quarta-feira, 15 de março de 2017

Lions, uma
celebração eletrizante

Cesar Vanucci

“JK nunca será olvidado. Seu patriotismo
e simpatia marcaram o povo brasileiro.”
(Professora Elza de Moura, 103 anos, no agradecimento 
ao Lions pela homenagem recebida.)

Uma celebração festiva eletrizante. Esta a forma adequada de definir a programação levada a cabo pelo Lions Clube na evocação de seu centenário. No majestoso teatro do Sesiminas, em BH, repleto de convidados, em espetáculo cívico-cultural de singular beleza, desenrolado em atmosfera de enorme vibração, a instituição homenageou, inspirada na ideia “O Brasil de todos nós”, quatro dezenas de pessoas e organizações centenárias.

A entrega dos troféus produziu momentos de emoção inesquecíveis. Da parte artístico-cultural, que justificou a sugestiva classificação que Vitor Hugo conferia à boa música – “barulho que pensa e encanta” -, ficaram encarregadas a magnífica Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e o esplêndido Coral do Sesiminas. Eles brindaram a plateia com magistrais concertos. O repertório compreendeu clássicos da MPB, executados em arranjos especiais concebidos a pedido dos promotores do evento dentro da perspectiva de se festejar também os cem anos do samba, expressão mais genuína de nossa arte musical.

Além do locutor que vos fala, coordenador do grupo incumbido da promoção, utilizaram a tribuna no ato do dia 22 de fevereiro a governadora do Lions em Minas Maria Jorge Abrão de Castro e as professoras Elza de Moura (103 anos) e Maria Joana Peixoto (102 anos), homenageadas. As duas venerandas educadoras relembraram, em arrebatantes pronunciamentos, a figura inolvidável do grande estadista Juscelino Kubitscheck de Oliveira.

A comemoração em Minas do centenário do Lions estendeu-se, no dia 23 de fevereiro a outro significativo evento na sede da instituição. Em singela e marcante cerimônia, bastante concorrida, foi lacrada uma “capsula do tempo” contendo registros de fatos contemporâneos, a ser aberta no futuro. O acadêmico Sóter do Espírito Santo Baracho proferiu substanciosa fala alusiva ao acontecimento. Marilene Guzella, também integrante da Academia Mineira de Leonismo, agraciou o público com interessantíssima palestra sobre a história centenária do samba. No fecho do empolgante ato cívico-cultural, a professora de música e cantora Renata Vanucci e o mestre em música Guilherme Vincens apresentaram aplaudido recital com peças do cancioneiro popular brasileiro, de exaltação também ao samba.

Nessas festividades comemorativas do centenário, o Lions contou com o valioso apoio do Sistema Fiemg/Sesi e Sistema Fecomércio/Sesc. No próximo dia 25 de março, o Sesc irá promover, dentro da celebração, um espetáculo musical na base do samba, na praça Santa Tereza, em Belo Horizonte.

Anotamos, na sequência, os cidadãos e instituições centenários alvo das homenagens na sessão solene do dia 22 de fevereiro:
Instituições acadêmicas, classistas, científicas e filosóficas - Academia Mineira de Letras, Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais, Funed - Fundação Ezequiel Dias, Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Loja Maçônica “Estrela de Queluz”; Instituições militares - 4ª Região Militar do Exército, Polícia Militar do Estado de Minas; Instituições esportivas e recreativas - América Futebol Clube, Bloco Carnavalesco Zé Pereira dos Lacaios de Ouro Preto, Clube Atlético Mineiro, Retiro Sport Club de Nova Lima, Vila Nova Futebol Clube; Instituições educacionais - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Colégio Arnaldo de Belo Horizonte, Colégio Sagrado Coração de Jesus de BH, Colégio Sagrado Coração de Maria de BH, Escola Estadual Afonso Penna, Escola de Farmácia de Ouro Preto, Escola de Minas de Ouro Preto, Escola Estadual Dom Pedro II de Ouro Preto, Faculdade de Direito da UFMG, Instituto de Educação de Minas; Instituições empresariais - Anglo Gold Ashanti de Nova Lima, Barbosa & Marques (Produtos Regina), Casa Falci, Casa Issa de Pedro Leopoldo, Companhia de Fiação e Tecidos Cedro e Cachoeira, Companhia de Tecidos Santanense, Drogaria Araujo; Instituições religiosas e assistenciais - Arquidiocese de Mariana, Paróquia da Boa Viagem de Belo Horizonte, Santa Casa de Misericórdia de BH, Conselhos Central  e Metropolitano de BH da Sociedade São Vicente de Paulo;
Em Memória - Celso Cunha, Edgard Walter Simmons, Mario de Ascenção Palmério. Cidadãos - Adalgisa Braga de Castro Moura (1913), Elza de Moura (1915), José Eduardo Ladeira (1913), Maria Joana Peixoto (1915), Maria Margarida Guzella Martins (1915), Maria Valle do Amaral  (1915).


