terça-feira, 4 de novembro de 2025

Beto “desapareceu” na Casa da Morte

 

 

*Cesar Vanucci

“Seu amigo esteve aqui”

(Frase ouvida por Inês Ettiénne, na “Casa da Morte”)

 

 

Damos continuidade hoje ao relato da trágica odisseia vivida na era trevosa da ditadura, por uma pacata família de classe média mineira.

Inteirados da prisão do caçula Beto, seus pais, Jayme e Alice, ajudados pelos demais filhos, concentraram sues angustiantes esforços na procura do local em que ele poderia estar detido. Na sofrida empreitada endereçaram apelos a personagens graduados do regime, implorando lhes fosse dada a oportunidade de se avistarem com Carlos Alberto Soares de Freitas, de maneira a prestar-lhe alguma assistência. Foram surpreendidos, em certo momento, com manifestação do gabinete militar da Presidência da República. Recebidos por autos oficiais do gabinete, obtiveram ali a informação, reafirmada dias após em telefonema da mesma fonte, que o filho, com toda certeza, não se achava recolhido a nenhuma dependência prisional.

 Acerca da atuação de Beto, como opositor do regime, existem várias versões fragmentadas, desencontradas e controversas. Não padecem dúvidas de que ele, juntamente com Dilma Rousseff e outros fizeram parte de organização que operava na clandestinidade incrementando ações de desestabilização do governo. Companheiros seus da época, em depoimentos dados com a chegada da democracia, sustentam que ele abriu cisão no movimento  por opor-se à luta armada.

 A presa política, Inês Etiêne Romeu, companheira de jornada, única sobrevivente da apavorante “Casa da Morte” de Petrópolis, selvagemente estuprada, torturada e mutilada, forneceu informação, certamente conclusiva sobre o destino de Carlos Alberto. De um de seus algozes colheu a seguinte frase: “seu amigo esteve aqui”.

De tudo quanto posto, restou a impactante e dorida certeza de que Carlos Aberto foi assassinado com extrema brutalidade, provavelmente entre fevereiro e maio de 71, na horrenda casa da morte, onde as vítimas, segundo se apurou mais tarde, costumavam ser esquartejadas , Santo Deus!

Entrementes, no lar da família Soares Freitas, zelosamente cuidado pela mãe, o quarto de Beto, com seus livros, roupas e demais pertences  permanecia imaculadamente preservado, à espera (que nunca se deu) do ocupante.

Retornando às denuncias de Ettiénne sobre atrocidades cometidas na Casa da Morte, denominada pelos desalmados torturadores de “casa da convivência” e “Codão”, numa alusão ao CODI, seja anotado que o Deputado Rubens Paiva também passou por lá.

A pungente história do sociólogo Carlos Alberto Soares de Freitas e o drama que se abateu sobre sua família deram origem a livro intitulado “seu amigo esteve aqui” escrito pela jornalista carioca Cristina Chacel já falecida, e a filme-documentário com o mesmo título, pronto para lançamento nas telas de cinema.

Por ultimo, não se sabe até hoje, onde foram lançados os restos mortais de Beto.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com,br)

 

 

Meio século depois


*Cesar Vanucci

“Lembro-me com saudade do tio Beto, tocando violão e cantando nas festas da família.”

( Maria Claudia, sobrinha de Beto)

 Conforme já relatado, em fevereiro de 1971, o sociólogo e jornalista mineiro Carlos Aberto Soares de Freitas, o Beto, 31 anos, líder universitário com forte carisma, engajado em movimentos culturais, políticos e sociais, “desapareceu” sem deixar vestígios. Mais de meio século depois, agora em agosto, em concorrida solenidade, realizada na ALMG, o Estado brasileiro, com pedido de perdão incluso, entregou aos seus familiares e de outros “desaparecidos políticos”, certificado reconhecendo que sua morte foi provocada por agentes públicos, de forma cruel, durante o trevoso período do autoritarismo. Sobrinhos de Beto receberam o documento. Seus pais e seus 7 irmãos que, por anos a fio se empenharam em extenuantes, doloridas e frustrantes buscas  pelo seu paradeiro, não estiveram presentes ao histórico ato por já terem - para valermo-nos de magistral conceito camoniano  – “partido primeiro”.

