sexta-feira, 23 de março de 2012

Profecias apocalípticas

Cesar Vanucci *


“Haverá escuridão total.”
(Princesa Kaoru Nakamaru, da casa real japonesa,
alertando para os dias de trevas que se aproximam)


Os profetas do apocalipse estão com tudo e com toda prosa. Anunciam, com fervorosa convicção, que chegado o final dos tempos. Utilizam interpretações de livros sagrados de diferentes correntes do pensamento espiritual e filosófico, de códigos ditos maias, astecas, incas, egípcios, para embasar suas teses e teorias acerca da iminência de catástrofes avassaladoras, inimagináveis.

Este ano de 2012 vem sendo apontado como decisivo nessa linha de conjeturas. Algo muito sério, capaz de transformar tudo, de desmontar implacavelmente as estruturas de vida consolidadas nesta ilhota perdida na vastidão oceânica do espaço cósmico conhecida por Terra, está prestes a acontecer. As previsões mais propagadas dizem respeito a reações incontroláveis da Natureza, a conflito bélico com emprego de energia nuclear, a uma colisão inesperada do planeta com asteróide de grande dimensão.

Não deixa de ser intrigante anotar que, entre autores das predições sombrias, ao lado de estudiosos de fenômenos exotéricos, de fanáticos religiosos, figuram também conhecidos cientistas.

Chega-nos ao conhecimento, que da extensa relação dos profetas do holocausto faz parte também, curiosamente, impensável personagem da mais enraizada casa real das poucas que ainda resistem, no cenário mundial, ao sopro político renovador que sacode os tempos de hoje. Estou falando da casa real japonesa que, diferentemente de várias monarquias da Europa e de outros continentes, mais toleradas do que propriamente assimiladas, conserva ainda nos dias atuais vínculos de genuína sacralidade com a cultura religiosa da população. Imperador no Japão é figura transcendente. De descendência divina. Hiroito integrou o “eixo do mal” que desencadeou a 2ª Guerra Mundial. Ao contrário de Hitler e Mussolini, seus parceiros em façanhas abomináveis, garantiu-se tranquilamente no poder. Os vencedores do conflito não o chamaram a prestar contas dos malfeitos em Nuremberg. A veneração popular ao representante de uma monarquia milenar contou tanto ou mais quanto as estratégias geopolíticas em jogo, na decisão tomada de não se molestar Sua Alteza Imperial.

Entra aqui, agora, em cena a princesa Kaoru Nakamaru, figura respeitada da casa real nipônica. Uma mulher culta, com formação em política internacional e jornalismo, aclamada em 1973 pela revista “Newsweek” como “entrevistador nº 1 do mundo”, descrita pelo “Washington Post”, como “uma dessas raras mulheres com sensibilidade de destaque internacional”. Autora de 40 livros, empenhada na causa da paz, criou um Instituto com ramificações mundiais, entrevistando e contatando dignitários famosos, abrindo portas para conversações nos lugares mais difíceis. Para dar um exemplo, a Coréia do Norte.

Ela sustenta a tese de que o poder político, a riqueza, a fama não fazem as pessoas felizes e que a felicidade se projeta de corações abastecidos de amor, harmonia e paz.

Explicado tudo isto a respeito da princesa, vamos tomar conhecimento, em seguida, de incríveis declarações de sua autoria que acabam de vir a público e que se acham alinhadas com as profecias apocalípticas que correm mundo. Na “Pythagoras Conference Global 2012”, Kaoru jogou no ar afirmações inquietantes. Depois de dizer, clara e categoricamente, que se comunica com seres inteligentes de outros mundos e de registrar que no interior de nosso planeta existe uma civilização muito desenvolvida, Nakamaru revelou – olha só a precisão da data – que, de 22 de dezembro deste ano em diante, por três dias e três noites, quando a Terra vai passar para a quinta dimensão, a humanidade não conseguirá mais usar a eletricidade. “Haverá escuridão total, dia e noite sem sol, sem estrelas, sem mídia de massa, sem nenhuma informação.” Acrescentou que, em muitos lugares, uma pequena elite acredita que poderá ser salva, em cidades subterrâneas que estão implantando. Mas “essas pessoas não vão estar de fato seguras”, arrematou.

Às profecias já divulgadas, junte-se mais esse prognóstico estranho, com o registro assaz instigante de sua origem.



A estratégia de Serra

“O sonho da Presidência ficará adormecido.”
(Declaração de José Serra, recebida com dúvidas,
ao lançar-se candidato à Prefeitura de São Paulo)


O intuito de José Serra, lançando-se candidato à Prefeitura de São Paulo, atropelando com o estilo que o caracteriza pretendentes ao cargo em suas próprias hostes e soterrando de vez a proposta partidária de prévias para escolha de nome, é mais do que claro. O comando administrativo do mais importante município brasileiro, na hipótese da vitória sorrir ao conhecido prócer tucano nas urnas de outubro, é o cacife com o qual passará a contar para o novo voo que se mostra disposto a alçar como candidato das forças da oposição à Presidência.

A circunstância de que a almejada disputa pela função de supremo mandatário da Nação implique, na hipótese de eleito Prefeito, na interrupção do mandato, não representa, em se tratando do personagem citado, empecilho algum.

Em dois momentos administrativos recentes, Serra deixou as funções desempenhadas, na tentativa de galgar posições de realce maior na caminhada política. Quando da eleição ganha para o cargo que volta agora a cobiçar chegou a firmar até declaração em Cartório, garantindo que não interromperia, a pretexto algum, o exercício do mandato. Exibiu-a, em compromisso solene com o eleitorado, valendo-se de enorme estridência marqueteira, ao longo de toda campanha. Descumpriu o trato.

A maioria dos observadores políticos não põe fé nenhuma, por essa e por outras, no anúncio dado, ao confessar-se candidato a Prefeito, de que o sonho de Presidência da República vai ficar adormecido até 2016. Até mesmo porque, a toda hora, em reações políticas de leitura inequívoca, parte da grande mídia paulista e grupos poderosos altamente representativos da elite quatrocentona bandeirante não fazem por onde esconder sua ardente aspiração em poder alojar alguém de estrita confiança e simpatia, fiel aos seus interesses, na curul presidencial.

Fica claro que a estratégia de Serra e companheiros está sujeita a chuvas e trovoadas. Comporta riscos, devidamente calculados, supõe-se, pela cúpula pessedebista da paulicéia. Uma derrota no pleito municipal, que começa a partir dessa definição a adquirir contorno de prévia para o prélio presidencial, sepultará pra todo sempre as ambições do ex-governador paulista de se tornar Presidente. Em caso contrário, ou seja, na hipótese de que consiga infligir derrota ao candidato a ser apoiado por Lula e pelo PT na eleição para a Prefeitura, o que acontecerá, inapelavelmente, como dois e dois são quatro, sabe-se disso, com absoluta certeza, do Oiapoque ao Chui, é a reapresentação em grande estilo, pompa e gala, do nome de Serra, numa imposição irresistível dos setores paulistas acima identificados, como disputante, uma vez mais, para o que der e vier, da chefia do Governo Federal. Ele continua sendo, pelo visto, o personagem que desfruta da preferência desses articulados setores paulistanos para empunhar, em 2014, a bandeira da oposição, fazendo frente ao nome que venha a ser apoiado por Lula, por Dilma. Talvez até a um desses dois, quem sabe?

Esperar pra ver.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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