A FORÇA DA LUMINOSIDADE

“A vida é comprida. Cabe nela
amor eterno. E ainda sobeja vida.”
(Poeta António Botto)

Na solenidade do dia 22 de fevereiro, na condição de Coordenador do Grupo de Trabalho incumbido de estruturação do programa comemorativo do centenário do Lions em Minas Gerais, pronunciei o discurso abaixo reproduzido.

Cem anos representam diminuto percurso na infinitude cósmica. Impondo aos que vivenciaram tal percurso enormes fadigas, este trecho assombroso da história comprova, antes de tudo mais, que a vida neste planeta de peregrinação é uma centelha que brota, uma chama que vacila, incrustadas na imensidão do tempo, como enunciado em mimoso pensamento taoista.  Um clarão ao pé da eternidade, complementaria o poeta Guilherme de Almeida. Mas, aqui pra nós, que período mais estupendo!

Inquietude humana

Focando atentamente o olhar na história conhecida dos homens – tão repleta de inexplicabilidades quanto a sua história desconhecida –, o período que vai de 1917 a 2017 reflete admiravelmente as contraditórias e emblemáticas nuances da inquietude humana. A inteligência, a criatividade, o labor, o arrojo vanguardeiro do ser humano produziram, na caminhada transcorrida, ao jeito de embasbacante passe de mágica, verdadeiro esplendor tecnológico. As conquistas fabulosas se amontoam.

Começando com o lento voo do teco-teco chegou-se à nave espacial. Um artefato que singra o azul do firmamento a mais de quarenta mil quilômetros horários, com previsão nos audaciosos projetos de visitações a outros corpos celestes de atingir velocidades ainda mais estonteantes. Do telefone tocado a manivela, que deixou (evidentemente antes de 1917) Dom Pedro II estupefato, a ponto de exclamar: “Mas, meu Deus, isso fala?”, chegamos ao celular, ao “skype”, ao “whats app” e um tantão de outros apetrechos fabulosos que asseguram comunicação instantânea de qualquer lugar a qualquer lugar.

Fontes de energia inesgotáveis

As inesgotáveis fontes de energia da Natureza inteligentemente exploradas – com muitas outras fontes prestes a serem descobertas – colocaram, de outra parte, ao dispor da sociedade, instrumentos em condições de proporcionar maior conforto e bem-estar. Por essa amostragem, fica exuberantemente constatada a existência de um considerável patrimônio de feitos científicos estruturados no curso de cem anos. Tal patrimônio expõe a face positiva do processo civilizatório prevalecente neste planeta que nos foi concedido como morada transitória.

Desigualdades sociais gritantes

Mas, rendendo dissabores e infortúnios sem conta, esse mesmíssimo processo civilizatório exibe também, de forma ostensiva, uma face assustadoramente negativa. As vastíssimas potencialidades de bem-estar social criadas pelo engenho humano não aproveitam à humanidade por inteiro. O cenário aponta desigualdades sociais gritantes. Carências assistenciais clamorosas.

Frutos daninhos da arrogância, prepotência, insensibilidade social, egoísmo, injustiça, desgovernos, tudo isso configurando desapreço aos valores espirituais e humanísticos provindos da sabedoria que chega do fundo e do alto dos tempos, aí estão, a enodoarem a paisagem deste lindo planeta azul, as guerras do terror. E o terror das guerras. As guerras que as mães abominam, no dizer de Horácio. Aí estão o desrespeito contínuo aos princípios éticos; o drama angustiante dos refugiados; os radicalismos incendiários; a deslavada corrupção sistêmica de proporções universais. As estratégias geopolíticas que empobrecem o ideal da confraternização universal e o sentimento ecumênico. O fanatismo fundamentalista de cunho político ou religioso que nega direitos, alimenta racismo, fomenta intolerâncias de gênero, credo e de opções de vida.

Desperdícios sem fim

Para não espicharmos demais a inesgotável fieira de lances desedificantes da aventura humana, cuidemos de repercutir, por ser sintomática destes tempos atordoantes, esta impressionante informação da Organização Mundial de Saúde: com apenas dezesseis bilhões de reais, que poderiam ser simplesmente retirados da nota preta consumida nos desperdícios sem fim dos recursos universais, seria perfeitamente possível refrear a pandemia de AIDS que açoita vastos territórios do maltratado continente africano. E em se tratando da África, esquecida dos homens e por vezes até de Deus, anotemos que, ainda agora, a ONU implora a atenção do mundo para o que vem acontecendo no Sudão Sul. Este país detentor de ricas jazidas petrolíferas, devastado por conflitos bélicos intermináveis, enfrenta a hecatombe da fome.