Filho caçula do casal Jayme Martins de Freitas e Alice soares de Freitas, morava com familiares a Rua Espírito Santo, no Centro de Belo Horizonte, próximo à Imprensa Oficial. A ruptura democrática em 64 desencadeou  detenções em massa, em todo o país. Cassou mandatos, destituiu governantes, suspendeu direitos políticos, implantou clima de medo e sobressalto, incentivando a desonrosa prática do “dedodurismo”. O meio universitário foi inclementemente alvejado na ocasião. Por fazer públicas suas críticas ao regime recém-instaurado, Beto foi preso nos instantes prefaciais do movimento, sendo libertado por força de habeas corpos, retornando às suas atividades sociais e profissionais, até o fatídico dia de seu “desaparecimento”. A circunstância de haver integrado grupo de estudantes que visitou Cuba, tempos antes concorreu, ao que se imagina, para coloca-lo na lista dos suspeitos, ou então, como se costumava dizer “subversivos”.

Quando se deram conta de que alguma coisa mais grave havia ocorrido com filho mais novo, os pais, irmãos, primos e amigos  lançaram-se numa frenética peregrinação por locais utilizados para o encarceramento dos chamados presos políticos. Determinado dia, irmão de Beto, deparou-se numa delegacia de polícia,  Rio de janeiro, com um cartaz de “procurados”. Entre outras fotos estampadas, chamava a atenção a de Beto assinalada com enigmático X em tinta vermelha.  Paralelamente a isso, o chefe da família Freitas, recebeu uma carta assinada pelo próprio Carlos Alberto. Da carta constava a revelação de que o autor a escrevera com antecedência, para remessa, na hipótese de vir a ser preso.

 

Outros lances da história ficam para par próximo artigo.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Beto nunca mais voltou


 

*Cesar Vanucci

“ Carlos Alberto de Freitas, Beto, você ia adorar estar aqui conosco... "( Dilma Rousseff, na  posse como Presidente)

 

Premiadíssimo, “Oscar” e o “Globo de Ouro” conquistados, “Ainda Estou Aqui” reavivou na memória coletiva o apavorante drama dos “desaparecidos políticos”.  A arrebatante saga de Rubens Paiva, esposa Eunice e filhos, contada em livro do filho Marcelo, foi magistralmente transposta por Walter Salles para o cinema, tornando-se sucesso de critica e público no mundo inteiro.

A lista dos “desaparecidos” relaciona cidadãos acusados de críticos ou adversários do regime ditatorial. Levados a centros de detenção clandestinos, foram submetidos a brutais interrogatórios e tortura.  Dominados pela angustia parentes, amigos, muitas pessoas movidas por solidariedade humana e compaixão empenharam-se, em vão, por largo espaço de tempo, em localizar o paradeiro de todos eles. Por parte das autoridades daquela época sombria, o que se obteve como resposta foi um “ensurdecedor silencio” de tumba etrusca.

Homens e mulheres de todas as categorias sociais das áreas urbanas e rurais desapareceram subitamente em circunstancias nunca explicadas do cenário em que cotidianamente se movimentavam.

Dia desses, na ALMG, familiares de 74 integrantes da funesta lista receberam do Estado certidão com pedido de perdão incluso, atestando que a morte de todos eles deu-se por conta de violência praticada por agentes públicos  no trevoso período do autoritarismo.

Numa manhã dos anos 70 o sociólogo Carlos Alberto Soares de Freitas, Beto, 31 anos, caçula de 8 irmãos, filho de Jaime Martins de Freitas e  Alice Soares de Freitas, ambos de saudosa memória, pediu a benção aos pais, beijou-lhes carinhosamente a face, despediu-se por motivo de viagem ao  Rio, com  promessa de breve  retorno. Beto, nunca mais foi visto!

No discurso que proferiu no dia de sua posse como a 1° mulher a exercer a Presidência da República, Dilma Rousseff, dominada pela emoção, referiu-se afetuosamente a Carlos Alberto Soares de Freitas, lembrando os sonhos que acalentaram juntos no sentido da reconquista democrática, nos tempos em que se viram forçados a deixar a vida universitária para combater a ditadura.

