sábado, 10 de agosto de 2024

Mulheres negras de ouro

 



                                                                                            *Cesar Vanucci

“lindo momento de irmandade e espírito esportivo! Dá pra sentir o amor brilhando através dessas moças” (Michelle Obama falando do feito de Rebeca).



Mais uma Olimpíada! Os olhares do planeta, fatigados diante das intermináveis cenas do desvario corrente, se voltam, em pausa esperançosa, para os espetáculos de Paris. Muitos alimentam fugidio sonho, por breve espaço de tempo, que lhes permita desvencilharem-se das amarguras causadas pelas guerras, desigualdades e tantos outros dramas que agridem a consciência.    

Os Jogos representam, sim, esplêndida demonstração de vigor atlético e engenho para se formatar momentos de extasiante   beleza. Mas, além de seus significados visíveis, o festival Olímpico alcança as culminâncias de um triunfo do espírito. Em sua estupenda configuração humanística e ecumênica, esta empreitada de labor e inteligência expõe as virtualidades da alma e do sentimento popular. A diversidade, em suas múltiplas exteriorizações, é apanágio das disputas. Os competidores deixam de lado as toscas diferenciações mundanas que costumam afasta-los uns dos outros na convivência cotidiana, para darem-se as mãos efusivamente na celebração do dom da vida. Etnias, nacionalidades, cor da epiderme, crenças, condições econômicas, intelectuais variadas, tudo isso perde seu peso e valor social, cedendo lugar para geral e irrestrita confraternização.     Uma sólida aliança do espírito humano.

 Da volumosa sequência de imagens emocionantes proporcionadas ao longo das provas, algumas vão se eternizar na lembrança esportiva. “Rebeca, a mulher inesquecível”: puxando da memória, trazemos a tempo presente o título de um filme que foi sucesso de critica e bilheteria nos anos 50, para registrar o embevecimento deixado no espírito popular pelo feito histórico da ginasta brasileira Rebeca Andrade. Mulher negra, 25 anos, de descendência humilde, atleta de rara estirpe, fez jus à consagração universal ao subir ao topo do pódio graças a uma impecável coreografia na ginástica solo. O magnífico gesto das duas campeoníssimas atletas estadunidenses, igualmente negras, que a acompanharam na triunfante jornada, reverenciando-a na hora da entrega da medalha de ouro, ficou gravado como retrato emblemático dos jogos de Paris. Jornal parisiense estampou foto do ato na primeira página proclamando “Olimpíada é tudo isso”. Cabe dizer que Rebeca tornou-se nossa maior medalhista olímpica de todos os tempos.

 Beatriz Souza, 26 anos, de origem modesta, sargento do Exército, foi outra mulher negra que empolgou seus patrícios e público ao conquistar medalha de ouro no judô. Tanto Rebeca quanto Beatriz, além de vários outros disputantes, foram amparados em suas carreiras pelo programa “bolsa atleta”. O desempenho dos competidores brasileiros que arrebataram outras reluzentes medalhas contribuiu para que nossa participação nos jogos pudesse ser classificada de relevante. “Isso tudo foi muito bonito de se ver”.

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Não deu outra: fraude.

 



                " Venezuela não é uma democracia”               (Ministra Marina Silva)

 

O que todos temiam não deixou de acontecer. Maduro mostrou-se fiel ao seu instinto caudilhesco. Montou descomunal farsa eleitoral, criando condições inimagináveis para permanecer à frente dos destinos de sua “República Bolivariana” por mais 6 anos. Com as manobras engendradas no curso da disputa presidencial e da apuração escancarou de vez seu malévolo propósito de chutar pra escanteio os protocolos firmados no “Acordo de Barbados”, que garantia a realização de eleições legitimas com participação livre das forças da oposição venezuelana. O acordo foi celebrado em outubro de 2023, com referendo da Noruega, Brasil e EUA.

