sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Efervescente atividade literária

Cesar Vanucci

“Procurar Deus onde ele não se encontra. 
A atividade literária é exatamente isso.”
(Fernando Sabino)

A aconchegante sede da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (Amulmig), plantada no alto da Afonso Pena, proximidades da Praça do Papa, em rua que tem nome de laureado escritor (Agripa de Vasconcelos), em BH, vem sendo palco constante de reluzentes eventos culturais. A “Casa de Francisco de Assis”, padroeiro da entidade, funcionando em prédio de feição singela, que conserva os traços criativos de Oscar Niemeyer, que o projetou a pedido do grande JK – cujo nome enobrece a galeria dos associados da instituição -, abre as portas semanalmente para concorridas assembleias. A programação, sempre pontilhada de espírito fraternal e colorido humano, oferecendo denso conteúdo intelectual, contempla palestras, comemorações cívicas, estudos e debates de temas atuais, audições musicais e... por aí vai.

A “terça Amulmig” do dia três de outubro foi reservada a acontecimento literário muito especial: a entrega solene dos prêmios do disputadíssimo “Concurso Literário de Prosa e Poesia – 2017”, tradicional promoção da entidade. Como de hábito, centenas de contistas e poetas, do Brasil e do exterior, enviaram trabalhos. Os acadêmicos incumbidos de lê-los e classificá-los consideraram o nível das criações literárias excepcional.

A escritora Renata Fonseca Wolff, de Porto Alegre (RS), arrebatou o primeiro lugar na categoria “Conto”, com o título “Rascunhos”.  O soneto “Quando”, de autoria de Matusalém Dias de Moura, de Vitória (ES), fez jus à melhor classificação na categoria “Poesia”. A coordenação geral do concurso esteve a cargo da Acadêmica Angela Togeiro, já por várias vezes ganhadora de prêmios literários no Brasil e no exterior.

Passamos aos leitores na sequência a relação completa dos resultados de mais essa significativa empreitada cultural da Amulmig.
Categoria Conto – 1º lugar: “Rascunhos”, autor: Renata Fonseca Wolff, Porto Alegre (RS); 2º lugar: “Objetivo”, Matheus Ferraz, Contagem; 3º lugar: “Oferenda”, Ignez Montepulciano Santos de Oliveira, Belo Horizonte. Menções honrosas (contos) – 1ª menção, “Almas de papel”, Edileuza Bezerra de Lima Longo, São Paulo; 1ª menção, “O fazedor de borboletas”, Airton Souza, Marabá(PB); 2ª menção, “Fabulosa paixão”, Luciane Maria Couto Cunha, Contagem; 2ª menção, “TPM”, Lóla Prata, Bragança Paulista (SP); 3ª menção, “O mestre e os discípulos”, Humberto del Maestro, Vitória (ES). Menções especiais (contos) – 1ª menção, “Na loja de ervas”, Cristina Bresser de Campos, Curitiba (PR); 2ª menção, “A gravura sem nome”, Josafá Paulino de Lima, Campina Grande (PB); 2ª menção, “Senilidade”, André Eitti Ogawa, Florianópolis (SC); 2ª menção, “Despedida”, Josina Nunes Drumond, Vitória (ES); 3ª menção, “Parece que falta alguma coisa”, Vanda Maria Jacinto, Mossoró (RN); 3ª menção, “Presente de aniversário”, Marcelo Gomes Jorge Feres, Rio de Janeiro; 3ª menção, “O dever e o desejo de Piatã”, João Lisboa Cotta, Ponte Nova (MG); 3ª menção, “Assim como os Anjos”, Celso Kallarrati, Teixeira de Freitas (BA). Categoria Poesia – 1º lugar: “Quando...”, Matusalem Dias de Moura, Vitória (ES); 2º lugar: “Andante”, Josina Nunes Drumond, Vitória (ES); 3º lugar: “Violões”, Humberto del Maestro, Vitória (ES); 3º lugar: “Manhã”; Marina Biagioni Marques, Conselheiro Lafaiete (MG). Menções honrosas (poesia) – 1ªs menções: “Versos meus”, Angela Cristina Fonseca, Belo Horizonte; “Coser”, Elisa Alderani, Ribeirão Preto; “Pelo menos o silêncio”, Josafá Paulino de Lima, Campina Grande (PB); “Poema à engenharia”, José Carlos Baêta, Belo Horizonte; 2ªs menções: “Meus poetas”, Eduardo Ferreira de Souza, Santo André (SP); “Retorno adiante”, Rafael Duarte Caputo, Curitiba; “Nuancas da arte”, Roque Aloisio Weschenfelder, Santa Rosa (RS); 3ªs menções, “O que restou”, Paulo Cezar Tórtora, Rio de Janeiro. Menções especiais (poesia) – 1ª menção, “Ah-manhê-ser”, Dodora Galinari, Belo Horizonte; 2ªs menções: “Sou de lá...”, Regina Rincon Caires, Campinas (SP); “Temperança”, Tatiana Alves Soares Caldas, Rio de Janeiro; 3ª menção,“Conquista”, Ignez Montepulciano Santos de Oliveira, Belo Horizonte. “Certificados de menções especiais – Destaque”. 1.Destaques nacionais: “Amanhã”, Almira Guaracy Rebêlo, Belo Horizonte; “Sou parte”, Elza Aguiar Neves, BH, “Só por hoje”, Lucília Cândida Sobrinho, BH; “Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais”, Maria Lúcia de Godoy Pereira, BH; “Carência”, Zaíra Melillo Martins, Caeté (MG). 2.Destaques Internacionais: “Eternas”, Edweine Loureiro da Silva, Japão; “Poetas de meu país”, Maria José Viegas da Conceição Fraqueza e José Viegas da Conceição Fraqueza, ambos de Portugal.