As informações sobre o que teria acontecido com Beto depois daquele dia em que se despediu dos pais para a viagem sem retorno chegaram ao conhecimento dos parentes de forma fragmentada e inconsistente. Na busca desesperada por noticias que pudessem clarear a caminhada percorrida pelo jovem talentoso, líder universitário de forte carisma, familiares e amigos bateram em todas as portas do mundo oficial, Tudo embalde. A cada contato, uma frustração. Ninguém de nada sabia. Muitos, nas esferas do Poder, alegavam que iam procurar saber, para, pouco adiante registrar que o destino de Beto era incerto e não sabido. Cabe mais relato a respeito.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Umas e outras do “candidato ao Nobel”


 

*Cesar Vanucci

 

“Trump piorou muito depois do ultimo surto.” (Ana Mayã, poeta) 

 

Por mais que se queira, fica difícil pacas, para articulista atento, à profusão de coisas sem nexo, que andam rolando no mundo, ignorar as ordens executivas emitidas por um governante que sonha tornar-se imperador e, ainda abiscoitar, de lambuja, O prêmio Nobel da Paz pelo fato de “ter acabado com todas as guerras”...

Trump trabalha obsessivamente, dia e noite sem parar, no sentido de construir uma nova ordem econômica e política global, indiferente aos sinistros riscos que suas manobras inconsequentes acarretem.

Em suas mais recentes investidas contra sagrados postulados democráticos, no âmbito estadunidense, vem censurando órgãos de comunicação social, chegando a ameaça-los, no caso especifico da televisão, com retirada da permissão oficial de funcionamento. Alegando supostos tumultos de rua, categoricamente desmentidos pela imprensa, vem deslocando tropas federais para cidades governadas por adversários democratas. Abriu processos criminais contra funcionários graduados da Justiça e Segurança publica que, no passado atuaram nos numerosos casos em que ele, no mandato anterior figurou como réu. Demitiu do serviço publico cientistas e educadores comprometidos com as causas do desenvolvimento sustentável e ambientalista. Determinou censura prévia no tocante a informações transmitidas por jornalistas credenciados junto ao departamento de guerra,  antes denominado departamento de defesa. Furibundo, vetou a presença na Casa Branca de jornalistas internacionais, que em seus despachos referiram-se ao “Golfo do México”, rebatizado pelo todo poderoso, pouco depois de sua posse, de “Golfo da America”. Aplicou tarifaço de 100 por cento sobre filmes de procedência estrangeira. Ordenou que vistos consulares pra acadêmicos de outros países só sejam concedidos depois de análise do conteúdo de suas manifestações em redes sociais. Na elaboração do orçamento de 2026 é certa a redução substancial de recursos para assistência á saúde de parcelas menos favorecidas da população. Paralelamente a isso, tem-se como inevitável maciça demissão de servidores engajados nessa área de atuação, como já ocorreu, em larga escala, noutros setores de serviços essenciais.

Tão longo cortejo de despautérios tem gerado muito mal estar com intensas reações de ordem legal na vida econômica e política dos Estados unidos. Donald Trump explicita com clareza estelar o tom de seu segundo mandato. Sua vocação autoritária emite alerta quanto à eventualidade de rupturas institucionais. Na grande nação do norte, muitos consideram que a era Trump se mostra bem mais sombria do que o período obscurantista do macarthismo..

Quanto ao encontro com Lula nascido de “química irresistível”, segundo Trump, esperar pra ver.

Jornalista cantonius1@yahoo.com.br

Dá “química” ao Diálogo.


