sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Interpretando melhor o Brasil

“O Brasil não é para principiantes.”
(Tom Jobim)

Lendo e escutando coisas ditas em jornais, rádios e tevês a respeito deste nosso abençoado país sou levado a admitir, compartilhando conceito do genial Tom Jobim, que “o Brasil não é mesmo para principiantes.” Entendê-lo em sua efervescente diversidade não é tarefa mole.

A cada hora tropeçamos em informações que contradizem análises amiúde propagadas. A imagem do país pendurado por um fio na “beira do abismo”, tão do agrado de expoentes do pensamento fundamentalista, é colocada constantemente em xeque face a revelações nascidas de súbito que muitos, pirracentamente, insistem em não lançar como ganho na conta corrente do esforço desenvolvimentista nacional.

Temos aqui arrolados alguns exemplos frisantes. Especialistas na temática econômica sustentam com ardor que o Brasil é, hoje, sobretudo depois das eleições, ponto de destino ignorado, se não evitado, por investidores estrangeiros. Nada menos verdadeiro. É só mandar conferir. No exato momento em que estas maldatilografadas são lançadas, ostentamos airosamente a condição de quarta potência na lista das que mais recursos de procedência externa conseguem captar.

A situação por aqui – não é o que se afirma? - anda caótica, terrível, escalafobética, abacadabrante, como dizia o primo rico para o primo pobre no divertido programa humorístico do passado e vivem agora repetindo alguns festejados comentaristas econômicos. Mas a performance do nosso sistema bancário desmente isso. E chega a despertar inveja por aí afora. Verifiquemos. Vejamos, primeiramente, dados a respeito do que vem acontecendo no setor citado em outros países. Em países que aqui, no palco doméstico, alguns insistem em apontar como modelos de desenvolvimento ordenado.

O Banco Espírito Santo, maior e mais moderno grupo empresarial e financeiro de Portugal, simplesmente faliu. A derrocada obrigou o governo a despender a bagatela de 4.9 bilhões de euros (multiplicando-se esse valor por 3.14 teremos o montante do estrago em reais) para resgatá-lo, ou seja estatizá-lo, de forma a evitar verdadeira catástrofe financeira em cadeia na economia lusitana. Na Comunidade Europeia, o Banco Central acaba de anunciar que das 130 mais importantes instituições bancárias localizadas em sua jurisdição fiscal, agora em novembro, 25 foram reprovadas no “teste de estresse” aplicado.

Dos Bancos em questão, 9 são italianos, 3 são gregos, 3 são de Chipre, 2 da Bélgica, mais 2 da Eslovênia. Alemanha, Irlanda, Espanha, França, Áustria e Portugal entram, cada qual, com 1 banco nessa relação. Entre as organizações bancárias que andam mal das pernas figuram o Banco mais antigo do mundo, o Monte dei Paschi de Siena, italiano, e o Eurobank, grego. Antes dessa avaliação do Banco Central Europeu, o Bankia, o Novagalicia, o CalunyaCaixa e o Banco de Valência, todos espanhóis, faliram estrepitosamente. Para que o estrago não fosse maior, o governo de Madri viu-se compelido a estatizá-los a um custo de 37 bilhões de euros (convido o leitor, outra vez, a fazer a operação de multiplicação).

Seguindo essa linha de raciocínio cabe recordar a colossal injeção de dólares, estimada em trilhões, feita tempos atrás pelo Erário dos Estados Unidos na tentativa de impedir a bancarrota dos maiores conglomerados bancários do país. A medida foi acompanhada, como se recorda, de uma tremenda maracutaia que provocou devastador impacto na sociedade estadunidense. Dirigentes dos bancos beneficiados resolveram contabilizar a dinheirama do Tesouro como resultado operacional com o fito de se apoderarem de milionárias gratificações e polpudos dividendos, numa inequívoca comprovação de que a corrupção é mesmo um malefício planetário.

Pois bem, enquanto tudo isso rola lá fora, onde “os ventos sopram favoravelmente no plano econômico”, conforme tantos analistas tupiniquins vivem asseverando, o que é mesmo que vem pintando aqui neste nosso pedaço de chão, nos atuais momentos – segundo as mesmíssimas fontes – “tão dolorosamente adversos do ponto de vista econômico”? O que dizem mesmo os números referentes ao desempenho das organizações que operam no Brasil, representativas desse mesmo segmento econômico que, no plano internacional, opera com resultados tão perturbadores?  

Como diria, em tempos idos, o Ibrahim Sued (ou seria o Jacinto de Thormes?), depois eu conto. No artigo vindouro.


