sábado, 22 de julho de 2017

Luiz de Paula, 
um cintilante itinerário

Cesar Vanucci

“Que belo é ter um amigo!”
(Miguel Torga, poeta)

Querem saber de uma coisa? Os 100 anos bem vividos de Luiz de Paula Ferreira exigem, no duro da batatolina (como se diz na saborosa linguagem popular), celebração que extrapole os limites do território familiar. A cintilante trajetória percorrida por este cidadão pleno de compreensão sobre o sentido da vida, dono de invejável erudição, que sabe conjugar magnificamente ideias arrojadas e ações fecundas, merece ser mostrada a todos como uma saga na crônica norte-mineira.

Montes Claros, com sua irresistível brejeirice sertaneja, genuinamente brasileira, tem-no obviamente na conta de personagem exponencial. Alguém com retrato garantido na galeria dos que, ardendo criatividade e labor produtivo, contribuíram para que se tornasse o polo de irradiação cultural, social e econômico, de que tão justamente podem seus habitantes se ufanarem. É bastante compreensível que, no apreço e admiração das ruas, Luiz seja visto como grande benfeitor da comunidade. Um “verdadeiro contemporâneo do futuro”! Uma pessoa que, utilizando adequadamente os talentos concedidos por Deus, com audácia vanguardeira e olhar assestado no amanhã, avaliou as potencialidades da região e ajudou a projetar as estratégias do crescimento que conferiram à mesma a posição ostentada no mapa cultural, social e econômico de Minas e do País.

Escritor festejado, com função intelectual que exala vida, bem sucedido empresário, parceiro do saudosíssimo e, como ele, infatigável José Alencar, nesse colossal empreendimento chamado Coteminas, com todas suas esplêndidas ramificações nas veredas do progresso industrial, Luiz de Paula imprimiu ainda as marcas digitais, ao tempo do exercício parlamentar, nos programas de incentivo ao desenvolvimento do nordeste, concorrendo decisivamente para a criação da assim chamada “área mineira da Sudene”.

Esse mineiro de boa cepa, a quem importa mais ser do que parecer ( tomando emprestado inspirado conceito de Guimarães Rosa), é considerado  símbolo vivo, símbolo itinerante de Montes Claros, cidade que representa um portal da cultura brasileira de nosso vasto sertão. Dizer que Luiz tem a cara de Montes Claros é o obvio ululante. Seu currículo, de rico conteúdo humanístico, ostenta além da condição de escritor e poeta, as facetas de musicista, associado de várias organizações culturais (entre elas, o conceituado Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais), repentista afamado e fotógrafo premiado. Vale registrar, a propósito, que em julho de 1974 uma foto de sua autoria, de teor ecológico, ganhou as honras de página inteira na extinta revista “Realidade”.

Fiquei conhecendo Luiz de Paula Ferreira nos idos de 1965, assim que cheguei de muda a Belo Horizonte, largando pra traz a condição de advogado do Sesi em Uberaba para assumir o cargo de Superintendente Geral do Sistema Federação das Indústrias, a convite do saudoso Fábio de Araújo Motta. Em minhas quase quatro décadas de permanência nas honrosas funções mantive saudável convivência, fraternal relacionamento com o ilustre cidadão centenário. Acompanhei de perto seu excelente trabalho como empresário e dirigente classista. Colaborei com ele na missão, conduzida com bom senso e proficiência proverbiais, como chanceler da comenda do “Mérito Industrial”, anualmente concedida pela valorosa entidade. Inteirei-me dos detalhes de um sem número das realizações que promoveu com obstinação criadora. Desfrutei do privilégio de ouvi-lo contar, narrador incomparável, causos saborosíssimos ambientados nas paragens sertanejas. Conservo bem nítida na memória deliciosa e instigante história registrada num de seus livros, tendo por título “Olha ocê criminoso”, que me permito aqui reproduzir.

Vitorino, “um camarada andejo”, acumulava os ofícios de fotógrafo ambulante e professor de primeiras letras. Foi contratado por um coronel da zona rural para alfabetizar o pessoal rude de seus redutos políticos mode que poderem alistar-se como eleitores. O instrutor topou, logo de cara, com dificuldade inesperada. O pessoal matriculado não dava as caras na sala de aula. Com intervenção do coronel, Vitorino conseguiu, enfim, reunir o grupo. O relato, daqui pra frente, partindo de uma recomendação dada pelo coronel ao professor, é do próprio Luiz: “Bem, seu Vitorino, os homens estão aí. Agora carece o senhor dizer a eles uma palavra boa e dar um exemplo ou dois para criar maior compreensão e entusiasmo em nossos amigos e futuros eleitores. Vitorino pegou a deixa. E falou bonito. Explicou àquele grupo tão singular de alunos que o analfabeto (...) é que nem um cego perdido no mundo. Não vai além da enxada, da foice e do machado. Não pode prosperar. Não pode retirar dinheiro em bancos para fazer uma lavoura maior. (...) E assim por diante. Os homens prestavam atenção e o coronel dava mostras de satisfação. Lembrando-se do pedido e dos exemplos, Vitorino foi em frente: - Agora vou dar um exemplo. Quero que todos os senhores prestem muita atenção. Para ficarem sabendo como é importante a pessoa saber ler. E fixando o olhar no Amâncio, caboclo tido e havido como cabra da confiança do coronel, firmou a voz: - O senhor aí, seu Amâncio. Não falando com pouco ensino, vamos dar por certo que um sujeito qualquer, dessas almas que Deus põe no mundo por descuido, e o capeta toma conta, um sujeito desses desagrada o coronel. E o coronel escreve o nome do mal-agradecido num papel e manda para o senhor corrigir a injustiça. Preste bem atenção. O senhor recebe o papel com o nome do homem, mas o senhor não sabe ler direito. E nem pode mostrar o papel a ninguém. O senhor pega o papel, vira e revira na mão. Soletra mal-e-mal. Entende o nome errado. E taca fogo noutro. Olha ocê criminoso!”

