sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

 
Ápice da boçalidade

Cesar Vanucci *

“Pode bisbilhotar. É a fofoca em horário nobre e em escala nacional.
 Não fique de fora, espie à vontade.”
(Pedro Bial, apresentador do BBB)

Nessa mixórdia toda, o que menos conta é o estupro ao vivo e a cores que, aliás, não aconteceu. Vê lá se o BBB carece de qualquer ingrediente escabroso extra para alcançar de forma estrepitosa, como do gosto dos que o produzem, o ápice da boçalidade!

A tal cena de sexo explícito que tanta polêmica rendeu, admitida consensualmente pelos personagens atracados sob as cobertas e, inequivocamente, pelos que conduziram as lascivas filmagens não passa mesmo, no duro da batatolina, de baixaria encaixada no enredo mode fazer crescer ibope. O mau gosto dominante no mais difundido “reality show” em exibição, como todos os demais um desfile de barbaridade e vulgaridade que empobrece culturalmente a televisão, é congênito. Mal de raiz, por assim dizer. Está na essência, no conceito do programa. Não é agora que as barreiras éticas e, até mesmo, legais estão sendo transpostas. Isso vem acontecendo desde o começo da nefasta série. Desde quando a Globo resolveu abdicar de sua privilegiada condição em ocupar o espaço nobre concedido ao BBB com entretenimento de qualidade nascido do engenho e arte da talentosa equipe de produtores, atores, diretores e intérpretes responsável, no passado, pelo assim denominado “padrão global”. Esquecida de que o padrão global mencionado tem proporcionado à rede e seus colaboradores prêmios sem conta de ressonância mundial, na faixa dos espetáculos musicais, na dramaturgia e no jornalismo. Decisões despojadas de sensibilidade cultural e educativa levaram à desastrada opção de se por no ar, já neste momento em 12ª versão, um produto simplesmente inqualificável. Um programa de origem estrangeira extraído da sarjeta televisiva. Uma “atração” que cria, a todo instante, circunstâncias facilitadoras para que se possa rodar filmete pornô “adaptado ao ambiente familiar”, com o deseducativo intuito de impressionar platéia pouco exigente, que se deixa enredar pela babaquice e indigência intelectual das “celebridades instantâneas” convocadas a “estrelá-lo”.

Não há como deixar de consignar, no episódio, que muitas reações furibundas derivadas das cenas do tal estupro que não houve, entre elas, de força realçante, o ato “moralizador” da Globo excluindo do “palco” o modelo profissional de epiderme escura por haver se comportado de “forma inadequada”, rescendeu a rematada hipocrisia. Puro farisaísmo. O que se viu e se reprovou é o que sempre se vê. Pra fins de “moralização” em regra da coisa, a posição correta a tomar é reformatar o programa por inteiro. Melhor do que isso: retirá-lo para sempre da grade. Ocupar o espaço nobre mal utilizado com produto artístico e cultural de qualidade tolerável. Um produto que possa trazer, sim, resultados lucrativos, mas que não se apreste à disseminação da burrice, da mediocridade, da futilidade e da anti-cidadania.

No mais, é como disse um leitor, outro dia: os “bês” do programa querem dizer babaquice, besteiragem e boçalidade, apenas isso. Ou como lembra, em tirada bem humorada, um outro leitor: não vai demorar muito pra direção do BBB excluir outro figurante pelo fato de haver sido pilhado em flagrante lendo um livro.


Dilema atroz

“Não ia deixar minha família morrer por causa de dinheiro.”
(Maria Silva, ex-gerente de Banco, depois da demissão)

O espanto foi de tal tamanho, que me embaralhei todo na compreensão, de imediato, do que veio relatado com clareza no jornal. Precisei ler mais uma vez, devagarzinho, colocando redobrada atenção no texto.

A santa indignação do início acabou dando causa a um dilema atroz. Trago-o à consideração dos diletos leitores na expectativa de que consiga deslindá-lo com sua prestimosa ajuda.

Seguinte: a gerente e a tesoureira de uma agência de poderosa organização bancária, com ramificações espalhadas por tudo quanto é canto do país e atuação marcante em praças no estrangeiro, foram exemplarmente punidas – bota aspas nisso – por conduta profissional inadequada – aspas, de novo – em virtude de não terem sabido oferecer resistência física, galhardamente, a assalto cinematográfico praticado contra o estabelecimento onde prestavam, há anos, bons serviços, por uma quadrilha de facínoras da mais alta periculosidade. Facínoras – registre-se – que carregavam nas mãos, ameaçadoramente, “convincentes” instrumentos de intimidação.