A real dimensão do problema

“Tem muito disso por aí: gente das classes
 abonadas chorando de barriga cheia!”
(Ouvido de uma dona de casa 
na feira de artesanato dominical)

Como exuberantemente demonstrado no comentário anterior, a atividade bancária vem sendo pontilhada de transtornos em numerosas regiões do planeta, o que naturalmente afeta os negócios econômicos com danosos  desdobramentos sociais.

A comparação entre os dados estampados no referido artigo e os indicadores do desempenho brasileiro nesse mesmo relevante segmento econômico é revelador – como não? – de que a economia nacional não apresenta, apesar dos pesares, a fragilidade que tantos analistas insistem em apregoar.

Aqui estão informações recentes do desempenho do setor bancário brasileiro. O Banco do Brasil teve lucro de 2.78 bilhões no terceiro trimestre. A carteira de crédito ampliada da instituição subiu para 732.7 bilhões. O incremento registrado nesse item foi da ordem de 12.3 por cento em 12 meses. A carteira de crédito pessoa física teve aumento no mesmo período de 6.9 por cento.

O Bradesco, com resultado líquido contábil de 3.875 bilhões no terceiro trimestre de 2014, cresceu em lucratividade 2.6 por cento em relação ao semestre anterior e 25.6 por cento no que concerne ao terceiro trimestre do ano passado. Sinalizando avanço de 2.6 por cento com referência aos números do trimestre passado, o Bradesco chegou a um lucro de 3.875 bilhões no terceiro trimestre. Sendo até aqui de 11.227 bilhões o resultado acumulado, a alta consignada na lucratividade é de 24.7 por cento, comparando-se os números dos primeiros nove meses do ano de 2013. O estoque de financiamentos da economia avançou no Banco cerca de 7.7 por cento no período de um ano.

Já o lucro líquido do Itaú Unibanco alcançou no período julho-setembro deste ano, a expressiva soma de 5.4 bilhões. Esse valor é superior em 10.3 por cento aos valores atingidos nos três meses anteriores. De janeiro a setembro os ganhos da organização chegaram a 14.722 bilhões.

O BNDES, banco de fomento ao desenvolvimento, responsável pela canalização de recursos para empreendimentos empresariais de vulto, registrou lucro de 7.399 bilhões até setembro de 2014, o melhor para o período desde muitos anos para cá. Acusou também alta de 26.6 por cento nos negócios de intermediação financeira voltada para empresas.

A Caixa Econômica Federal, por sua vez, anotou lucro de 1.9 bilhão no terceiro trimestre. Elevação de 1.7 por cento ante os números apresentados em igual período de 2013. O estoque de financiamentos dessa organização estatal atingiu, no mesmo espaço de tempo, 576.4 bilhões, incremento da ordem de 24.4 por cento.

Concluindo essa amostragem da performance do sistema bancário brasileiro, no todo extremamente satisfatória considerados os balanços apresentados, destacamos ainda que o lucro do Santander foi de 1.58 bilhão nos primeiros nove meses de 2014. Seja ressaltado que no Brasil esse banco de origem espanhola opera com resultado positivo ao contrário do que ocorre em seu país de origem.

Muitos outros elementos, além dos acima registrados, podem ser também arguidos como constatação de que a problemática econômica brasileira - clamando obviamente por atenção e cuidados especiais e também por necessária e urgente alteração de rumos na gestão da coisa pública - não tem a dimensão desastrosa estampada nas avaliações equivocadas, amiúde divulgadas.

O Brasil vem implantando, neste momento, muitos empreendimentos infraestruturais de vulto nas áreas da energia, do transporte, da construção civil e por aí vai. Os aeroportos e os aviões de carreira acham-se sempre repletos de passageiros, noite e dia, indo e voltando. As rodoviárias e os ônibus, idem, idem, com a mesma data. Os shoppings, pela mesma forma. Lojas, restaurantes e bares abarrotados. Nesses centros de concentração comercial, há fila pra tudo. O cenário noutros locais de polarização comercial é parecido. Tudo cheio, todo dia. Fila pra estacionamento, pra refeição, pra uso de instalação sanitária. A movimentação urbana deixa evidenciado que as frotas de taxis são insuficientes para atender as encomendas. A movimentação turística de patrícios é intensa. Cá dentro e lá fora. Voltando o olhar para o que acontece na esfera social, deparamo-nos com índices de empregabilidade razoavelmente estáveis.


Pergunta lógica: de onde sai, então, afinal de contas, a dinheirama pra toda essa frenética movimentação? Será que de uma economia hiper debilitada, desmantelada, como trombeteado nas falas de alguns incorrigíveis plantonistas do desalento? Hein, hein?

JOGO ANIMADO

Veja, ao lado, no "Jogo Animado", uma esclarecedora reportagem televisiva (Rede Record) sobre o exorbitante custo de veículos no Brasil, com comentários adicionais de um internauta inconformado.
O material vem circulando nas redes sociais.

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