Impactando negativamente a comunidade internacional, o Conselho Eleitoral da Venezuela, diretamente vinculado a Maduro, proclamou antes do termino da votação sua vitória, diplomando-o poucas horas depois e fazendo ouvidos moucos aos protestos e indignação da oposição e de parte majoritária da população do país. Os contendores do Caudilho alegam que os resultados do prélio, segundo mapas parciais da apuração por eles obtidos, apontam vitória esmagadora do candidato Edmundo Gonzalez. Todas essas circunstancias, acrescidas de robustas evidencias de cerceamento da liberdade de voto para parte do eleitorado, intimidações e prisões de adversários produziram manifestações intensas de reprovação mundo a fora. O clamor só fez crescer à vista dos panelaços ininterruptos, das concentrações populares, da repressão policial violenta com dezenas de mortos e feridos, com centenas de pessoas recolhidas a presídios e sequestros de líderes oposicionistas, além de iradas falas do tirano acusando os oponentes de haverem tramado golpe de estado.

A relutância do governo brasileiro em admitir a anômala situação política reinante na Venezuela vem causando desconforto e preocupação, dentro e fora do país. A princípio, o presidente Lula fixou, como condição basilar para reconhecer a legitimidade da eleição, a apresentação das atas de votação, obviamente chanceladas por organizações idôneas. Governos de outras nações adotaram posição assemelhada. Até o momento em que estas considerações estão sendo alinhavadas, a entrega das atas ainda não se efetivou, embora decorrido o prazo de 72 horas estipulados pelos próprios dirigentes venezuelanos. Nesse meio tempo, ocorreram muitos outros fatos relevantes. Entre eles, a intempestiva mensagem de felicitações do PT a  “vitória eleitoral”. Em contra partida, o Centro Carter, órgão respeitado na área dos direitos civis, afirmou que o pleito não pode ser considerado democrático.

Resumindo o papo, com muita água ainda a correr por baixo da ponte: A eleição foi fraudada; Maduro quer eternizar-se no poder; é forte a indignação no mundo democrático com relação ao que anda acontecendo; a posição brasileira na candente questão deixa muito a desejar.

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Arapongagem, Sósias, Contingenciamento

 



 

*Cesar Vanucci.

“Amigos, amigos; arapongagem à parte” (Variante de conhecido ditado popular).

 


  A arapongagem promovida pela Abin paralela, conectada com o tal “gabinete do ódio”, não se contentando em seguir os passos dos adversários políticos, magistrados, jornalistas e muita gente mais, colocou sob mira de forma “mui amiga", personagens da própria grei dos espiões. Com muitas revelações chocantes e desnorteantes já vindas a furo nas certeiras investigações da PF, tem-se como certo que a bisbilhotagem foi feita por atacado, alvejando gregos e troianos, pessoal das fileiras “inimigas” e da copa e cozinha doméstica. Não seria de se estranhar que os executores do esquema, num dado momento de sua abelhuda missão, tenham-se embaralhado de tal maneira a ponto de se auto grampearem. Aliás, devem ter se inspirado numa comédia cinematográfica, onde um agente secreto da Cia, em surto paranoico, cisma de espelhar grampos em todos os cômodos da residência, vigiando-se o tempo todo. O desenrolar das apurações esta prometendo, ao lado das inevitáveis punições a serem aplicadas aos autores  dos mal feitos, outras passagens dignas de serem aproveitadas em enredos dos filmes de Mr. Bean, Agente 86 e  Inspetor Closeau. Dos fatos narrados desponta a constatação de que os “espias”, com sua metralhadora giratória, andaram criando variante para o conhecido ditado popular “Amigos, amigos; negócios à parte”. Esta aqui: “Amigos, amigos; arapongagem à parte.”

 

2) Sósias - Equivoca-se rotundamente quem supõe seja “invenção” brasileira a história de sósia que prolifera nas desregulamentadas redes sociais. Fruto de rematada maledicência e doideira irremediável, a propagação a rodo nas plataformas, em tom de cumplicidade sombria, de que determinado personagem político famoso “desencarnou”, sendo substituído por “sósia”, tenta passar à opinião pública a maquiavélica ideia de sinistra conspiração política.  Na campanha sucessória em curso nos Estados Unidos, explodiu também, divulgação intensa dentro do esquema das famigeradas fake news, a respeito da “morte” do Presidente Joe Biden. Um “sósia”, no caso o “irmão gêmeo” estaria á frente da administração do país e atuando em sua representação perante o resto do mundo. Como se vê, os extremistas de lá se assemelham muitíssimo com os de cá.