A gangue monitorou, por bom tempo, os passos da gerente. Localizou-lhe a residência. Identificou com intuitos perversos seu núcleo familiar. Marido, filhos menores. Tomou-os como reféns, trancafiando-os sob a mira de revólveres, escopetas e metralhadoras. “Persuadiu”, na sequência, a servidora bancária a “cooperar” com os “nobres propósitos” do bando em apoderar-se do dinheiro trancado no cofre. Os “argumentos de persuasão” utilizados pelos “pacíficos” personagens levaram a gerente e a tesoureira da agência a atender o que, de forma tão “amável” e “fraternal” se lhes foi “suplicado”.

A reação do Banco diante dos acontecimentos foi de “rara nobreza”. “Altiva” e “vigorosa”. Foi tomada quando da volta das funcionárias ao batente, depois do período de repouso que lhes foi recomendado em consequência do lance traumático que marcou suas vidas. O anúncio da demissão de ambas por “mau procedimento”, à vista de haverem cedido, nas circunstâncias descritas, à pressão dos bandidos ocorreu, coincidentemente, na ocasião em que o Banco festejou, com compreensível alarde, notável proeza: atingiu lucro sem precedentes nas operações anuais de sua vitoriosa trajetória empresarial.

O resumo dessa desconcertante “melódia” deixa-nos informados de que a gerente e a tesoureira da agência perderam os empregos pelo motivo de não terem sabido enfrentar, com o “desassombro” exigido pelos superiores, seus cordatos captores. Ambas, as duas, recusaram-se, por sentimentos, naturalmente egoísticos, no modo de entender dos patrões, a assumir o papel estóico das heroínas dos filmes de ação. Negaram-se, denotando “falta de profissionalismo”, a trocar, num passe de mágica, como acontece nas fitas, a singela vestimenta de servidoras bancárias pela indumentária blindada da “Mulher Maravilha”, partindo, resolutas, para o enfrentamento dos sequestradores, subjugando-os e afastando, zelosamente, o risco da subtração da sagrada mufunfa sob sua guarda.

Sem dúvida alguma, a nos basearmos na escrupulosa avaliação dos executivos bancários, um bem muito mais precioso do que as vidas humanas sob a mira das armas.

Cabe falar, agora, do dilema atroz que me aflige. Dos estimados leitores rogo se manifestem de maneira a permitir decifrá-lo. Será que no capítulo das ocorrências desalmadas que alvejam a dignidade humana existirão diferenças substanciais nos procedimentos dos que coagiram e dos que desempregaram as duas moças?


A Copa, segundo Romário

Não há o mínimo de coerência na organização da Copa.”
(Deputado Romário)

Pelo boca a boca dos internautas, ao seu jeito comunicadores sociais atentos dos acontecimentos de nosso febricitante cotidiano, uma polêmica entrevista do deputado Romário, concedida ao jornalista Cosme Rimoli, da Rede Record de Televisão, ganhou impressionante repercussão. Pra se ter uma idéia, numa única semana o sítio deste desajeitado escriba acusou mais de duas dezenas de mensagens alusivas ao assunto.

Para leitores ainda não devidamente informados das declarações do famoso atleta, pertinentes a alguns personagens e aos preparativos da Copa do Mundo, considerei de oportunidade reproduzir aqui trechos da momentosa manifestação.

“Insisto em uma tese em Brasília, com os outros deputados. O Brasil só vai deixar de ser um país atrasado quando a educação for valorizada. O professor é uma das classes que menos ganha e é a mais importante. O Brasil cria gerações de pessoas ignorantes porque não valoriza a Educação. E seus professores. Não há interesse de que a população brasileira deixe de ser ignorante. Há quem se beneficie disso. As pessoas que comandam o País precisam passar a enxergar isso. A Saúde é importante? Lógico que é. Mas a Educação de um povo é muito mais.”

