sexta-feira, 5 de junho de 2015


Situações bem distintas

Cesar Vanucci 

“A Petrobras não vai parar.
Não vai dar marcha a ré.”
(Aldemir Bendini, presidente da empresa)

É preciso separar bem as coisas. Uma coisa é o escândalo objeto de investigação. Escândalo este enfrentado com apropriado rigor institucional, de forma a desestimular eventuais tentativas no sentido de aliviar as responsabilidades criminais dos autores das malfeitorias praticadas. Outra coisa é a Petrobras em si mesma. Estamos falando da história legendária de uma empresa com cintilante trajetória. Uma empresa que soube alcançar patamares de excelência dentro da importantíssima missão de que se acha investida de assegurar ao Brasil lugar realçante no mapa das potencias petrolíferas.

Apesar de todos os pesares, a estatal de energia – não se pode olvidar o fato – continua sendo a maior empresa do país. Uma das companhias mais importantes do mundo.  Há que se deplorar, sim, tenha sido alvejada impiedosamente pela corrupção. Bandalheiras de todo tamanho articuladas por uma máfia voraz, composta de executivos de 27 empreiteiras, de 4 ex-diretores e de políticos em número ainda não totalmente definido.  Todos devidamente identificados em processos conduzidos com firmeza nas instancias competentes. 

Observando, agora, por um outro prisma a questão da Petrobras, dá para perceber, também, sinais promissores de sua tão almejada recuperação. A empresa vem retomando a caminhada inerente à sua natural vocação. Ancorada, obviamente, nas potencialidades que ostenta em razão de seus excelentes recursos técnicos e humanos e das alentadoras perspectivas de negócios nas áreas onde atua.

“A empresa não vai parar!” Afiança, com fervorosa convicção, o presidente Aldemir Bendini. “Não dará marcha a ré. Estamos empenhados em passar a limpo os erros e a recomposição tem mostrado resultados” – acrescenta. Números e dados animadores dão suporte à fala do dirigente. A Petrobras foi a única do setor energético a acusar aumento de produção em 2014. Colocou em oferta mais 230 milhões de barris/dia de petróleo. Enquanto isso, suas concorrentes de maior porte registraram, em igual período, acentuados declínios na produção. A Exxonmobil, queda da ordem de 570 milhões de barris/dia; a British Petroleum, de 548 milhões de barris/dia; a Shell, de 546 milhões de barris/dia; a Chevron, de 50 milhões de barris/dia. Malgrado todos os percalços conhecidos, acaba de conquistar, graças às tecnologias de ponta desenvolvidas pelo seu abalizado corpo técnico, o “OTC Award 2015”, o mais importante prêmio da indústria mundial de óleo e gás.

Empréstimos recentes, como o que foi anunciado por um banco chinês, o maior do mundo, (3 bilhões e 500 milhões de dólares, na maior operação do gênero já ocorrida na América Latina), parecem haver preenchido satisfatoriamente as necessidades do financiamento previsto para o exercício em curso. De outro lado, os aportes de recursos milionários derivados de parcerias – com os chineses novamente em cena –, robusteceram consideravelmente as condições operacionais da organização no esforço empreendido de recompor-se administrativamente. O ritmo atual de produção, pelo que tudo indica, vai permitir sejam colhidos a tempo e a hora os frutos dos enormes investimentos e das fabulosas descobertas de jazidas na chamada “província do pré-sal” entre 2006 e 2014.

No ver de qualificados especialistas, a empresa terá que seguir inabalável na sua estratégia de produção, resistindo às pressões presentemente feitas visando a alteração do modelo vigente de exploração de petróleo e gás. A sociedade brasileira precisa, nessa linha de raciocínio, manter ligados seus aparelhos de percepção, atenta à advertência que faz, a propósito dessas fortes pressões, entre outros, o economista Júlio Miragaya, dirigente do Conselho Federal de Economia. Diz ele: “Desde que o Brasil adotou o regime de partilha, as corporações do setor, de forma indireta, mediante analistas do setor financeiro, agências de risco e aliados locais, fecharam o cerco à Petrobras. O objetivo imediato é torpedear o modelo de partilha e, no médio prazo, desidratar a Petrobras, visando  posterior privatização. Algo parecido com o que estão fazendo no México com a Pemex”.

Isso aí. Como dito no começo do comentário, precisamos separar bem as coisas. Afigura-se claro nesta hora que a indignação e o desconforto suscitados pelas maracutaias denunciadas não podem se aprestar, ao contrário do desejo de alguns setores despojados de sentimento nacional e consciência cívica, a tumultuar a execução plena do projeto de afirmação da soberania nacional inserido inarredavelmente nos destinos da Petrobras.


Despudorada impertinência

Cesar Vanucci 

“Outro dia, na sala de aula, um aluno fez esta interessante
 pergunta: - quem avalia as “avaliações das agências de risco?"
(Antônio Luiz da Costa, professor)

Deu no jornal. Uma agência estrangeira, com sede em Manhattan, entendeu de rebaixar os “ratings” da Vale. Passou o “rating” de crédito corporativo da empresa de BBB+ para BBB, com “perspectiva negativa”, seja lá o que essa anotação signifique no dialeto dos negócios...