A ocultação do fundamentalismo saudita

Cesar Vanucci

“Na Arábia Saudita, basta ser homossexual 
para ter o pescoço cortado.”
(Gilles Lapouge, jornalista)

Inconfessáveis conveniências geopolítico-econômicas das grandes potências fizeram da retrógrada Arábia Saudita um baluarte no processo civilizatório e um posto avançado da democracia no conturbado mundo árabe.

A mídia internacional oculta, com exagero de cuidados, os infindáveis atentados cometidos nesse reino feudal contra a dignidade humana. Isso leva um certo noticiário, de desbordante farisaísmo, a celebrar, por exemplo, como grande conquista social a promessa da realeza do país em conceder às mulheres o “direito” de virem, em futuro próximo, provavelmente em meados do ano da graça de 2018, a dirigir veículos de passeio, ora, veja, pois...

É preciso desfazer esses equívocos de encomenda a respeito do reino saudita. E é oportuno saber, pra começo de conversa, que a Arábia é detentora de colossal arsenal bélico, superior ao de muitos outros países, de qualquer continente, de porte médio pra grande. Fornecido, obviamente, por aliados poderosos.

A Arábia Saudita é, no duro da batatolina, tão fundamentalista quanto o Afeganistão do tenebroso ciclo talebã. A fanatice dogmática vigorante naqueles domínios tem também influência nas exacerbadas manifestações teóricas e práticas levadas a cabo, para pavor geral, pelo sinistro ISIS. Mas, nada obstante, os sauditas são  inexplicavelmente poupados, conservados de lado, nas cerradas e justificadas condenações internacionais às violências contra direitos fundamentais atribuídas ao extremismo islâmico. Os desatinos de toda sorte ali cometidos, por intérpretes confusos do Alcorão - um livro sagrado merecedor de respeito pelos sábios conceitos espirituais emitidos -, são deletados, via de regra, do noticiário nosso de cada dia. O padrão de tratamento midiático dispensado à proliferação de abusos configura, no mínimo, indulgente discrição. A condição do país de detentor das maiores reservas petrolíferas do Oriente, exploradas por corporações empresariais com matrizes em potências de influência decisiva nos destinos do mundo, explica, com certeza, a “razão” da escassa divulgação dada ao que, de suma gravidade, rola rotineiramente nos ermos sauditas.

São objeto ali de proibição, entre outras coisas, o álcool, a dança, a astrologia, o emprego das “perigosas” expressões “papai” e “mamãe” no convívio familiar, a “pecaminosa participação mista em cinemas e educandários. Uma mulher, mesmo ocidental, que ouse sair na rua com trajes despojados, “afrontosos” à moral e costumes, é açoitada publicamente pelos vigilantes “guardiães da fé”.

O obscurantismo das leis chega a extremos inimagináveis. A Arábia é o único país do orbe terráqueo a punir com pena de decapitação os chamados “desvios sexuais”. Volta e meia, pessoas acusadas sumariamente pelo “horrendo crime da homossexualidade”, são decapitadas em praça pública, a golpes de sabre. Esse processo bárbaro de avaliação da conduta social produziu, num único recente ano, 80 vítimas. Os registros midiáticos de tão aterrorizantes fatos são inexpressivos.  ONU, grandes potências, e – não se sabe bem porque - as próprias organizações consagradas à defesa dos direitos humanos se fecham também, estranhavelmente, em copas, a respeito do assunto.