 

3) Contingenciamento -  Governo e Congresso  estão dando tratos à bola com o intuito de reduzir despesas de maneira a assegurar equilíbrio nas contas públicas. O valor a ser contingenciado é de R$ 15 bilhões. Muita gente não consegue entender o porquê de o responsáveis pela analise do problema não terem atinado ainda com a possibilidade de 2 óbvias medidas. A primeira, redução significativa dos recursos destinados às emendas parlamentares. Segunda, cobrar, sem esse papo de anistia, as multas aplicadas aos partidos políticos pela a Justiça Eleitoral, da ordem de R$2,5 bilhões. Isso aí...

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 29 de julho de 2024

A tensa eleição Venezuelana

 


*Cesar Vanucci

 

"As eleições na Venezuela não são justas, nem limpas, nem equitativas, mas vamos ganhar”     (Edmundo González Urrutia, candidato da oposição venezuelana)

 

 As eleições na Venezuela serão para valer? Nicolás Maduro acatara os resultados do pleito na eventualidade de uma derrota? Maduro corre o risco de ser desalojado do Palácio de Miraflores?

 As respostas a estas e muitas outras perguntas de teor assemelhado começarão a ser dadas nos próximos dias. Mas grande parte de líderes mundiais, da mídia e de observadores da cena política é de parecer que o caudilho, já com 11 anos no cargo, obsecado pelo poder, não irá transferir, jeito maneira alguma, a faixa presidencial. Sua trajetória ao longo da vida pública, suas atitudes recentes alimentam compreensível e forte  desconfiança quanto à reação que terá na hipótese de malogro na disputa. Nicolás já proclamou, com todas as letras, sílabas, pontos e vírgulas que a Venezuela mergulhará no caos, num banho de sangue fratricida, numa guerra civil, se não for ungido pelas urnas. Antes da impactante e antidemocrática manifestação, andou praticando toda sorte de arbitrariedades contra adversários, intimidando muitos candidatos, forçando outros a se retirarem do páreo, encarcerando concorrentes, jornalistas e críticos de sua forma autoritária de conduzir os destinos da Nação.    

Compete com Maduro o diplomata Edmundo González Urrutia, 74 anos, escritor e acadêmico, alçado à condição de candidato após o “impedimento”, pela Justiça Eleitoral, de María Corina Machado, que vinha liderando amplamente as pesquisas pré-eleitorais. Machado emergiu como figura de supremo destaque da oposição ao denunciar a corrupção, desmandos e má administração reinantes. Acreditando no apoio majoritário da população, com as pesquisas mostrando-se favoráveis ao seu nome, Gonzáles vem sustentando que, “as eleições na Venezuela não são justas, nem limpas, nem equitativas, mas vamos ganhar”. Ele acrescenta ser necessário colocar-se um ponto final na era chavista, que já se alonga por um quartel de século.

 Os posicionamentos do autocrata de Caracas têm sido objeto de condenação nos países democráticos. O Brasil, pala palavra de Lula, criticou veementemente o que anda acontecendo no país irmão. Maduro, bem ao seu estilo, respondeu de maneira descabida. “Recomendou”, ao Presidente do Brasil que, “tomasse um chazinho de camomila” e ainda menoscabou nosso sistema eleitoral, dizendo que os escrutínios daqui, dos EUA e da Colômbia não são auditados, acrescentando na maior cara de pau, que o complexo de votação de seu país é o mais perfeito do mundo.

Fica, por tanto, evidenciado, que as eleições na Venezuela, previstas para domingo, 28 de julho, a depender do resultado que brote das urnas, poderá descambar em mais uma nauseante violência contra a aspiração da gente daquele país em seus anseios de liberdade e mudança de rumos políticos com norte democrático.   

 

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

EUA: enredo político eletrizante.



