quarta-feira, 17 de junho de 2015

Mas como se parecem...

Cesar Vanucci

“Nossos partidos são verso e reverso de uma mesma moeda.”
(Domingos Justino Pinto, educador)


Observadores da cena política não contaminados pelas incandescentes paixões partidárias se divertem à pamparra quando, amiúde, valendo-se sobretudo do noticiário nosso de cada dia, constatam que as reações dos dirigentes das diferentes legendas são muitíssimo parecidas, muito embora haja recusa peremptória destes em  admiti-lo.

Vejamos, por exemplo, como se comportam uns e outros diante da revelação de uma maracutaia qualquer, onde correligionários ou desafetos, por vezes atuando juntos, o que não é assim tão raro de ocorrer, são pilhados com a “boca na botija”. Se o personagem incriminado joga no mesmo time, tudo não passa de “um lamentável equívoco, a ser mais adiante devidamente desfeito”, enquanto se aguarda o veredicto sereno da Justiça. Mas se o cara denunciado integra outro elenco, fica “bastante claro” que o “repulsivo ato” vindo a furo é uma prova eloquente a mais da “irrefreável propensão dos nossos adversários para práticas deslavadas de corrupção e enriquecimento ilícito”.

Quem se dá ao trabalho de acompanhar a cobertura midiática dos escândalos do “mensalão petista”, “Lava Jato” – focalizados com maior intensidade pelos veículos de comunicação -; dos escândalos dos “zelotes”, do “mensalão tucano”, do “metrô de São Paulo”, das “contas secretas do HSBC” – focalizados com menor intensidade pelos mesmos veículos de comunicação –, tem ao dispor material vastíssimo para avaliar o comportamento de nossos políticos, comumente marcado por rematado e simplório corporativismo. Os vilões estão sempre “do outro lado”; os mocinhos vestem sempre “nossa gloriosa e imaculada camisa”...

O que acontece hoje, nesse capítulo das incongruências políticas, envolvendo, por exemplo, dirigentes do PT e do PSDB, lembra muito o que acontecia no passado envolvendo, por exemplo, PSD e UDN. O mesmo se aplica numa e noutra época, aos demais partidos. O elemento básico na avaliação dos posicionamentos políticos era e continua sendo regido por um dito famoso. Alguns dizem que a frase teria sido  cunhada por Antônio Carlos, ou por José Maria Alkmin, ou por um outro frasista político do naipe, ou, ainda, por um coronel dos cafundós do Judas, cujo nome se perdeu nas brumas do esquecimento. Cá está o dito: “Amigo meu não tem defeito. Inimigo, se não tem, eu boto!”.

Não resisto à tentação de contar aqui, não sei se já pela segunda vez ao longo das várias décadas acumuladas da publicação destas maltraçadas, uma historieta bastante emblemática relativa a esse assunto da incoerência dos políticos. Dela fui privilegiado testemunha ocular como repórter, em cidade do interior. Percorrendo as ladeiras da memória, percebo, esboçando sorriso quase chegado ao zombeteiro, que as acontecências políticas de então, muitos anos transcorridos, se revelam ainda incrivelmente familiares para dias de hoje.

Seguinte: a UDN e o PTB de Uberaba achavam-se empenhados em acirrada disputa eleitoral. Os udenistas aglutinavam em suas fileiras, predominantemente, pessoas dos estamentos sociais mais abonados financeiramente. Os petebistas, dotados de maior poder de fogo nas contendas eleitorais, contavam com apoios respeitáveis no meio universitário, na classe média e setores operários. Num dado momento, um dirigente do PTB desentendeu-se com os colegas, transferindo-se “de mala e cuia”, como era de costume dizer-se em tempos de antanho, para a banda contrária. Veio a ocupar, de imediato, o posto de presidente do diretório, ora, veja, pois... Uma semana antes da surpreendente mudança de sigla, o então petebista havia sido alvejado pelos paredros udenistas com expressões as mais injuriosas. Entre outras coisas ditas a seu respeito, pelos então impiedosos adversários, repentinamente transmutados em “leais correligionários”, havia o apelido pejorativo de “Gregório branco”. Alusão ao guarda-costas de Getúlio Vargas que provocou, com o atentado a Carlos Lacerda, o acirramento da crise que em 54 levou o Presidente da República ao suicídio.

Pois bem, na calorosa recepção ao novo companheiro de lutas e ideais, os lideres udenistas fizeram questão de apresenta-lo à praça como “um homem público de pensamento arejado, enorme sensibilidade social e popularidade junto às camadas humildes”.  Largaram mão da injuriosa comparação com Gregório, exaltando suas virtudes de “cidadão humanitário, possuidor de peregrinas virtudes, apóstolo das causas sociais”.