*Cesar Vanucci

“Vamos, agora, para o ganha a ganha” (Vice-presidente Geraldo Alckmin)

 

 

A “química”, mencionada por Trump sobre o encontro de 39 segundos, com Lula, nos corredores da ONU, funcionou bem, para agrado de quase todo mundo. O Presidente dos EUA fez uma chamada por vídeo conferencia ao Presidente do Brasil. Ambos travaram animado papo que se estendeu por 30 minutos e que foi definido, de parte a parte, como altamente positivo. Ficaram acertados outros contatos em breve, no Brasil e nos EUA, conforme Trump. Até lá, as tratativas com vistas a se achar solução satisfatória para o contencioso criado a partir do tarifaço serão conduzidas, do lado do Brasil, pelo por Geraldo Alckmin, coadjuvado pelos Ministros das Relações Exteriores e Fazenda. A equipe dos EUA será coordenada pelo Secretário de Estado Marco Rubio.

No dialogo à longa distancia, o Chefe do Governo brasileiro ponderou a relevância da revogação da sobretaxa dos nossos produtos, bem como a eliminação das sanções aplicadas às autoridades do judiciário. Fontes do Itamaraty levantam a hipótese de que um encontro presencial entre os dois dirigentes possa ocorrer no final do mês, por ocasião de reunião de países do o sudeste asiático, na Malásia. O cenário armado, agora, parece bastante promissor para entendimento que atenda aos interesses recíprocos, postas a escanteio quaisquer exigências lesivas à soberania brasileira, como se  pretendeu no inicio do chamado “ciclo do tarifaço”.

Afirmando que “vamos partir agora para o ganha - ganha” o vice Alckmin refletiu o “otimismo precavido” que se apossou, depois do papo, dos negociadores da banda brasileira. Como prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, os negociadores estão acautelados quanto ao fato de manterem os aparelhos de percepção pessoal sintonizados na marcha dos acontecimentos, levando em conta a eventualidade de algum sinal fora do roteiro traçado,  emitido pelo imprevisível ocupante da Casa Branca.

Esta  momentosa questão da almejada reaproximação diplomática e política das duas grandes Nações, vinculadas por estreitos laços de solidariedade  mais de 200 anos é acompanhada com vibrante atenção pelas forças vivas da sociedade brasileira. Os setores produtivos que encontram no mercado estadunidense referência maiúscula para alentadora reciprocidade de negócios, mostram-se exultantes com a perceptiva do “mal-entendido” poder ser corrigido.

Diminuta facção dos redutos políticos, contaminada pelo vírus do fanatismo ideológico, apostando alto no “quanto pior, melhor”, torce nas redes sociais para que tudo, no “frigir dos ovos”, dê errado, para que as negociações entrem pela tubulação, de modo a que as injustas e insanas sanções perpetradas contra o Brasil e os brasileiros jamais se desfaçam. Tudo para que suas sombrias ambições de poder a qualquer preço prevaleçam sobre os sagrados interesses da pátria.

Cantonius1@yahoo.com.br


O comício da bandeira errada.

 


 

*Cesar Vanucci

“A Av. virou palco de raiva e contradições”(Jornalista Cleber Lourenço)

 

Dia 7 de setembro de 2025. Festa magna da Nação Brasileira, comemorada com júbilo em todos os rincões. Em São Paulo, maior Metrópole da America Latina, na tradicional Av. Paulista, comício reuniu partidários do ex-presidente Bolsonaro, clamando por sua liberdade. Discursos e palavras de ordem, propagados no mais alto volume achincalhavam adversários e as Instituições Republicanas, com foco especial no STF.

Ouvia-se ali a mesma carga retórica de aleivosias transmitidas, via internet e tribunas, por seguidores radicais do grupo golpista que neste preciso momento aguarda a decisão da Justiça pelo atentado contra a Democracia.

Uma cena insólita, grotesca a mais não poder, deixou os telespectadores atônitos e, de certa maneira, injuriados. Diante do palanque montado para a passional “discurseira”, confeccionada sob encomenda para a ocasião, tremulava, garbosa, gigantesca bandeira (de que país mesmo?) dos Estados Unidos... Não padece dúvida alguma que a bandeira de uma Nação, como símbolo da cultura, das tradições e do sentimento de um povo irmão, faz jus sempre a respeito e reverência. Mas, a presença daquela bandeira ali, naquele lugar, naquela hora, naquela data, destacando-se, pela envergadura, entre outras bandeiras dos EUA e do Estado de Israel espalhadas no entorno do meeting , revestiu-se de um significado diferente, impróprio, impertinente, chocante. A mensagem sub-reptícia que se pretendeu passar, maquiavelicamente, reportou-se a ofensiva de ameaças e intimidações deflagrada por Donald Trump, contra a soberania brasileira, alvejando 200 anos de excelente convivência entre dois países amigos. Escusado anotar que o ocupante da Casa Branca, reconhecidamente empenhado na hora presente em incompreensíveis ações desagregadoras da ordem econômica mundial, escolheu o Brasil como um dos alvos preferenciais de sua irrefreável “catilinária”. Inocultável a circunstância de que em seu repudiável comportamento tenha sido emprenhado pelos ouvidos por “patriotas” desfalcados de bom senso e civismo.

