sexta-feira, 13 de setembro de 2019

O que anda rolando por ai

Cesar Vanucci

“Esse sentimento de desavença (...) dividiu o país”.
(Bruno Covas, prefeito de São Paulo)


Como anota o escritor e ensaísta britânico Gilbert Chesterton, as idéias antecedem as palavras e as palavras antecedem as ações. Lícito deduzir-se daí que as palavras desencadeiam sentimentos e emoções capazes de influenciar atitudes e procedimentos na vida cotidiana. Conseguem esculpir conceitos de vida.

Pinçadas a esmo, as manifestações alinhadas na sequência abaixo, algumas bastante insólitas, fornecem boa amostragem do que vem rolando, na atualidade, no pedaço brasileiro.

Diálogo, pra dizer o mínimo, desconcertante, dia desses travado pelo presidente Jair Bolsonaro com um repórter do jornal “Valor Econômico”: - Presidente, é possível crescer com preservação? / - Lógico que sim. / - Como? Se tem que alimentar e ... / - É só você deixar de comer menos um pouquinho. Você fala pra mim, por exemplo, em poluição ambiental, é só você fazer cocô, dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também.

A declaração que se segue foi dada também pelo presidente Bolsonaro no ato da entrega, em Pelotas, Rio Grande do Sul, de um trecho duplicado da BR-116. “Há anos um terminal de conteiner no Paraná, se não me engano, não sai do papel porque precisa agora também de um laudo ambiental da Funai. O cara vai lá, se encontrar – já que está na moda – um cocozinho petrificado de um índio, já era, não pode fazer mais nada ali”.

Do jornalista e ex-embaixador Tilden Santiago: “Em vão, o colega e amigo Ricardo Noblat continuará a suplicar ao presidente do Supremo: “Conta tudo, Toffoli!” Quem leu o seu blog ou a revista Veja, sabe do que estamos falando. Nada mais grave que as revelações do ministro Toffoli. Entre abril e maio últimos, houve uma tentativa de golpe para depor o presidente Bolsonaro, mas que ele (Toffoli) se intrometeu e, junto com outros nomes de peso da República, conseguiu abortar. Noblat tem razão! O presidente do STF tem obrigação de dar nomes aos bois.”

Jornalista Miriam Leitão: “O problema não é a direita ou a esquerda. Em qualquer democracia há alternância do Poder. O risco vem do populismo e do autoritarismo. Eles produzem crises econômicas, ameaçam instituições, emburrecem o debate. Na Argentina, na Venezuela e no Brasil, o problema sempre foi o autoritarismo, e piora quando ele vem vestido com as cores do populismo”. (...) “O maior risco de Bolsonaro é o autoritarismo. É da sua natureza e ele não vai mudar”.

Patrícia Abravanel, filha do empresário e apresentador de televisão Silvio Santos, do SBT, registra, numa entrevista, “que o SBT é muito pró-governo.” Acrescenta: “Independente do governante, a gente acredita que tem que estar apoiando”. (...) “a gente tem que estar perto dos nossos governantes, para eles poderem, sim, tomar boas decisões. Que a gente influencie eles para coisas boas. Que a gente acredite neles e torça por cada um deles. Então, aqui, eu, como meu pai, a gente é pró-governo. Sempre.”

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, comenta o crescimento preocupante da situação de moradores de rua na capital bandeirante: “Os prefeitos pagam a conta desses cinco anos de crise e recessão”. (...) “Antes a gente tinha, basicamente, homens nas ruas. Hoje vemos mulheres, crianças, famílias inteiras. Outra questão é a explosão do número de indivíduos que buscam a rede pública de saúde. Nos últimos anos, a cidade de São Paulo viu crescer de 6,5 milhões para 7,5 milhões o número de dependentes do SUS, muitos perderam o convênio”.

Bruno Covas (neto do ex-governador bandeirante Mário Covas, um dos fundadores do PSDB e concorrente, no passado, à presidência da República), noutra recente manifestação: “Esse sentimento de desavença, de anti-isso, de antiaquilo, dividiu o país. Precisamos superar isso, construir pontes”.

Marcos André Costa, médico pesquisador, diretor geral do Centro de Oncologia do Hospital Oswaldo Cruz, catedrático da USP, lamenta a queda acentuada no número de médicos pesquisadores, em seu modo de entender peças-chave na engrenagem das conquistas científicas ligadas à cura de enfermidades. “Há dez anos – diz ele – ocupávamos a 17ª posição no ranking mundial de pesquisa clínica. Hoje caímos para o 24º lugar e participação de apenas de 2,1% das pesquisas em curso. Apesar de sermos o 5º mercado farmacêutico do mundo, perdemos espaço para países com menores PIBs, população e relevância em vendas (...)”. “É preciso repensar as estratégias do Brasil no que tange às pesquisas em saúde. Onde queremos estar posicionados e qual relevância queremos ter no tabuleiro científico mundial. Incomoda a representatividade ainda modesta das pesquisas brasileiras em congressos internacionais relevantes”.

Antônio Delfim Neto: “O Brasil deveria prestar mais atenção à adesão incondicional de Bolsonaro à administração de Trump, que, estrategicamente falando, tem sido incapaz de responder com sucesso aos movimentos de Vladimir Putin e Xi Jinping na Venezuela.”


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