Rosário de calamidades

Todo esse rosário de calamidades, espalhadas por tudo quanto é canto, provocando mágoa e desalento, leva as pessoas amiúde a suporem que os problemas humanos não têm mesmo jeito. Seriam males irremediáveis. A imaginarem que o obscurantismo que guarnece tais males constitui o traço dominante do espírito humano. E que de nada valeriam, contra forças tão avassaladoras, os apelos à misericórdia, à concórdia, ao desarmamento de espíritos, à paz, formulados por lúcidas lideranças das fileiras humanísticas. Oportuno ressaltar o fato de que nessas fileiras, compostas de homens e mulheres de boa vontade de todas as crenças e latitudes, parcelas majoritárias da sociedade humana, merece destaque especial na hora presente a inconfundível figura de estadista do Papa Francisco.

Um conceito consolador

Mas um consolador conceito atribuído a eminente pensador indiano, Sai Baba, explica que não é bem assim. Os tempos modernos projetam luminosidade, ao contrário do que se pensa, bem mais poderosa do que a feição trevosa dos eventos que tanta indignação e revolta provocam. A sociedade contemporânea estaria, assim, nos tempos de agora, bem mais consciente do sentido verdadeiro das coisas. Essa conscientização permite-lhe possa inteirar-se melhor dos fatos que dificultam a construção de um mundo mais digno pra se viver.

A luminosidade derivada de posicionamentos altivos assumidos nas ruas faz com que, em todos os lugares, as mentiras, as mistificações, as ilusões passem a ser percebidas mais rapidamente. Isso tem gerado reações colossais de inconformismo, dosadas na maior parte das vezes de bom senso e desassombro cívico. É como se, de repente, no quarto de despejo de uma casa, a lâmpada de 40 watts fosse trocada por uma de 100 watts. A sujeira encontrada é removida e fica acentuadamente diminuída a tentação de lançá-la debaixo do tapete.

Profusa luminosidade

Senhoras e Senhores, conforta-nos reconhecer que esta celebração dos 100 anos do Lions acha-se impregnada de profusa luminosidade. Luminosidade brotada de corações fervorosos. Um mundão de gente que sabe buscar, nos mananciais humanísticos e espirituais, na esperança que fortalece o espírito, no trabalho transformador, lições de vida escoradas em boas ideias, boas palavras e fecundas ações.

Vemos aqui, no itinerário do Lions, nos exemplos de vida dos homenageados, dos valorosos cidadãos e instituições reunidos nesta festa de singular beleza e de irretocável expressão cívica e cultural, a demonstração loquaz de que existem, sim, saídas para as crises que atormentam a sociedade de nossos tempos.

Terra, ponto de partida

O mundo pode, sim, como não, ser refeito. Ser reconectado com sua humanidade. Com base na misericórdia, na justiça social, na esperança - esse impulso heroico da alma -, no labor, na reta conjugação de vontades em torno dos valores éticos. No entendimento de que a vida é uma dádiva preciosa de Deus, e de que a Terra não é destino final, mas ponto de partida.

Sendo comprida, muito extensa, por se embrenhar eternidade afora, a vida consegue abarcar perfeitamente, em plenitude, o amor eterno, de maneira a que sempre ainda sobeje vida, como se proclama liricamente na fala do poeta. Palavra de Leão!


Pronunciamento da representante dos homenageados

Na mesma cerimônia, a professora Elza de Moura, 103 anos, agraciada com a comenda “JK - Cultura, Civismo e Desenvolvimento”, outorgada pela Academia Mineira de Leonismo, fez o discurso apresentado na sequência.

“Fazer 100 anos é um acontecimento marcante para o aniversariante e também para os amigos. O centenário parece um produto raro, contemplado com admiração, embora não ser difícil de ser uma vida de lutas, vitórias e derrotas, alegria e tristeza e todos aqueles ingredientes que acompanham uma vida.

Contemplar a relação das instituições citadas na homenagem, cada uma delas revela uma existência de muitas batalhas; o que é importante, porém, é o alvo alcançado e ainda o por alcançar: na educação, na religião, nos negócios, no esporte, na defesa nossa, um mundo complexo, com objetivos diversos, mas todos em direção à vitória.

Uma efervescência de atividades de grande importância de que a humanidade necessita para o seu desenvolvimento e felicidade. Todo trabalho é sagrado e damos graças a Deus pela existência do trabalho, fonte de alegria e realização.