Na Paulista tomada pelo desvario, pela ideia de “ditadura, censura e falta de liberdade imaginárias”, além do inacreditável episódio da bandeira, ocorreram outros lances danados de intrigantes, surreais. Um senhor de aparência respeitosa, com a bíblia numa das mãos e com bandeira de país estrangeiro na outra mão, confessou, “piedosamente”, a um repórter, que reza fervorosamente, todos os dias, para que caia o avião do STF... Elemento da equipe organizadora do evento, um tanto contrafeito, aludindo à bandeira fora do lugar, disse a outro repórter estar desconfiado de que o ornamento em questão teria sido trazido por inimigos infiltrados na concentração. Seja lembrado também que argumento parecido foi muito usado no malfadado 8 de janeiro.

cantonius1@yahoo.com.br

Lição de Democracia

 


 

*Cesar Vanucci

“A soberania do Brasil não pode, não deve e jamais será vilipendiada, negociada ou extorquida”. (Ministro Alexandre de Moraes)

 

Efervescência política na mais elevada potência. É o que promete o mês de setembro de 2025. Uma etapa em que lances importantíssimos da História contemporânea desfilarão diante de nossos olhares atentos, a tempo e a hora, ao vivo e a cores.

O julgamento da trama golpista flagrando, no banco dos réus um ex-chefe de Estado e militares de alta graduação, está atraindo atenções no mundo inteiro.

Dos 500 jornalistas credenciados para a cobertura do acontecimento, 1/5 são da imprensa estrangeira. Nunca, em tempo algum, assuntos relevantes da vida brasileira suscitaram, lá fora, tamanho interesse. Cabe ressaltar, a propósito o seguinte: o noticiário sobre o Brasil, nos periódicos dos EUA, vem sendo na atualidade bem mais amplo do que em tempos passados. Os holofotes da mídia estão focados nas temáticas da intentona e da chantagem do tarifaço. O que se observa, alvissareiramente, nas informações, comentários, depoimentos são abordagens simpáticas aos posicionamentos assumidos pelo nosso país com relação às questões enunciadas. Dois Prêmios Nobel e outras figuras de realce nas atividades intelectuais, políticas e jurídicas dedicaram palavras de apoio ao nosso país, face às ameaças vindas da Casa Branca. Já houve mesmo quem dissesse com todas as letras, pontos e vírgulas, que o Brasil está dando uma lição de democracia aos EUA e ao mundo, com o julgamento, já que a tentativa de golpe promovida quando da eleição de Biden, ficou sem a resposta institucional devida. Os responsáveis pelo atentado antidemocrático, inclusive seu mentor, não foram criminalizados, como sabido, pela Justiça da grande Nação do norte. Exatamente o contrário do que ocorreu aqui, em situação análoga.

Julgamento em curso, já concluídas a essa altura as sustentações orais da acusação e das defesas dos réus, fica-se agora na expectativa do veredicto. Nos dias vindouros, após análises das preliminares arguidas, os 5 Ministros da 1º Turma do STF darão a conhecer seus votos. A serem levadas em conta as esmagadoras provas colhidas contra os acusados, a decisão condenatória marcará, fatalmente, o epílogo da historia. Chamou a atenção nos arrazoados da defesa, a circunstância de todos eles admitirem a existência do complô antidemocrático, mas negando sua participação pessoal. Numa das manifestações chegou-se até a ser dito que o réu esforçou-se por dissuadir Bolsonaro, nas confabulações da conjura, de adotar as medidas de exceção cogitadas.

