sexta-feira, 30 de junho de 2017

C O N V I T E
XX Congresso Brasileiro de Ufologia

Eleições e 
Assembleia Constituinte

Cesar Vanucci

“Sejamos ousados em nossas propostas.”
(Olavo Machado Junior, presidente da Fiemg)

Não existe, neste País tropical, de dimensões continentais, abençoado por Deus e bonito por natureza, vivalma que não se confesse aturdida com o rumo tomado pelos acontecimentos. E que, também, não se quede a sonhar, nesta hora amarga, com urgentes e viscerais transformações nos confusos e, até certo ponto nauseantes, domínios políticos e administrativos.

Pode ser, no tocante às metodologias a empregar, que as vozes das ruas divirjam. Mas é fácil perceber convergência rigorosa, denotando incomum unanimidade, no reconhecimento de que, do jeito que andam, as coisas não podem mais continuar.

Tão ruidosa constatação remete inescapavelmente à necessidade de se promover um novo pacto nacional. Existe expectativa generalizada quanto ao fato de que das cabeças pensantes mais lúcidas, nas esferas do labor, da inteligência e da criatividade, possam brotar o quanto antes propostas factíveis objetivando a almejada recomposição de cenários. Nos anseios populares concebe-se também que uma contribuição valiosa possa ser dada, sobre o que fazer no sentido de se debelar a crise, por organizações como a CNBB, a OAB e outras tantas, representativas do sentimento nacional. A esperança reinante é de que uma poderosa conjugação de vontades se capacite a influenciar decisões relevantes, rigorosamente harmonizadas – seja sublinhado – com os postulados republicanos e democráticos.

Mas de que reforma está mesmo a se cogitar no alarido popular? Fique claro não se tratar de alguma reforma qualquer demagogicamente forjada com o inocultável e maroto objetivo de não se fazer reforma alguma. Um pacto com a extensão e profundidade desejadas pela sociedade implica, iniludivelmente, em alterações de natureza política e administrativa impossíveis de serem implementadas simplesmente na base de PECs e de votações casuísticas e de falsa premência sugeridas por boquirrotos políticos desacreditados e deslegitimados. A recolocação do País nas trilhas do desenvolvimento econômico e social reclama a presença, à frente de seus destinos, de lideranças confiáveis, de personagens não emaranhados em chocantes suspeitas de conluio com esquemas de malversação dos recursos públicos. As penosas circunstâncias políticas enfrentadas pela Nação amparam teses arrojadas. A antecipação de eleições e a convocação de uma Assembleia Constituinte são apontadas como soluções razoáveis para essa crise sem fim.

A ideia de uma Constituinte, com agenda centrada exclusivamente no debate das reformas de base propícias a geração de riquezas e, ipso facto, a ampliação dos níveis de bem-estar social da população, vem sendo defendida por lideranças qualificadas. É o caso, por exemplo, do presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, Olavo Machado Junior, e, também, noutro contexto, dos juristas Modesto Carvalhosa, José Carlos Dias e Flávio Bierrenbach. Acentuando que sua proposta se inspira no compromisso com valores éticos e com o Brasil, o dirigente classista mineiro defende que a Constituinte exclusiva seja composta de pessoas impedidas de exercerem cargos públicos ou eletivos por pelo menos 10 anos. Ressalva que essa exigência constitui salvaguarda necessária contra o corporativismo, o fisiologismo e a demagogia. Admite “que não podemos nos omitir, deixar de tentar”, pede “sejamos ousados em nossas propostas” (...) e que “jamais abdiquemos de nossos sonhos e de nossas utopias.”

A antecipação de eleições e a convocação de uma Constituinte são teses merecedoras de atenção e apoio. O que se preconiza criará chances para reformas de caráter estrutural. Garantirá, com certeza, indispensáveis reformulações partidárias, tributárias, judiciárias, previdenciárias e outras tantas. Podemos vislumbrar, a partir daí, o surgimento das condições ideais para a retomada do crescimento econômico, com os desdobramentos sociais dele derivados. E, também, uma reforma da Previdência a altura dos anseios comunitários. Reforma verdadeiramente escorada em cálculos atuariais à prova de fajutas manipulações oficiais. Reforma que não se concentre em açodada retirada de benefícios de assalariados de baixa renda e que tenha a coragem de confrontar todos os sistemas previdenciários de cunho corporativista existentes, de modo a que se possa conceber, a médio e longo prazos, a estruturação de um regime previdenciário único pra todos os brasileiros. Com a eliminação, obviamente, de abusos clamorosos, como os da situação de milhares de agentes públicos beneficiados com remunerações infinitamente acima do teto oficial  solenemente instituído pelos Poderes e por eles também oficial e solenemente desrespeitado.