*Cesar Vanucci

                           “Acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu me afaste”

                                                        (Joe Biden, presidente dos EUA).

 

Os olhares mundiais estão focados na corrida presidencial estadunidense. Os resultados da eleição de novembro vindouro terão reflexos pronunciados no jogo político internacional. As recentes, inesperadas e impactantes reviravoltas na marcha sucessória visando, a conquista da Casa Branca, assemelham-se com um daqueles eletrizantes filmes de ação produzidos por Hollywood em seus anos dourados.

Cuidemos de recapitular o enredo do processo eleitoral em curso. Vitoriosos nas previas partidárias, Joe Biden e Donald Trump lançam-se como candidatos, o primeiro postulando a reeleição, o segundo aspirando retorno ao posto. Contra o candidato republicano pesam acusações de suma gravidade, a mais grave das quais  incriminando-o como mentor da invasão golpista ao Capitólio, além de tentativa de alterar em proveito próprio resultado das urnas em  2020. O ex-presidente é condenado, por um tribunal de NY numa das ações contra ele movidas. O desempenho de Biden no primeiro debate televisivo é considerado desastroso. Junte-se a isso, a circunstância de ele mostrar-se fragilizado, física e emocionalmente, em atos públicos importantes. Correligionários do Presidente candidato tornam público o desejo de que ele se afaste da disputa por falta de condições psicológicas. Num primeiro momento, Biden recusa-se a acatar a recomendação. Pesquisas de opinião apontam empate técnico entre os contendores.

A campanha atingia alto grau de efervescência, com retórica inflamada de parte a parte, quando ocorreu o infame atentado que só por um milagre não atingiu Donald Trump mortalmente. A convenção republicana, pouco depois, revestiu-se de pompa triunfal. A pressão dos democratas pela desistência de Biden ganhou mais força.

 A primeira parte do discurso de Trump no conclave produziu forte emoção. A segunda parte, fortes temores. O republicano mostrou-se mais Trump do que nunca. Atacou virulentamente os adversários, hostilizou brutalmente os imigrantes, negou as políticas de proteção ambiental diante do aquecimento global.

Acometido de Covid, Joe Biden resolve aquiescer ao apelo dos companheiros, desistindo de recandidatar-se e indicando sua vice, Kamala Harris, para substituí-lo.  A indicada, mulher negra, filha de pai jamaicano e mãe indiana, advogada, já tendo sido senadora pelo estado da Califórnia, destaca-se como líder na área dos direitos humanos. Recebendo apoio significativo dos principais nomes do partido democrata, deverá ser oficializada, como candidata a presidente na convenção de agosto.

Analistas políticos consideram viável a eleição de Kamala. Preveem, também, que Donald Trump, confirmada a hipótese, conteste o resultado recorrendo à alegação falaciosa de eleição fraudada. A conferir...

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Atentado impacta eleições nos EUA

    *Cesar Vanucci

        “Lute, lute, lute”. ( Donaldo Trump após escapar ileso do atentado)


   

A metáfora procede. É assim que as coisas costumam acontecer nessa nossa turbilhonante aldeia global. Se os Estados Unidos da América são acometidos de uma gripe, o resto do mundo passa a espirrar.

Tal constatação explica a descomunal comoção experimentada em todos os rincões deste nosso planeta azul, diante do atentado contra Donald Trump, episodio ignominioso que alvejou em cheio a democracia e abalou estruturas políticas da mais poderosa Nação da historia contemporânea. Faltando 4 meses para as eleições que apontarão o ocupante da Casa Branca para o próximo quadriênio, a campanha dominada por duelos retóricos exacerbados entre os disputantes, adversários já pela segunda vez, ganhou por força de deplorável e inesperada circunstancia, conotação tremendamente dramática.