Enquanto isso, em Washington e Brasília, falsos patriotas e seguidores radicais dos conspiradores contra o a Democracia brasileira articulam ruidosas e desagregadoras ações na tentativa, mais uma vez, de desacreditar o Brasil e as instituições republicanas.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Mentiras Cartográficas

 


*Cesar Vanucci

 

"O mapa mente!" (Eduardo Galeano, escritor uruguaio)

 

A União Africana está reivindicando correção no Atlas-Geográfico. Anos atrás escrevi artigo a respeito. Tomo a liberdade de reproduzi-lo.

Confesso que nunca, em tempo algum, passou-me de leve pelo bestunto a estapafúrdia ideia de que o mapa-múndi utilizado em consultas, desde os começos escolares, seja incorreto, oferecendo noção falsa, superavaliada, da grandeza geográfica dos países do chamado 1° mundo. Provocado pelo que conta Eduardo Galeano no livro "De pernas pro ar – a Escola do mundo ao avesso", resolvi conferir,  constatando,arregalado de espanto, que a denuncia, do escritor uruguaio, está absolutamente certa. A linha do equador não atravessa a metade do mapa, como aprendemos. O rei da geografia está nu, afirma o autor.  E não é que isso já havia sido comprovado, na moita, debaixo de silêncio sepulcral, há mais de meio século, por um cientista alemão de nome Arno Peters?

O mais adequado é deixar a palavra escorrer pela boca do próprio escritor: "O mapa-múndi que nos ensinaram dá dois terços para o norte e um terço para o sul. (...) A Europa é mais extensa do que a América Latina, embora, na verdade, a América Latina tenha o dobro da superfície da Europa. A Índia parece menor do que a Escandinávia, embora seja três vezes maior. Os Estados Unidos e o Canadá, no mapa, ocupam mais espaço do que a África, embora correspondam apenas a duas terças partes daquele território.” Adotando-se a mesma perspectiva da análise, dá pra ver que a configuração do Brasil, detentor da quarta ou quinta maior extensão territorial entre os demais países, está igualmente desproporcional no atlas. Qual razão dessa desconcertante distorção geográfica? Galeano não deixa por menos: "O mapa mente! A geografia tradicional rouba o espaço, assim como a economia imperial rouba a riqueza, a história oficial rouba a memória e a cultura formal rouba a palavra." Ele fala do processo espoliativo incessante que tem como alvo os países do hemisfério sul. Ou seja, os países do 3° mundo também classificados de “emergentes” pelos  "donos do planeta". Essa cabulosa história do atlas mutilado deixa-nos com aquela mesma sensação de insuportável desconforto, de tempos atrás, face à revelação de que livros didáticos nos EUA retratam a Amazônia sobcontrole internacional. Uma coisa parece ter tudo a ver com a outra coisa. O inacreditável, imoral e ilegal redimensionamento cartográfico há que ser visto como um instrumento a mais de irradiação de mensagens subliminares insistentes com propósitos que deixam sobameaça, em seus direitos, sua cultura, soberania e integridade dos países da banda de cá do equador. Essa é a leitura a extrair dos fatos. Melhor dizendo, dos mapas.

Voltarei a diante a comentar com mais por menores as reivindicações da Comunidade das Nações Africanas.

(cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Uma luzinha no fim do túnel


 

*Cesar Vanucci

“Foi um grande dia para Israel” (Benjamin Netanyahu, no 1° estágio do Acordo de Paz)

 

 

Gaza, outubro de 2025. Uma luzinha é acesa no final de extenso túnel mergulhado em espessa escuridão. Dois anos se passaram desde o sinistro atentado terrorista e o inicio da guerra apavorante que encharca de sangue, outra vez mais, a Terra Santa. No mundo inteiro, mentes e corações fervorosos agarram-se, esperançosamente, ao ramo de oliveira suspenso no ar empesteado dos campos de batalha.