Relatos impactantes

Cesar Vanucci

“Mesmo dando desconto por algum provável
exagero, as revelações são bastante contundentes.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)

Não há como ignorar a pertinência de algumas objeções jurídicas a certos métodos empregados na “Lava Jato” com vistas a estimular a assim chamada “delação premiada”. Mas, nada obstante, é forçoso admitir que esse instrumento investigatório vem se mostrando de razoável eficiência na coleta de dados sobre as nauseantes praticas clandestinas que andaram lesando de forma clamorosa sagrados interesses da Nação.

De outra parte, cabe também, em sã consciência, alertar para o risco de que as informações trazidas a lume contenham exageros e incorreções. Os denunciantes – não nos esqueçamos disso - são ativos membros do consórcio mafioso responsável pelas mutretagens denunciadas. Faz sentido imaginar que alguns tópicos dos depoimentos reflitam vontade pessoal muito forte de alterar seu protagonismo no enredo, na tentativa de atenuar o grau de responsabilidade quanto aos malfeitos.

O espantoso volume de escabrosos detalhes sobre as maracutaia promovidas, mesmo na hipótese de se fazer “descontos” nas revelações transmitidas em Juízo, causa-nos, todavia, a todos, mal-estar e desconforto duradouros.  

Tomemos, por exemplo, as narrativas recentes de Joesley Batista, um dos empresários que alimentou, com insaciável ambição, o sistema de corrupção que se quer desbaratar. A descrição que faz do conluio estabelecido entre agentes públicos inidôneos e elementos inescrupulosos infiltrados em atividades de produção ligadas a obras governamentais, é de deixar estarrecido qualquer mortal.

Ainda que a transcrição de parte de suas declarações nos cause, obviamente, enorme desprazer, entendemos que registrá-las concorre para fortalecer a disposição popular de criar, com novas ideias e ações, mecanismos que nos ajudem a sair da encalacrada em que, a contragosto, fomos metidos pelo desatino administrativo e insensibilidade social de lideranças incompetentes.

As palavras seguintes pertencem ao mencionado Joesley Batista: “Há político que acredita que o simples cargo, que ele está ocupando, já o habilita a você ficar devendo favores a ele, e (ainda) pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer os favores.” (...)

Referindo-se a grupos com os quais manteve espúrias negociações, o empresário salienta, entre outras coisas, o seguinte: “Há dez, 15 anos houve uma proliferação de organizações criminosas no país.” (...) “Nós participamos e tivemos de financiar muitas delas.” (...) “O Lula e o PT institucionalizaram a corrupção. Houve essa criação de núcleos, com divisão de tarefas entre os integrantes.” (...) “O resultado é que hoje o Estado brasileiro está dominado por organizações criminosas. O modelo do PT foi reproduzido por outros partidos.” (...)

Apesar de haver citado o ex-presidente, o empresário confessa que “nunca teve conversa não republicana com Lula” (...) “Não estou protegendo ninguém, mas só posso falar do que fiz e do que posso provar. Não estou entregando pessoas. Entreguei provas aos procuradores. E o PT tinha o maior saldo de propina. O que posso fazer se a interlocução era com o Guido Mantega?” (...)

“Conheci Temer, e esse negócio de dinheiro para campanha aconteceu logo no iniciozinho. O Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro.” (...) “É o grupo deles (do Eduardo Cunha e companhia). Quem não está preso, está hoje no Planalto. Essa turma é muito perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então, meu convívio com eles foi sempre os mantendo a meia distância: nem deixando eles aproximarem demais, nem deixando eles longe demais, para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida.” (...) “O mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara (PMDB e aliados) e do próprio Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado.” (...) “A pessoa a qual o Eduardo (Cunha) se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer.” (...) “Lúcio (Funaro) virava para mim e dizia: ‘Tem um requerimento numa CPI para te convocar. Me dá R$ 1 milhão que eu barro’. Mas a gente ia ver e descobria que era algum deputado a mando dele que estava fazendo. (...) Tinha que tomar cuidado. Essa é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país. Liderada pelo presidente Temer.”

Toda essa história, visto está, traz muito desassossego. O anseio da sociedade é de que as investigações relativas ao descomunal problema sejam concluídas com presteza. Tudo, naturalmente, em rigorosa sintonia com os preceitos republicanos e democráticos. E de forma a remover os obstáculos que, neste momento, tanto afetam o desenvolvimento econômico e social deste País de tão ricas potencialidades.



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