sexta-feira, 1 de abril de 2011

De igual para igual


Cesar Vanucci *


“O Brasil soube construir uma
 relação de confiança com o mundo.”
(Ex-chanceler Celso Amorim)

Barack Obama falou e disse.
Deixou claro, nesta primeira visita a América do Sul, decorridos menos de três meses da posse de Dilma Roussef, o enorme e compreensível interesse dos Estados Unidos em fortalecer substancialmente os tradicionais laços políticos e econômicos mantidos com o Brasil. Referiu-se com apreço e carinho à Presidenta Roussef e ao seu antecessor no Planalto. Aludiu, com simpatia, à luta em que esteve engajada pela redemocratização. E, no tocante a Lula, exaltou seu passado humilde e capacidade de superação das adversidades, magistralmente evidenciada na trajetória percorrida. Propôs-nos parceria “de igual para igual”. Destacando, com vivo entusiasmo, o atual estágio da democracia brasileira, elogiou nossos avanços sociais, apontando as conquistas econômicas e políticas como um exemplo para o mundo. Fez questão em sublinhar que o Brasil não é mais simplesmente o “país do futuro”. “Para o povo do Brasil, o futuro já chegou”, asseverou. Admitindo que “nossos países nem sempre concordaram em tudo” e que, “como muitas nações, vamos ter diferenças de opinião mais pra frente”, convidou o governo brasileiro, usando a força de audiência conquistada de tempos a esta parte no cenário mundial, a empreender ações conjugadas com os Estados Unidos, “com um espírito de respeito mútuo, comprometido com o progresso que podemos fazer juntos.”

As manifestações do chefe do governo da mais poderosa nação do planeta, nessa viagem de forte acentuação simbólica, reafirmaram no espírito popular a certeza de que o Brasil é reconhecido hoje, inequivocamente, como ator de realce em enredos palpitantes vividos no palco internacional. Concorreu para desfazer manjadas cantilenas derrotistas produzidas por diminuta e barulhenta facção, sempre enfezada e de mal com a vida. Um tipo de gente que se compraz em negar sistematicamente as conquistas e valores brasileiros. Empenhada em enfatizar sempre, com tintura espalhafatosa e extrapolação crítica, as circunstâncias indesejáveis e os aspectos vulneráveis em nossa atuação como comunidade organizada. Fotografando-nos invariavelmente como um povo despojado de capacidade e dons para empreitadas importantes, fadado irremediavelmente a desempenhar papéis secundários no processo da construção humana.

Deu pra perceber, com perfeita sonoridade e cristalina clareza, a diferença da conversa do atual mandatário estadunidense comparativamente com a de outros antigos ocupantes da Casa Branca. Deu pra sentir sua disposição para o diálogo aberto, para a troca de experiências. Tudo muito diferente das posturas arrogantes vistas noutros momentos e protagonizadas por outros personagens. Obama deixou demonstrado não mais existir a possibilidade de algum dirigente de seu país, num arroubo retórico durante visita oficial, por crassa ignorância ou por petulância e insensibilidade, confundir o Brasil com a Bolívia. Confessou-se devidamente convencido da inestimável contribuição que nosso país “democrático, pacífico, infenso a visões simplistas da realidade e que soube construir uma relação de confiança com todos os vizinhos pode dar não só na nossa região, mas para além dela”, como tão lucidamente registrou, a propósito da visita, o ex-chanceler Celso Amorim.

Revelou-se consciente de algo de suma relevância. Nem tudo que é bom para os Estados Unidos é bom também para o Brasil. Doutra parte, muita coisa que é boa para o Brasil pode também ser boa para seu país.

O relacionamento entre nações, para render frutos que realmente compensem, desconhece decisões impositivas e gestos de subordinação. Ancora-se em atos propositivos que sejam bons para todos.

* Jornalista (cantonius@click21.com.br)

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