Até a hora em que estas considerações vão sendo alinhavadas, as informações disponíveis sobre a impactante ocorrência são as que se seguem. Burlando a segurança, o que está dando margem a críticas acerbas ao serviço secreto, um atirador solitário, de 20 anos, sem antecedentes criminais, de postura tímida, vítima de “bullying” na escola, filiado ao partido Republicano (de Trump), mas doador de pequena soma para a campanha democrata, conseguiu aproximar-se menos de 200 metros do palanque do comício do ex Presidente e efetuar os disparos que só por um triz não o atingiram mortalmente, embora causando a morte de uma pessoa e ferindo gravemente duas outras. Elementos da escolta do candidato abateram o autor dos tiros. Tudo se passou na praça pública de uma cidadezinha rural da Pensilvânia com população de 3 mil habitantes. Houve uma revelação de que a polícia local deu pela presença do criminoso no telhado do prédio pouco antes da tragédia, não conseguindo, contudo, intervir a tempo.

 A campanha eleitoral sofreu, à vista dos acontecimentos narrados, completa e estonteante reviravolta. Donald Trump vinha sustentando em tom demagógico no ver de experimentados analistas políticos, ser “vítima” do sistema, vítima dos adversários, da mídia, da Justiça. O atentado conferiu legitimidade à postura assumida de vítima, mas aí por ordem de fator bastante diferenciado das alegações apregoadas. Ele e seguidores vão obviamente utilizar com profusão esse argumento, na tentativa de atrair eleitores que possam garantir seu retorno à chefia governamental.

 O adversário, Presidente Joe Biden, vem sendo pressionado a deixar a corrida eleitoral, por haver demonstrado, segundo os próprios correligionários, fragilidade física e psicológica. Dias atrás apresentou quadro de enfermidade por ter contraído Covid.

A primeira pesquisa de opinião após o atentado apontou empate técnico entre os presidenciáveis, o que causou certa surpresa pra muita gente que acreditava estar garantida a vitória de Trump.

A história, fica evidente, promete render desdobramentos imprevisíveis.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Uma impávida guerreira

                                     

      *Cesar Vanucci

“Uma dessas mulheres que mudam, para melhor, a história.”  

 (Justificativa da homenagem prestada a Diva Moreira )

 


Confesso-me, com satisfação, amigo e admirador de longa data da cientista política Diva Moreira. Faço parte da legião de pessoas que com arrebatado entusiasmo, aplaudiram a iniciativa do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos MG de dar seu nome a um Diploma memorialístico de exaltação democrática. A concessão do “Diploma Diva Moreira”, contemplando, num primeiro momento 30 cidadãos de diversificadas categorias sociais e profissionais, encerra o propósito de homenagear mineiros alvejados, em seus direitos fundamentais, por perseguições e arbitrariedades cometidas durante o regime instaurado em 64.

O Conselho qualificou os agraciados como exemplos inspiradores na defesa dos ideais democráticos, batalhadores em prol de uma sociedade justa e fraterna onde caibam todos os conceitos de vida.  

 Além de dar nome à comenda, Diva Moreira recebeu também a láurea numa solenidade bastante concorrida e representativa, que lotou as dependências da “Casa Afonso Pena”, sede da Faculdade de Direito da UFMG. Ovacionada à hora da entrega, quando proferiu magistral discurso, essa impávida guerreira, valorosa mineira de Bocaiúva, compartilhou a homenagem com a ex-Presidente Dilma Rousseff (representada no evento), o ex-ministro Nilmário Miranda, Clodsmidt Riani e Helena Greco, já falecidos, além de 25 outras personalidades vítimas da violência do Estado, nos “anos de chumbo”, entre 1964 e 1985. 

Diva, intelectual negra, notabiliza-se como ativista social em numerosas frentes. Lidera movimentos antirracistas, estando engajada há várias décadas em ações voltadas para reforma sanitária, na luta antimanicomial e pelo aprimoramento do sistema democrático. A defesa da mulher é uma das bandeiras que abraça com fervor. É fundadora da “Casa Dandara”, centro de educação e cultura voltado para a população negra. É dessas mulheres que mudam a história para melhor, conforme dito na justificativa referente à escolha de seu nome como patrona da honraria.

O ato cívico e cultural, realizado no dia 20 de junho, de acordo com seus promotores, serviu para trazer para o debate público, no transcurso dos 60 anos do golpe civil-militar, a relevância da memória histórica, da verdade e da justiça, pilares indispensáveis no processo de construção de uma Nação verdadeiramente independente, soberana e democrática.




Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


segunda-feira, 15 de julho de 2024

Acredite se quiser

 

“As atividades paroquiais estão suspensas até segunda ordem.”                    (Aviso aos fiéis.)

Os relatados da sequência, extraídos do turbulento cotidiano humano, deixando as pessoas boquiabertas e assustadas, bem que poderiam ser classificados, em “linguagem rosiana” como "acontecências"   inacreditáveis.  

1) Álvaro Malaquias, vulgo Peixão, autointitulado “neopentecostalista”, chefe da facção Terceiro Comando Puro, tem sob seu domínio para suas operações ilegais território Complexo de Israel abrangendo as comunidades Cidade Alta, Vigário Geral, Parada de Luca, Cinco Bocas e Pica-pau, todas localizadas na ex Cidade Maravilhosa. Dia desses, num assomo de fúria talebanista, ordenou aos seus capangas armados que anunciassem, de porta em porta, a proibição de atos religiosos nos templos católicos e nos chamados terreiros de matrizes africanas. A intimidação surtiu efeito, levando uma das Paróquias alvejadas pela descabida “determinação” distribuir comunicado aos fieis vazado nos seguintes termos: “Jesus, Maria, José, amados irmãos, um comunicado importante - As atividades paroquiais estão suspensas até segunda ordem. Pedimos a colaboração e compreensão de todos os fiéis, e em breve atualizaremos sobre a retomada das atividades.” Apesar do escalafobético e chocante episódio ter sido minimizado pelas autoridades guanabarinas, a polícia montou uma operação repressiva na região, deparando-se com barricadas em todas as vias de acesso. Peixão, que também se intitula “profeta de Deus”, enquadrado em todos os artigos do código penal, não foi ainda localizado para prestar contas à Justiça. É só que faltava!

2) A liderança do Partido Conservador, desalojada do poder na Inglaterra, depois de 14 anos, vinha defendo uma “solução genial” para o problema dos imigrantes africanos. Embarca-los na marra, todos eles, em aviões e navios e despeja-los em Ruanda, África. Tá danado!

3) Impedidos pelo eleitorado francês, na votação em segundo turno, de formarem maioria parlamentar, os radicais chefiados pelo clã Le Pen, saudosista do colaboracionismo de Vichy e das teorias nazistóides,  sustentam a ideia de uma França “liberta de impurezas”, onde nenhum cidadão nascido no país, mas de descendência estrangeira possa galgar cargo público. Como é que pode?

4) A PF, em inquérito enviado ao  STF, concluiu que o dinheiro das joias sauditas, vendidas ilegalmente no exterior, entrou para o patrimônio do ex-presidente Bolsonaro. De valor bastante elevado, Os objetos deveriam ser incorporados, de acordo com a legislação brasileira, ao acervo do Estado. O caso toma característica mais desconcertante quando as investigações apontam o envolvimento na tramoia de auxiliares de alta graduação militar do antigo mandatário. “Taí” revelação capaz de estarrecer um frade de pedra!

5) O Itamaraty pediu desculpas,mas o Governador do RJ sustenta que a truculenta ação policial contra crianças negras, que ocupou o noticiário, foi ato de rotina, Deus nos valha!

 (cantonios1@yahoo.com.br)

Internet comprometida com a Democracia

 


                                                                                                                   *Cesar Vanucci

 

         “Regulamentação das redes é inevitável e         fundamental. Não é censura, são regras”.    (Rodrigo Pacheco, Pres. Congresso Nacional)


 As plataformas digitais persistem no propósito de fazer da internet terra de ninguém, uma arena gigantesca de “vale tudo” em massacrante desrespeito as normas de convivência social e ao Direito.  Enquadra-se nessa linha de atuação recente manobra da META, dona do Instagram, Facebook e WhatsApp.  Detectado a tempo pela a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD), o procedimento da Big Tec foi sustado, por meio de uma portaria proibindo o uso de dados pessoais, para fins de treinamento de modelos de IA.