À hora em que estas considerações são colocadas no papel, negociadores de várias nações traçam um roteiro de ações a ser rigorosamente observado pelos obstinados “senhores da guerra”. O roteiro aponta o rumo a ser seguido na conquista da paz. Paz essa profundamente enraizada na consciência e nos sonhos de mulheres e homens de boa vontade em todos os rincões de nossa conturbada aldeia global. Apelos vindos de toda parte, nascidos do bom senso contribuíram para que a proposta dos EUA, a princípio recebida com alguma relutância pelos litigantes, desembocasse na mesa de conversações. Os primeiros passos já foram dados, compreendendo o cessar-fogo e a libertação dos reféns israelenses e prisioneiros palestinos.

O que virá na sequência? Levando-se em conta a ardente expectativa de que tudo siga enfrente de forma harmoniosa, poderemos ter na região que abriga o berço da cultura religiosa da humanidade, até que enfim, uma trégua duradoura capaz de garantir positivas confabulações políticas e diplomáticas com o endereço certeiro da paz definitiva.

Empoe-se reconhecer que o itinerário a ser percorrido até o ponto pretendido nos generosos anseios de paz da humanidade é extenuante. Comporta perigo sem conta, não há duvidar. Faz todo sentido, temer – queira Deus que isso não se confirme -, a eclosão de atos radicais provocados por grupos, comprovadamente avessos à coexistência pacifica, lado a lado, das Nações Israelense e Palestina. Não constitui segredo pra ninguém a existência de fanáticos fundamentalistas, uma minoria bastante belicosa potencialmente capaz, caso permaneça fora de controle, de torpedear o acordo em andamento. Como sabido, há quem alimente o desejo insano de riscar do mapa o Estado soberana de Israel, há também, do outro lado, quem se contraponha irracionalmente à implantação do Estado soberano da Palestina. Uns e outros servem a causas deletérias que retardam, obviamente, a evolução civilizatória.

 Merece registro, por derradeiro, a circunstância que levou o Presidente dos Estados Unidos a mudar sua política em relação a Gaza. A condenável agressão de Israel ao Catar, um aliado americano no oriente médio, forçou Donald Trump, a pressionar O Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu para aceitar o acordo de paz.

Que todos os estágios do Acordo sejam cumpridos à risca!

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Justiça (EUA) versos Trump


*Cesar Vanucci

“Trump está demolindo a imagem dos EUA” (Jornalista Eliane Cantanhêde)

 

Trump, sempre ele. Vem esfacelando, com suas canetadas, a ordem mundial. Justificam-se perfeitamente os temores de que seus atos possam produzir consequências mais graves no contexto geopolítico. Emerge desta  evidência o desejo, mundo a fora, de que alguma coisa aconteça no sentido de uma mudança de rumos na linha de sua atuação. Não pairam dúvidas quanto ao fato de que a contenção das extravagâncias executivas e legiferantes do ocupante da Casa Branca só possam se cristalizar através de medidas institucionais adotadas nas áreas jurídicas e políticas de seu próprio país. Analistas qualificados da conjuntura estadunidense são de parecer que, mais cedo ou mais tarde eclodirá reação capaz de deter seus impulsos nada diplomáticos. Raciocinam assim, olhar focado nas encrencas compradas por Trump em seu país, envolvendo Universidades, imigrantes, Banco Central, organizações cientificas e por aí vai...

Os sinais de fadiga dos Norte Americanos em razão do que anda rolando no pedaço, com reflexos perturbadores em toda nossa aldeia global, vêm se avolumando dia após dia. Governadores de Estados, que não rezam pela cartilha absolutista do histriônico Chefe de Governo, têm trazido a público, de forma veemente, seu inconformismo e descontentamento com um sem número de abusos executivos perpetrados contra a Constituição do país e as leis internacionais. Muitas dessas discordâncias já foram parar nos tribunais. O mesmo caminho foi também percorrido por importantes instituições acadêmicas e organizações jornalísticas atingidas por decisões atrabiliárias do dirigente que se enxerga imperador. A fileira dos atos extravagantes praticados por Donald Trump é tão extensa que torna difícil elencá-las ou mesmo seleciona-las para fins de divulgação. Todas produzem espanto instantâneo. Como, por exemplo, o inverossímil episódio da deportação, sustada pela justiça, de 2 mil crianças guatemaltecas, apartadas dos pais, recolidas em abrigos espalhados pelo país. A inédita intervenção no Banco Central, com a destituição, considerada inconstitucional de altos dirigentes, é outra aberração jurídica que criou alarma junto à opinião publica e lideranças políticas estadunidenses.  