Colho, de quando em vez, com “a pulga atrás da orelha”, informações assemelhadas. As assim denominadas “agências de classificação de riscos” - uma delas tem, por sinal, nome parecido com o de uma conhecida marca de absorvente intimo feminino -, contando sempre com solícita acolhida na grande mídia, comparecem volta e meia a público para anunciar, impávidas, colosso, em atitude de desbordante arrogância, “por mais isso ou por mais aquilo”, rebaixamentos de notas. Alvejam grandes conglomerados industriais e organizações bancárias, por aí. Esticam de tal jeito a petulância, ao ponto de incluir, até mesmo, em inimaginável ousadia, nos boletins de notas, países inteiros. Ou seja, atribuem-se o “direito divino”, como “mestres-escolas da humanidade”, de emitirem periodicamente “pontuações de mérito” a gigantescas extensões de terra com gente dentro. Contemplam nas doutas avaliações nações com colossal dinâmica de vida. Com peculiaridades culturais, patrimônios de riquezas, grupos sociais diversificados, com poderes constituídos, com complexa estrutura constitucional, hábitos comportamentais típicos, crenças, esquemas sociais específicos voltados para o efervescente processo de construção humana. Tudo, tudo é colocado descerimoniosamente na alça de mira de emproados analistas, “investidos” por vontade própria da função de integrantes de uma corte suprema universal encarregada de estabelecer acórdãos inapeláveis sobre a conduta econômica.

Embora, sob o clarão do bom senso e a partir de uma percepção humanística da aventura da vida, o procedimento dessas agências atinja as raias da mais despudorada impertinência, traduza colossal disparate, há quem se disponha a levá-las a sério. Muito a sério. Exatamente ele, o “mercado”. Melhor dizendo, esse ser ectoplásmico que ninguém consegue ver ou apalpar, mas que se arroga o direito de, impelido por conveniências indecifráveis, impingir regras de como proceder, nem sempre sensatas, à sociedade. Serve-se, ainda, oportunisticamente, matreiramente, das “abalizadas manifestações” de tais organismos, melhor explicitando, das agências de risco, para ziguezagueantes manobras especulativas, ao gosto dos insaciáveis apetites de patotas entrincheiradas nos bastidores.

Os países de economia emergente são – tá mais que evidente – o alvo predileto das agências. O jogo dos interesses clandestinos fica aguçado na hora das pontuações de encomenda. Alguma “torcida organizada”, nalgum lugar, num dado momento, tal como fazem cruzeirenses, atleticanos, flamenguistas e corintianos nas arquibancadas na expectativa do gol, acompanha com emoção os “rebaixamentos” de notas, as alterações do denominado “rating”, olhos fixos no placar das vantagens que se consiga extrair das “pontuações” atribuídas aos entes jurídicos tratados pelas agências como meros educandos, aprendizes de voo à espera do brevê.

Sobre o tremendo absurdo de que se reveste essa situação, a grande mídia, receptiva a divulgar com destaque as manifestações das agências, estranhavelmente se cala. Nada de elucidar as pessoas sobre questões cruciais ligadas a tais órgãos. Há uma pergunta entalada na garganta de todo mundo que ninguém se dá nunca ao trabalho de responder. A ação desenvolta dessas agências, assumindo papel de suprema instância judicante na vida econômica dos países emergentes, é garantida, é regulada, é legitimada mesmo por qual poder superior? Hein? Outra indagação: Por qual razão ninguém se anima a explicar, tampouco, a suspeitosíssima condição em que essas mesmas agências foram surpreendidas quando daquele estouro da bolha imobiliária, que tanta devastação econômica produziu? Com seu alardeado e festejado aparato técnico para aviar diagnósticos econômicos, “por qual relevante motivo” nenhuma delas se deu ao trabalho de emitir a mais leve consideração acerca do formidando escândalo de 2008? Não se perca, a propósito, de vista o elucidativo registro de que a localização de todas elas era, a bem dizer, no epicentro do furacão que, da noite para o dia, revolveu a vida de bilhões de pessoas.

Tem mais pergunta: Quem quiser que responda. Faz qualquer sentido a valorização, com espalhafato midiático, que alguns setores costumeiramente conferem a pareceres elaborados por técnicos estrangeiros plantados em gabinetes distanciados milhares de quilômetros das realidades comentadas?

Por exemplo, parecer relativo a uma empresa da magnitude da Vale, de cuja portentosa cadeia produtiva, de dimensão continental, talvez só conheçam meras ilustrações coloridas constantes de algum portfólio largado em suas mesas?

Encurtando razões, agência de classificação de risco é que nem aquele kit de primeiros socorros que o governo brasileiro, anos atrás, andou forçando os motoristas, sob ameaça de multa, a carregarem nos porta-malas dos carros. Serve pra nada. É uma coisa tal qual, que sem ela a economia permanecerá tal qual.


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