Na justificativa da decisão, a Agência Controladora explica que o esquema pretendido implica em risco iminente de dano grave e irreparável aos direitos fundamentais dos titulares das contas. O ato proibitivo fixou multa de R$ 50 mil por dia caso haja descumprimento.

Mark Zukerberg, dirigente da Meta, declarou-se desapontado com a decisão da ANPD registrando que isso é um retrocesso para a inovação e a competitividade no desenvolvimento de IA. Mas, especialistas da matéria são de parecer inteiramente favorável ao órgão governamental, identificando na medida anunciada ato legítimo de defesa dos superiores interesses da coletividade.

Essa nova arremetida dos “todo poderosos” grupos envolvidos na rendosa e ambígua manipulação da internet, que tanto se apresta a desfigura-la, enfatiza outra vez, tomando feição de verdadeiro clamor público, a impostergável necessidade da regulação das redes digitais. A discussão do assunto caminha, no Congresso Nacional, a passos trôpegos por conta de politiquice barata, o que constitui uma lástima.

O Estado de Direito e a Democracia deploram o que anda ocorrendo, divisando na ação de parte da base parlamentar o inglório intuito de sabotar a implantação do “Marco Civil da Internet”.

 Ardente aspiração das ruas, a “Constituição da internet”, outra denominação do Marco Civil estabelece as diretrizes para o uso da internet entre nós. Destaca a importância da privacidade dos usuários, da inclusão digital, garantindo a liberdade de expressão.  Estipula neutralidade das redes, responsabilizando os agentes do processo digital em seu âmbito de atuação. As normas a serem votadas preconizam seja a internet um espaço rigorosamente democrático e participativo. Explicam que modelos de negócios introduzidos no sistema são atividades livres e bem-vindas, desde que não molestem os princípios e valores Democráticos e a Legislação.

São pontos fundamentais do Marco: Acesso universal ao esquema de comunicação; Acesso à participação cultural; incentivo ao aprimoramento tecnológico. Tudo quanto posto remete-nos à segurança de uma internet livre, inclusiva e segura, refletindo os ideais Democráticos e o compromisso com o desenvolvimento humano e tecnológico.

 

(cantonius@yahoo.com.br)

 

Jogo “proibido”

 



“Jogo proibido não passa de uma piada de salão.”

(Antônio L. da Costa, educador).

 

As atenções de diferentes segmentos da sociedade estão focadas no projeto de Lei 2234, que libera jogos de azar, proibidos desde 46. O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, informa que o assunto só será votado depois do recesso parlamentar.

Afinal de contas, o que temos por aqui, Brasil adentro, em matéria de jogos de apostas?

Tem Mega Sena, Quina, Loto Fácil e outras modalidades lotéricas? Sim, tem tudo isso!Têm apostas esportivas, casas de pôquer, carteado com “cacifes” elevados em clubes de lazer reservados a gente abonada? Também isso tem, em demasia! Tem jogo de bicho, bingo, caça-níqueis, cassinos clandestinos, tudo combatido com rigor de mentirinha? Tem sim senhor! E cassino regulamentado com complexo hoteleiro, gastronomia requintada, espetáculos artísticos de categoria, garantindo tributos para o Estado, muitos empregos e movimentação financeira pujante nas regiões em que operem, tem isso também? Não, tem nada disso, não! Mas por que não tem, ora essa? A resposta a essa intrigante pergunta tem como pano de fundo, farisaísmo, hipocrisia, polpudos ganhos abocanhados à margem da lei. Simples assim: o jogo é “proibido” no Brasil.

 Pautado para discussão o PL permite a “reabertura” dos jogos de apostas. A Comissão de Justiça da Câmara já analisou a matéria, passando-a adiante.  A Proposta autoriza jogos em cassinos, bingos, jogos online, jogo do bicho, corridas de cavalos e quejandos há mais de meio século “ilegais”. Se favorável, a manifestação da Câmara e do Senado subirá para sanção Presidencial. O Presidente Lula já externou a disposição de sancionar o texto.  A regulamentação preconizada, envolvendo a criação de uma agência de fiscalização especifica, absorve o que de melhor e mais eficaz existe na experiência internacional relacionada com o mundo das apostas. Seja frisado, a propósito, que o Brasil é, inexplicavelmente, o único país da lista dos emergentes e dos desenvolvidos a estabelecer “óbices” à pratica de jogos, deixando com essa “proibição de araque” de   arrecadar recursos substanciosos que poderiam perfeitamente ser carreados para o desenvolvimento econômico e social.