A almejada alteração de rumos nessa história de desagregação persistente que Trump faz de valores caros à convivência social e ao processo de evolução civilizatória pode, afortunadamente, estar ganhando contorno, neste momento. Acontece que o tribunal de apelação dos EUA, instancia judicial abaixo apenas da Suprema Corte, acaba de reconhecer sob irados protestos de Trump, a ilegalidade das decisões relativas ao tarifaço, fixando prazo para que sejam revogadas. O STF de lá, em função de recurso, dará a palavra final sobre o tema. Que Deus ilumine os doutos Ministros.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

Antissemitismo e Estado da Palestina


 

*Cesar Vanucci

 

“Catálogo interminável de horrores” (Antônio Guterres, Sec. Geral da ONU.)

 

 

A boa convivência social recomenda enfaticamente não se perder de vista jamais as propostas humanísticas e espirituais que conferem dignidade à vida. O antissemitismo é algo intolerável e execrável. O racismo e o anti-islamismo também. A consciência humana repudia igualmente toda e qualquer aversão, manifesta ou dissimulada, que se nutra a alguém ou a grupos específicos por conta de suas crenças religiosas, hábitos culturais, etnias e gênero.

Criticar com veemência o horror de Gaza não é antissemitismo. Deplorar a mortandade cruel provocada pelo bombardeio incessante, que acontece no maltratado território, não é antissemitismo. Registrar que há gente, milhares de crianças inclusive, morrendo de fome e que o total de jornalistas mortos naquelas paragens é superior aos das duas guerras mundiais não é, pela mesma forma, antissemitismo. Clamar por cessar fogo que favoreça a entrada de ajuda humanitária imprescindível, que liberte os indefesos reféns e que possa conduzir os litigantes à mesa de negociações, como vem sendo feito, aliás, por multidões israelitas nas ruas de Telavive, não é antissemitismo. Pedir seja aberta uma trégua nas insanas hostilidades, como fez o Conselho de Segurança da ONU com um único voto contrário, o dos EUA, não é positivamente antissemitismo. Exigir, como faz a Comunidade das Nações, a implantação do Soberano Estado da Palestina, lado a lado do soberano Estado de Israel, não é, decididamente, antissemitismo.

Tudo quanto dito acima é o próprio óbvio ululante. Mas, o óbvio ululante carece ser dito e repetido em momentos obnubilados pela falta de diálogo, discordâncias passionais, adulteração do sentido das palavras e do significado das coisas.

As lideranças globais mais esclarecidas, conectadas com o verdadeiro sentimento universal mostram-se convictas, não é de hoje, do que é preciso ser feito no tocante à solução do angustiante drama de Gaza. O radicalismo de feição fundamentalista opõe-se, com ações terroristas de um lado e virulenta repressão de outro lado, às propostas carregadas de esperança que possam pôr fim ao pavoroso conflito. O cessar fogo, a soltura imediata dos reféns seguida de conversações coordenadas pela ONU, constituem  medidas indispensáveis e urgentes, ditadas pelo bom senso, almejadas ardentemente pela sociedade de nossos tempos. O alvo maior a ser alcançado, dentro destes generosos anseios, é a constituição do Estado da Palestina, abrangendo a faixa de Gaza e a Cisjordânia. Para que isso possa se consolidar será necessário, evidentemente, que a Comunidade das Nações estruture, inicialmente, um sistema de controle dos referidos territórios até que a Autoridade Palestina esteja em condições plenas de assumi-los.

Jornalista (cantonius1aa@yahoo.com.br)

A SAGA LANDELL MOURA

Beto “desapareceu” na Casa da Morte

    *Cesar Vanucci “Seu amigo esteve aqui” (Frase ouvida por Inês Ettiénne, na “Casa da Morte”)     Damos continuidade hoje ao...