Veja bem, caríssimo leitor. A empolgação suscitada no espírito deste desajeitado escriba pela vida e obra de Luiz de Paula é de molde a poder conduzi-lo a estender por muitas e muitas laudas ainda estes maldigitados escritos. Há coisas demais a relatar numa biografia tão prodigiosa. Vou ficando por aqui mesmo, apoderado da certeira convicção de que os exemplos de retilínea conduta espalhados por este estimado amigo, em sua itinerância terrena pela pátria humana, produziram frutos à mancheia. Frutos que, como os da linguagem evangélica, permanecem.

O fraseado da hora política

Cesar Vanucci

“As frases feitas são a
companhia cooperativa do espírito.”
(Machado de Assis)

“Se for verdade tudo o que estão dizendo sobre o Lula, isso vira uma arma de campanha. E, sendo uma arma de campanha, afeta também a votação. Eu ganhei do Lula duas vezes, não acho o Lula um bicho-papão.” (Fernando Henrique Cardoso)

“Meus adversários andaram semeando Aécio e, agora, estão colhendo Bolsonaro.” (Luis Ignácio Lula da Silva)

“A Lava Jato não está ameaçada, não estará.” (Carmem Lúcia, presidente do STF)

“Política é para políticos, não dá pra imaginar que um gestor competente vá solucionar os problemas do Brasil. O que o país precisa é de bons políticos.” (Roberto Setúbal, presidente do Banco Itau)

“A denúncia é uma peça de ficção.” (Antônio Claudio Mariz de Oliveira, advogado de Temer na defesa de seu constituinte perante a Câmara dos Deputados)

“Essa gente que está batendo panela pode acabar sendo alvo amanhã de atentados aos seus direitos. Cria-se uma insegurança geral, um fascismo vulgarizado.” (Gilmar Mendes, presidente do TSE)

“As incontornáveis contradições tucanas fazem a legenda parecer uma biruta de aeroporto. Vai ao sabor dos ventos.” (Rodrigo Martins, jornalista)

“Como continuar com um governo comandado por um presidiário como Eduardo Cunha?” (Renan Calheiros, ao deixar a liderança do PMDB)

“O que existe é um acordo espúrio com Temer em troca de apoio a Aécio Neves.” (Miguel Reale Junior, autor do pedido de impedimento de Dilma Rousseff, ao anunciar seu desligamento do PSDB)

“Acho que o Brasil esgotou o ciclo da impunidade, pelo menos da segurança da impunidade. Falta resolver a incompetência da máquina pública.” (Deputado Miro Teixeira)

“O que a Lava Jato tem demonstrado, e as investigações eleitorais também, é que as despesas de campanha no Brasil são extremamente elevadas. Porque têm de ser milionárias?” (Nicolao Dino, vice-procurador geral eleitoral)

“A reforma trabalhista rebaixa o patamar civilizatório mínimo alcançado pela legislação brasileira. A jornada intermitente é um contrato de servidão voluntária. O indivíduo simples fica à disposição, na verdade, o seu tempo inteiro ao aguardo de três dias de convocação.”(Marcelo Delgado, ministro do TST)

“A solução correta, pacífica e inteligente, está na convocação de eleições diretas antecipadas no prazo mais curto possível. Ao povo a palavra final.” (Mino Carta, jornalista)

“O que adianta passar mensalão, petrolão e daqui a pouco um outro “ão”, sem mudar mecanismos de prevenção.” (Alexandre de Moraes, ministro do STF)

“Não sei como Deus me colocou aqui.”  (Michel Temer)

“Uma coisa é o tempo do Judiciário e outra coisa é o tempo político.” (Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil)

“O noticiário tem apontado Rodrigo Maia como um Didi da política, o craque que joga parado. Sem se mexer, o presidente da Câmara estaria armando para suceder Temer – e não só quando este vai ao exterior.” (José Roberto Toledo, jornalista)

"Fiquei chocado e senti náusea. Foi minha reação física: um choque, e fiquei enjoado mesmo." (Rodrigo Janot, procurador geral da República, sobre a reação que teve com as revelações que levaram às acusações contra Temer e Aécio)

“Segundo o noticiário, ao ex-ministro Geddel Vieira, cidadão acostumado com toda sorte de mordomias proporcionadas pelo poder, foi destinada uma cela, na Papuda, desprovida de água quente. Com esse frio danado que anda fazendo, as más línguas vêm apostando que ele acabará aderindo, logo, logo, a uma delação premiada.” (Antônio Luiz da Costa, educador)

"Do jeito que as coisas vão, peritos da defesa de Temer vão mostrar gravações provando que Elvis não morreu e continua cantando." (Escritor Paulo Coelho)

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