É chocante e bastante conhecido o fato de que uma única cidade, Las Vegas, nos Estados Unidos, onde se acha implantada colossal rede de cassinos e hotéis, recebe anualmente mais turistas do que este nosso país de dimensões continentais, com suas pujantes riquezas culturais e paisagens deslumbrantes. As estatísticas sobre o destino das levas de turistas brasileiros que se deslocam constantemente para o exterior revelam, por outro lado, ser considerável o número dos que demandam centros de entretenimento ligados às atividades dos jogos de apostas.

 É grande a expectativa de que se possa voltar em breve a ouvir em nossas estâncias balneárias: “Façam suas apostas, Senhores!”

                         

                            Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Diálogo, Pantanal e Debate

 

*Cesar Vanucci


“O consumo de maconha continua a ser considerado ilícito.” 

(Luis Roberto Barroso, Pres. do STF)



1) Diálogo - O STF e o Congresso, com enfoques um tanto diferenciados, pautaram a polemica questão do porte de drogas ilícitas. É ponto pacifico a necessidade de se saber distinguir, para fins de aplicação das penalidades, as situações do usuário dependente e do traficante. Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. O primeiro caso tem a ver com saúde pública. O segundo, já vira caso de polícia. Assim posta a candente questão, afiguram-se recomendáveis diálogo e debates aprofundados de modo a que não ocorram interpretações desencontradas e mesmo conflitantes. Faz-se premente exame criterioso dos aspectos que mais se aprestem a controvérsias. As decisões dos setores incumbidos da repressão às drogas não podem incidir no risco de punir com o mesmo rigor os dependentes, carecedores de tratamento médico, e os desalmados traficantes. Especialistas nas áreas da Saúde e do Direito admitem que por conta de equívocos em processos criminais, muitos dependentes têm sido condenados como se traficantes fossem. Algo assim carece ser devidamente avaliado.

2) Pantanal - O Pantanal ardendo em chamas é um sinal a mais dos efeitos climáticos extremos provocados continuamente pelos desatinos humanos. Com 3 mil e 400 focos de incêndio, a queimada desta temporada de seca alcançou proporção nunca dantes atingida. A situação de emergência está exigindo mobilização de recursos sem precedentes, acenando com temores de que algumas áreas sofram danos irreversíveis tal a intensidade do fogo. O sério comprometimento do rico bioma pantaneiro, com sua exuberante  paisagem, impõe às governanças Federal e Estaduais ações protetivas de maior envergadura, no campo da prevenção e da fiscalização. Ao grupo- tarefa instituída pela PF compete desarticular os esquemas perversos dos desmatamentos ilegais.

3) Debate - A mediocridade imperou no debate presidencial estadunidense. Joe Biden revelou-se vacilante e nada convincente. Donald Trump, com as fanfarronices costumeiras, abusou do “direito” de mentir. Chegou ao cúmulo de acusar a liderança democrata pela invasão do Capitólio. Dá pra perceber por essa alegação o quão são parecidos os golpistas de lá com os de cá. Mas, de qualquer forma, o aspecto a realçar no confronto dos presidenciáveis é o despreparo intelectual por ambos demonstrados que desceu a um nível assustador, tendo em vista a relevância do posto a que aspiram voltar a ocupar. Os telespectadores ficaram, em certos momentos, com a sensação de estar vendo e ouvindo, ao invés de pretendentes ao cargo mais elevado da governança mundial, dois adolescentes pirracentos trocando insultos na hora do recreio. Muita gente anda pensando que o melhor para a grande nação Norte-Americana e para o mundo é que um deles desista da disputa e o outro fique impedido de dela participar pelos comprovados malfeitos praticados.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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