Isso aí, gente boa! Sem recorrer a grande esforço de memória, os leitores se lembrarão, por certo, de já haverem presenciado a encenação deste mesmo enredo, com outros protagonistas ligados a outras legendas, noutros lugares e ocasiões.


Falando de samba e de futebol

Cesar Vanucci

“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é.”
(Dorival Caymmi, genial compositor)

Calculo que já na saída do teatro, naquela noite friorenta de sábado, avançando por muitos dias semana adentro, rendidos ao fascínio do espetáculo, os espectadores se puseram a cantarolar ou assobiar, com prazerosa obsessão, trechos inteiros das empolgantes canções. Bem como a compassar com as mãos e pés os ritmos eletrizantes daquilo que haviam acabado de presenciar. “Sambra”, show sobre os cem anos do samba, precioso relicário de emoções, representou sob variados enfoques uma festividade musical de grandeza incomparável na história recente de nossa ribalda.

Liderada pelo grande sambista Diogo Nogueira (apresentador do interessante programa “Samba na Gamboa”, na TV Brasil, retransmitido pela TV Minas), uma equipe de intérpretes, instrumentistas e bailarinos de coruscante talento, brindou o público presente ao Palácio das Artes com um desfile musical que se ombreou com os melhores momentos do teatro-revista. Teatro-revista celebrizado nas atuações de Bibi Ferreira, Paulo Autran, Renata Fronzi, Virginia Lane, Augusto Cesar Vanucci, Agildo Ribeiro, Paulo Fortes e outros ícones da arte popular brasileira. E isso se tornou possível por estarem, todos eles, protagonistas do “Sambra”, ancorados num esplêndido roteiro concebido por Gustavo Gasparani, experiente diretor, e no apoio de técnicos de elevado gabarito em montagens cênicas.

Canções inolvidáveis dos inigualáveis compositores brasileiros foram mostradas em interpretações requintadas. Junto com elas o que se viu foram uma coreografia brejeira, situações bem humoradas, imagens marcantes salpicadas de sátira inteligente numa crítica social bem posta, onde se louvou a liberdade de criar e de exprimir ideias.  O espetáculo, falar verdade,  só não foi mais completo, em sua extensa duração, porque foram deixados de fora – como seria de se imaginar –, depois da criteriosa seleção das canções, centenas e centenas de músicas eternizadas na memória das ruas. Também, pudera! Do que estamos falando é de samba, a mais extraordinária manifestação de nossa cultura artística. Do que estamos mesmo falando é de um repertório inesgotável de canções memoráveis que, em nenhum lugar do mundo, o talento artístico local, voltado para outras modalidades de se fazer música, consegue de leve estocar. Pelo que, então, sobra pra nós a saborosa expectativa de, em futuro que imaginamos próximo, voltar ao teatro para ver mais versões do “Sambra”, fadadas, certeiramente, a exemplo da primeira, a retumbante sucesso.

A fala agora é sobre futebol.
Observadores do cenário político, com acesso aos bastidores do esporte, sustentam com ardorosa convicção a tese de que o noticiário sobre os escândalos do futebol, rendendo por ora manchetes vistosas desde a prisão dos cartolas na Suíça, tende a médio prazo a definhar aqui por estas abençoadas plagas brasílicas. Adicionam uma explicação: a  grande mídia não irá mais se sentir muito à vontade na divulgação de fatos ligados às investigações, quando começarem a pipocar pormenores sobre as operações articuladas pelo jornalista J. Hawilla, da Traffic, relativas à questão dos direitos de transmissão das partidas de futebol.
Segundo esses mesmos observadores, a CPI da CBF, instituída no Senado, vai enfrentar também adiante resistências poderosas, tanto no parlamento quanto nos meios de comunicação.
Esperar pra ver.

E o rei Pelé, hein? Não se emenda. Nas manifestações extra gramado não consegue, definitivamente, marcar gol. Chuta sempre a bola pra fora, mesmo sozinho diante das traves com o goleiro já batido. Seu último “feito” em termos de falação despropositada aconteceu em Havana. Estando em Cuba como ídolo maior do futebol para participar de um evento esportivo, não regateou elogios a Josef Blatter por sua reeleição à presidência da FIFA. A declaração foi feita horas antes da renúncia do cartola-mor, que abandonou o cargo esmagado pelas denúncias acumuladas contra a entidade que ajudou a desmoralizar.




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