesta, profícua, humana e humanizante, inteligente, bem-estruturada, efetiva e afetiva, a Mulher Fardada da Polícia Militar de Minas Gerais é vivo exemplo de Servidora Militar autêntica, legítima e essencial à Vida Mineira, pela pujança dos Misteres Constitucionais da referida Corporação Policial-Militar do Alferes Tiradentes: Símbolo de Órgão Público Majestático e necessário à Paz Social, ao Progresso, à Grandeza Política e Social deste Estado-Membro e do Brasil, no ardor prestante da Polícia Ostensiva, Preservação da Ordem Pública e Defesa Interna e Territorial.

 O esplendor dessa Mulher Fardada Mineira decorre de seu desempenho primoroso, confiável e eclético, em razão de ter sido cinzelado e burilado segundo os mais modernos e eficazes Projetos Estratégico-Pedagógicos de Graduação e Pós-Graduação Policial-Militares para os Cursos e Programas de Qualificação, Requalificação e Treinamento planejados, coordenados, ministrados e geridos pela Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro e respectivas Unidades integrantes do modelar Sistema de Educação Tecnoprofissional da Polícia Militar de Minas Gerais. Todo este bem-engendrado Protocolo de Qualificação de Pessoas somente alcançou os melhores resultados, porque se apoiou no mais transparente, fidedigno, moderno e rigoroso Processo de Recrutamento e Seleção de Candidatos e Candidatas às Fileiras da Polícia Militar de Minas Gerais. Por isso, dá gosto e orgulho ver nossa Mulher Fardada, com eficiência, garbo e zelo, nas Ações e Operações das diversas modalidades do Policiamento Ostensivo-Militar, ou como primorosas musicistas das Bandas de Música Militares e das duas Orquestras (principalmente Orquestra Sinfônica da Polícia Militar , criada e instalada, em 1949, pelos Coronéis Egýdio Benício de Abreu e José Vargas da Silva), ou como atenciosas e bem-qualificadas Servidoras ─ dentre Oficialas e Praças ─ de nosso valoroso e insuperável Quadro de Saúde ( Técnicas em Enfermagem, Enfermeiras, Farmacêuticas, Psicólogas, Odontólogas, Médicas e Médicas Veterinárias...), no Hospital da Polícia Militar e Núcleos de Assistência Integrada à Saúde de Companhias Independentes, Batalhões e Regiões de Polícia Militar, e nas Clínicas e Núcleos de Saúde Veterinária do Canil da Polícia Militar e do Regimento de Cavalaria Alferes Tiradentes (RCAT) ─ sumo histórico, indelével e palpitante da belíssima e entusiástica trajetória pública desta Corporação gloriosa e pronta para a Felicidade Pública Mineira, desde os albores de 1775, sob a luz cívica e patriótica dos Feitos e Ensinamentos espalhados pelo Alferes Joaquim José da Silva Xavier. 

 Parabéns, Mulher Fardada da Polícia Militar de Minas Gerais ─ Mãe, Esposa, Irmã, Filha, Colega e Conselheira... ─ : Emblema da Decência e da Coragem! Você é importante sustentáculo da Imagem e do Renome de nossa respeitável e altaneira Corporação Policial-Militar!

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