O jornalista Gilles Lapouge, numa correspondência, anos atrás, sobre as atrocidades que ocorrem no país que abriga Meca, considerado o lugar mais sagrado na veneração religiosa islamita, não poupa críticas às reações da sociedade internacional face às coisas acontecidas em paragens sauditas. Lembra que o assassinato de homossexuais documenta que a dinastia saudita - tida por muitos como modernista e esclarecida, por trás de sua vitrine suntuosa de magnatas do petróleo, “bons e leais amigos do Ocidente” etecetera e tal – adota métodos na atuação política e administrativa de inaudita ferocidade. O mesmo jornalista denuncia que na Arábia acontecem coisas muito piores que no Afeganistão à época do controle talebã. Os Saoud da família real, encastelados em sua cidadela petrolífera, desfrutam de total imunidade (e impunidade) pra tudo. Liberdade de expressão é algo que passa longe, anos luz de distância, das cogitações oficiais. A escravatura – pasmo dos pasmos! – ainda não foi banida dos pagos sauditas. O descabimento dos atos dos dirigentes jamais é criticado, por exemplo, pelos Estados Unidos. A comunidade internacional, representada pela ONU, não costuma apor sanções ao país por essa prática ininterrupta de atentados à dignidade humana.


A realeza saudita anda a reboque da seita religiosa mais arcaica do mundo muçulmano. Os wahhabitas, perto dos quais sunitas e xiitas, mesmo os mais radicais, não passam de meros aprendizes de feiticeiros. Alá proteja quem, desventuradamente, ouse cruzar os caminhos desses tresloucados espécimes da exasperação fundamentalista.






A SABEDORIA DE SHAKESPEARE


"Punhais escondem-se atrás do sorriso dos homens". - Macbeth

“O amor não sobrevive num coração tomado pelas sombras”.- O Rapto de Lucrécia.

“Se o amor fosse cego, ele jamais conquistaria”.- Romeu e Julieta

“Alguns cupidos matam com flechas,outros com ciladas”.- Muito Barulho por Nada

“O mundo é um palco imenso, e todos os homens e mulheres, meros atores”.- Como Gostais

“A beleza atrai ladrões mais depressa que o ouro”- Como Gostais 

“A esperança é o único remédio que sobra para os miseráveis” – Medida por Medida.

Em caso de bebedeira, eis um conselho retirado de Macbeth:
“A bebida provoca o desejo, mas acaba com o desempenho”

Um comentário:

Lóla Prata disse...

Caso seu blog se interesse por crônicas modestas, lhe envio uma, de cunho festivo e religioso, nesta época oportuna.

Para Maria Aparecida
Lóla Prata
2017

Trasanteontem, fui te visitar! Obrigada por me abrires as portas! Não fiz mais do que minha obrigação, aliás, para pagar todas as visitas que me fazes diariamente e que, às vezes, nem te recepciono com a atenção que mereces. Até te pedi desculpas rapidamente (ouviste quando te falei?), em meio a tantos filhos que apareceram como formiguinhas em volta da gota de mel. O mel és tu, excelsa amiga!
Tua casa linda e enorme me lembrou uma casa de rei, uma basílica, um templo, braços escancarados em posição de abraçar em aconchego, acolhimento e conforto a quem chegasse.
Ouvi sussurros chamando-a de mãe, percebi lágrimas eloquentes em meio às velas ardendo do fogo de amor... e súplicas humildes sendo balbuciadas...
Impressionante! Teus visitantes tinham um lugarzinho estratégico para sentar e meditar sobre a vida, para sorrir e para chorar, um piso moderno e limpo para caminhar, caminhar, caminhar...
Meu coração ficou a mil, de alegria e emoção exacerbada frente à decoração esmerada de tua, ou melhor, nossa casa. Música ambiente repetitiva como um refrão mavioso me envolveu completamente: trezentos anos... trezentos anos... trezentos anos...
Você é atemporal, querida!
Estás aniversariando? Parabéns, Maria Aparecida!

A SAGA LANDELL MOURA

O instinto belicoso do bicho-homem

                                                                                                     *Cesar Vanucci Faço um premente a...