sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Umas, depois outras

Cesar Vanucci

“O lema agora é outro: rouba e faz nada.”
(De uma indignada dona de casa)

u Mais pior”. Como dizia aquela indignada dona de casa, papeando com amigas na banca de verduras da feira: - Corrupção sempre houve. Mas o corrupto de hoje é “muito mais pior” do que o de outros tempos. O lema antigo do pessoal era “rouba, mas faz”. O lema agora é outro: “rouba e faz nada.”

u Prefeito de Betim. Não nos pegam de surpresa as informações circulantes nos bastidores políticos de que o nome do prefeito de Betim, Vittorio Medioli, tem  frequentado a lista de prováveis disputantes ao governo de Minas. Segundo consta, impressionados com sua atuação como gestor, alguns próceres andam ensaiando a possibilidade de lançar campanha com base num inusitado “Fora Medioli”, com o objetivo - ao contrário de outros movimentos de título assemelhado - de convencê-lo a deixar o mandato conquistado em 2016, para lançar-se a voo mais alto na administração pública. Considero, a propósito, oportuno reproduzir aqui trecho de artigo estampado neste espaço em 1º de novembro passado: “Falando ainda das eleições em Minas. Embora o fato não tenha sido até aqui, ao que saibamos, objeto de análises mais aprofundadas, este escriba é de parecer que num município da região metropolitana, Betim, ocorreu, certeiramente, o lance mais emblemático do que se pode apontar como demonstração da ardente expectativa comunitária por transformações político-administrativas essenciais. A escolha para Prefeito de um cidadão com a dimensão humanística de Vittorio Medioli, baita empreendedor, soa como algo diferente no cenário. Deverá atrair para aquele município, a partir de janeiro, segundo nossa percepção, atenções especiais da opinião pública e meios políticos.”

u Especulação. Em Uberaba, onde um mundão de gente conhece a fundo as manhas, artimanhas e façanhas do parceiro de travessuras do aventureiro transnacional Joesley Batista, vem sendo objeto de especulação nas ruas a hipótese de que as ações de  “arapongagem” do tal Ricardo Saud não hajam se limitado apenas às impactantes gravações já vindas a público.

u Pergunta da Marildinha. Marildinha, já contei aqui, é uma garota levada da breca, moradora num aglomerado do São Benedito. Antena sempre ligada, vive fazendo perguntas embaraçosas a respeito de coisas de que ouve adulto falar. Indoutrodia, na aula de história, após uma explicação da professora sobre o processo do “impedimento presidencial”, deixou cair a seguinte indagação: “Então, a despreparada Dilma Rousseff foi afastada do cargo pelo Congresso devido à acusação de praticar “pedaladas fiscais”, isso mesmo? Me diz aí: “Dá para comparar pedaladas com essas constantes derrapadas de seu sucessor? Hein?”

u Euforia econômica. Marildinha ainda. Vendo na televisão comentaristas econômicos anunciarem, com certa euforia no semblante, os recordes sucessivamente quebrados pela Bolsa de Valores, o resultado superavitário das vendas e compras de produtos no mercado externo, a perspectiva oficial de aporte de somas significativas com os leilões de ativos pertencentes ao patrimônio da União e os índices estrondosos de crescimento, mais uma vez, da rede de bancos, a garotinha do São Benedito, esfregando as mãos, esperança desenhada na face, perguntou pro seu Quitito, dono do açougue da rua: - Quer dizer, então, que o papai, o titio e os meus dois irmãos vão ser agora readmitidos nos empregos?

u Grama tiririca. Num belo poema sertanejo, de autoria (se a memória não tá a fim de trair) do genial Catulo da Paixão Cearense (“spalla” violonista da Sinfônica poética brasileira), topamos com magistral definição de “sodade” (saudade). E não é que trocando a suave expressão por repugnante palavra do vocabulário político destes tempos, a gente consegue também descrever o mal que vem carregando de aflições a vida brasileira? “Corrupção é como a grama tiririca, / que a gente pode “arrancá”, / “virá” de raiz pro ar, / mas “quá!” / Um fiapo escondido no torrão / “faiz” a peste “vicejá”...

u Violação de direitos. Nada traduz melhor os abusos impunemente praticados pelos planos de saúde do que as elevações abruptas e contundentes das faturas mensais “motivadas” por alterações na faixa etária dos usuários. As extorsões procedidas, sob olhares cúmplices da agência reguladora governamental, chegam a alcançar, nos casos dos mais idosos – pasmo dos pasmos! - cem por cento. O Juizado de Pequenas Causas tem dado, com frequência, ganho de causa aos que se insurgem contra essa violação dos direitos humanos e do estatuto dos idosos. Na segunda instância, as decisões têm sido, também, invariavelmente, ratificadas. As sentenças acabam sendo conduzidas, à vista de recursos protelatórios impetrados pelas operadoras, ao exame da Corte judicial superior, que parece não dispor de tempo suficiente para apreciar questão tão relevante para a comunidade. Tamanha morosidade na tramitação dos processos levanta clamor popular mais que justificado.