Essas instituições centenárias, que hoje são justamente homenageadas, que sigam seu caminho escolhido, trazendo felicidades para seus seguidores, contribuindo para o desenvolvimento inteligente da nação, do nosso povo. Dessas instituições centenárias, peço a liberdade de destacar a Polícia Militar de Minas Gerais, porque sou filha dela e, se hoje estou aqui nessa noite maravilhosa, foi graças à perfeição do HMG, que me devolveu a saúde, e ao Instituto de Educação, na antiga Escola Normal Modelo, porque foi lá que cresci em todos os sentidos, indicando-me o melhor caminho para a minha vida.

Parabéns a esses gigantes que conseguiram desafiar todas as dificuldades sendo vencedores. São heróis, não como Brecht cita no Galileu e Galilei, heróis de lutas sangrentas, mas pacíficas e vamos esquecer a frase de Brecht: “Infeliz da nação que precisa de heróis.”

Quando jovens, líamos José de Alencar, que inicia um dos seus mais famosos romances, assim: “Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. “Esta serra alonga os olhares, não limita e faz-nos ver muito além”. E Minas, cercada de montanhas, é um marco do mineiro. Antonil, no século 18, já dizia: “No campo há alegria; na montanha, meditação.”

Um espanhol teve a primeira visão das montanhas de Minas, lá pelo ano de 1553, homem considerado de bem e de verdade e de grande espírito, penetrou pelo norte, colhendo preciosas informações. Tempos depois, surgiria o tipo mineiro se moldando aos poucos, até a revelação de Machado de Assis: “O mineiro é a premissa antes da conclusão; a conclusão antes da consequência. Mas ao lado, ou dentro desse mineiro, há o que é capaz de passadas de gigante, saltando vales e varando montanhas.” Guimarães Rosa alerta: “Nada devora mais que o horizonte.” As serras alongam o olhar e nada fica limitado. Escreve Augusto de Lima: “Plenilúnio de maio em montanhas de Minas” e estamos naquela paisagem onde os raios da lua invadem os contornos das serrarias flutuando na paisagem. E mais ainda Guimarães Rosa: “Minas Gerais principia de dentro para fora e do céu para o chão.” E Oswaldo França Junior exclama: “Lá é um lugar com morros e mais morros. Olhando do alto de um deles, a terra parece um mar de ondas sem fim.” A montanha nos oprime ou nos liberta? E Carlos Drumond de Andrade evoca Guignard pedindo que volte: “Volta, Guignard, de corpo restaurado ao mundo material, de onde extraias o delicado mundo guignardiano entre balões, nas altas serrarias.”

Nessa paisagem montanhosa, um vulto se destaca: O JK, o Nonô, o Juscelino Kubitschek de Oliveira, considerado o maior homem público do Brasil. Mesmo habitante das alturas não é fácil subir montanhas e o nosso patrício de Diamantina subiu muitas e muitas montanhas, durante a sua fecunda vida, enfrentou muitas dificuldades, mas sempre avançou. Emile Zola proclama: “As dificuldades, como as montanhas, aplainam-se quando avançamos.” “Cinquenta anos em cinco” volta ao nosso desejo de ressuscitar a nossa pátria, hoje tão destroçada. Evocamos o JK, médico da PM, enfrentando os grandes perigos na Serra da Mantiqueira, como médico, no vagão-hospital, salvando vidas, na Revolução de 32. Da montanha para a montanha, em ato nobre. Minas, de Tiradentes, realizando grandes feitos, em todos os campos, na colônia, no império, na república, a marca de Minas é inapagável. A montanha amplia e quem sabe o ideário mineiro, a presença da liberdade, a elevada cultura, as grandes iniciativas sejam a nossa marca.

A figura de JK nunca será olvidada, seu caráter, sua capacidade de realização, seu patriotismo, sua simpatia e simplicidade marcaram o povo brasileiro.

Villa-Lobos, tão preocupado com nossa brasilidade, compôs, um orfeão e três vozes, com letra de Paula Barros: Desfile aos heróis do Brasil. Juscelino é um deles, acompanhado de outros heróis. Como diz o coral: “Glória aos homens que elevam a pátria querida que é o nosso Brasil”, com especial lugar ao nosso JK, pela sua vida de grandes lutas e sofrimentos, um marco na história do Brasil. Glória eterna ao nosso JK.”


Imagens da memorável celebração

Teatro Sesiminas: Lions presta homenagens a
cidadãos e instituições centenários

Convidados lotaram o teatro

 Pronunciamento de Cesar Vanucci

Concerto da Orquestra Sinfônica da PMMG

 “Capsula do tempo”: ato realizado na sede do Lions

Um comentário:

Unknown disse...

Adorei sua cobertura do belo e gostoso evento do Lions, obrigado, amigo e emérito Presidente César Vanucci! Rogerio Zola Santiago

A SAGA LANDELL MOURA

O instinto belicoso do bicho-homem

                                                                                                     *Cesar Vanucci Faço um premente a...