- Essa ignorância ajuda a corrupção? Por exemplo, que legado deixou o Pan do Rio? (pergunta do repórter)
“Você não tenha dúvidas que a ignorância é parceira da corrupção. Os gastos previstos para o Pan do Rio eram de, no máximo, R$ 400 milhões. Foram gastos R$ 3,5 bilhões. Vou dar um testemunho que nunca dei. Comprei alguns apartamentos na Vila Panamericana do Rio como investimento. A melhor coisa que fiz foi vender esses apartamentos rapidamente. Sabe por quê? A Vila do Pan foi construída em cima de um pântano. Está afundando. O Velódromo caríssimo está abandonado. Assim como o Complexo Aquático Maria Lenk... É um escândalo! Uma vergonha! Todos fingem não enxergar. Alguém ganhou muito dinheiro com o Panamericano do Rio. A ignorância da população é que deixa essa gente safada sossegada. Sabe que ninguém vai cobrar nada das autoridades. A população não sabe da força que tem. Por isso defendo os professores. Não temos base cultural nem para entender o que acontece ao nosso lado. E muito menos para perceber a força que temos. Para que gente poderosa vai querer a população consciente? O Pan do Rio custou quatro vezes mais do que este do México. Não deixou legado algum e ninguém abre a boca para reclamar.”

- Se o Pan foi assim, a Copa do Mundo no Brasil será uma festa para os corruptos...
“Vou te dar um dado assustador. A presidente Dilma havia afirmado, quando assumiu, que a Copa custaria R$ 42 bilhões. Já está em R$ 72 bilhões. E ninguém sabe onde os gastos vão parar. Ninguém. Com exceção de São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul e - olhe lá... Pernambuco... - todas as outras não terão uso constante. E não havia nem a necessidade de serem construídas. Eu vi onze das doze... Estive em onze sedes da Copa e posso afirmar sem medo. Tem muita coisa errada. E de propósito para beneficiar poucas pessoas. Por que o Brasil teve de fazer doze sedes e não oito, como sempre acontecia nos outros países? Basta pensar. Quem se beneficia com tantas arenas construídas que servirão apenas para três jogos da Copa? É revoltante. Não há a mínima coerência na organização da Copa no Brasil.”

- São Paulo acaba de ser confirmada como a sede da abertura da Copa. Você concorda?
“Como posso concordar? Colocaram lá três tijolinhos em Itaquera e pronto... E a sede da abertura é lá. Quem pode garantir que o estádio ficará pronto a tempo? Não é por ser São Paulo, mas eu não concordaria com essa situação em lugar nenhum do País. Quando as pessoas poderosas querem é assim que funcionam as coisas no Brasil. No Maracanã também vão gastar uma fortuna, mais de um bilhão. E ninguém tem certeza dos gastos. Nem terá. Prometem, falam, garantem mas não há transparência. Minha luta é para que as obras não fiquem atrasadas de propósito. E depois aceleradas com gastos que ninguém controla.”

- O que você acha de um estádio de mais de R$ 1 bilhão construído com recursos públicos? E entregue para um clube particular?
“Você está falando do estádio do Corinthians, não é? Não vou concordar nunca. Os incentivos públicos para um estádio particular são imorais. Seja de que clube for. De que cidade for. Não há meio de uma população consciente aceitar. Não deveria haver conversa de político que convencesse a todos a aceitar. Por isso repito que falta compreensão à população do que está acontecendo no Brasil para a Copa.”

- A Fifa vai fazer o que quer com o Brasil?
“Infelizmente, tudo indica que sim. Vai lucrar de R$ 3 a R$ 4 bilhões e não vai colocar um tostão no Brasil. É revoltante. Deveria dar apenas 10% para ajudar na Educação. Iria fazer um bem absurdo ao Brasil. Mas cadê coragem de cobrar alguma coisa da Fifa. Ela vai colocar o preço mais baixo dos ingressos da Copa a R$ 240,00. Só porque estamos brigando pela manutenção da meia entrada. É uma palhaçada! As classes C, D e E não vão ver a Copa no estádio. O Mundial é para a elite. Não é para o brasileiro comum assistir.”

- Ricardo Teixeira tem condições de comandar o processo do Mundial de 2014?
 “Não tem de saúde. Eu falei há mais de quatro meses que ele não suportaria a pressão. Ser presidente da CBF e do Comitê Organizador Local é demais para qualquer um. Ainda mais com a idade que ele tem. Não deu outra. Caiu no hospital. E ainda diz que vai levar esse processo até o final. Eu acho um absurdo.”

- Muito além da saúde de Ricardo Teixeira. Você acha que pelas várias denúncias, investigações da Polícia Federal..., ele tem condições morais de comandar a organização da Copa do Brasil?
 “Não. O Ricardo Teixeira não tem condições morais de organizar a Copa. Não, até provar que é inocente. Que não tem cabimento nenhuma das denúncias. Até lá, não tem condições morais de estar no comando de todo o processo. Muito menos do futebol brasileiro...”

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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