Sinalização copiosa e preocupante

Cesar Vanucci

“... uma administração afastada do dia a dia do brasileiro comum.”
(Mônica de Bolle, do “Instituto Millenium”, referindo-se ao governo brasileiro)

Aqui entre nós. Em reta e lisa verdade, não há como não temer os atos praticados pelo governo Temer (o trocadilho saiu sem querer). Mesmo com a credibilidade e a popularidade ao rés do chão, sob um bombardeio de arrasadoras denúncias, envolvendo sua atuação e a dos principais integrantes de seu séquito político e administrativo, o vice tornado titular na Presidência depois do impedimento de Dilma Rousseff vem acumulando um alentado acervo de decisões nada inspiradas ou equivocadas (numa avaliação sumamente condescendente), em colisão frontal com o sentimento nacional.

A sinalização a respeito é copiosa. É preciso aprender o significado dos sinais. O poeta Robert Frost convida-nos a manter os aparelhos de percepção pessoal constantemente ligados para entender os alertas repetidas vezes emitidos por atos irrefletidos do ser humano.

No caso das atitudes assumidas pelo supremo mandatário da Nação, existe um mundão de situações a deplorar. Na retórica palaciana, a mudança governamental procedida iria fazer a economia melhorar a olhos vistos. Nada disso aconteceu. A economia continua patinando. O número de brasileiros desempregados alcançou a cifra himalaiana de 23 milhões. A volta dos investimentos, que seria instantânea nas róseas perspectivas acenadas, converteu-se em ruidoso malogro. No primeiro trimestre deste ano, em sua 12ª queda sucessiva, a taxa de investimentos caiu, “apenasmente”, 3,7%. Técnicos do insuspeito “Instituto Millenium”, de manifesta orientação neoliberalista, são de parecer que o governo brasileiro chafurda-se numa brutal crise fiscal, sem saber patavina como dela se libertar. A crise decorre de um esquema gerencial consideravelmente “distanciado do dia a dia do brasileiro comum”. As mesmas fontes asseveram que a administração brasileira neste preciso momento é constituída “pela elite da elite”.

O rombo projetado nas contas públicas só faz crescer a cada comunicado do Ministério da Fazenda. As projeções concernentes ao PIB, tanto a do exercício corrente, quanto a do período vindouro, não param de minguar. O buraco orçamentário é cada vez maior, pelo que se anuncia. Também vem sendo reiteradamente alardeado que escasseiam investimentos capazes de alavancar o crescimento econômico. O que vem sendo esquecido nos ditos oficiais é que este nosso país dispõe de potencialidades reconhecidamente incomparáveis para ampla gama de investimentos, que só não vêm sendo feitos no volume desejável pela simples razão de inexistirem confiabilidade, credibilidade, idoneidade, competência e criatividade na gestão dos negócios afetos ao alto comando gerencial do país. O que se está vendo são lideranças despreparadas, na contramão dos genuínos interesses brasileiros, desencadeando uma sequência espantosa de medidas sociais, econômicas, políticas e civicamente incompatíveis com as aspirações da sociedade.

Empenham-se em arrebanhar apoio parlamentar na base do “toma-lá-dá-cá”, na tentativa de blindarem-se contra as investidas da Procuradoria Geral da República. Desatinadamente, a toque de caixa, sem avaliações aprofundadas dos cruciais temas agendados, procuram enfiar goela abaixo, reformas que a opinião pública admite necessárias, mas que só têm chance de prosperar na base de um diálogo substancioso, clamorosamente sonegado.

Paralelamente a isso, numa mesma toada autocrática, avessas a qualquer modalidade de discussão positiva, deliberam, nas caladas, colocar em leilão que avilta os brios nacionalistas, ativos valiosos pertencentes ao patrimônio de riquezas do povo brasileiro. De repente, sem mais essa nem aquela, desconcertantemente, uma lista de empresas é colocada em hasta pública. Entre elas – ora, veja, pois! - a Casa da Moeda, a Eletrobrás, a Cemig. Vai por aí...


Como se tudo isso já não bastasse, elevando ainda mais o tom dos desvarios cometidos, as lideranças mencionadas resolveram também, não mais que de repente, promover leilão de um pedaço considerável da Amazônia, dando aviso prévio, em gesto inominável, a corporações estrangeiras interessadas nas riquezas da área. A reação da opinião pública, face ao decreto de descaracterização da Renca, foi de tal envergadura que forçou os autores da descabida medida a saírem a público para explicações, sem obviamente convencer ninguém, num novo exercício de contorcionismo retórico que reclama, naturalmente, nos mantenhamos vigilantes e atentos para que o atentado previsto não venha a se consumar mais na frente.

2 comentários:

PENUMBRAS - REFLEXÕES DE VIDA disse...

Prezado Presidente.
Parabéns pelas colocações.
Moro em Betim e estamos realmente na espera de mudanças significativas conforme comentado.

PENUMBRAS - REFLEXÕES DE VIDA disse...

Prezado Presidente.
Parabéns pelas colocações.
Moro em Betim e estamos realmente na espera de mudanças significativas conforme comentado.

A SAGA LANDELL MOURA

Conspiração desvendada

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