quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

 

A variante vem da desprotegida África

 

 

“Um genocídio!”

(Antônio Guterres, Secretário Geral da ONU,

descrevendo o que vem ocorrendo na África,

 face ao flagelo da Covid-19)

 

Alerta da OMS: uma nova variante supostamente mais temível que as anteriores, irrompeu no aterrorizante espaço pandêmico da Covid-19. Procede da África, esse quarto de despejo destelhado da morada terrena, uma espécie também de terreno baldio onde é despejado lixo de outros lugares relativamente bem cuidados do planeta. A culpa pelo surgimento da cepa ameaçadora – óbvio ululante – não é dos africanos. Eles, africanos, não passam de vítimas, no caso, as primeiras vítimas das repetidas ofensivas de um vírus que faz uso de variadas camuflagens em sua feroz proliferação. 

O alerta desencadeou, logicamente, por parte do resto do mundo, barreiras protetivas de saúde pública.  As do Brasil, conforme o entendimento de respeitados infectologistas, menos eficazes do que as adotadas em outros países. 

Habitantes do maltratado continente africano bem como habitantes de outros lugares que por lá transitaram recentemente estão sendo submetidos a extensas quarentenas no acesso a diferentes plagas. A ONU, pela voz de seu Secretário Geral, o português Antônio Guterres, elevou o tom dos apelos para que o mundo inteiro, com ênfase às grandes potências, contemple com olhares mais solidários e misericordiosos as tragédias sociais ininterruptas dessa África esquecida dos homens e dos deuses. 

Concentrando as atenções, na hora presente, tão somente às dramáticas consequências da propagação da Covid-19 no território africano deparamo-nos com uma verdadeira catástrofe social. A inexistência de sistema de dimensão mínima para articular campanhas preventivas e implantar pontos de atendimento para vacinações confere à questão da disseminação da enfermidade características de calamidade social inenarrável. Guterres mesmo já afirmou que a não destinação de cotas razoáveis das vacinas para os países da África tem o significado horrendo de um genocídio. Mas clamores dessa magnitude não costumam encontrar guarida entre os que detêm o poder de decidir os rumos políticos, econômicos e sociais na jornada humana. 

Os tremendos malefícios causados pelas desigualdades sociais existentes mundo afora parecem ser mais gritantes ainda nos domínios africanos. Decisões geopolíticas econômicas injustas, que condenam centenas de milhões de seres humano a níveis de vida degradantes e perversos, revelam-se quase que sempre mais contundentes em regiões do sacrificado continente.   E tudo isso que acontece não é de agora. Vem de épocas bastante recuadas, como a História, constrangedoramente, documenta. 

É aconselhável ter-se presente na memória que o tráfico de escravos só cessou há pouco mais de um século. É recomendável, ainda, não esquecer que a África é implacavelmente saqueada em suas abundantes riquezas naturais há centenas de anos por colonialismo e neocolonialismo repulsivos. Esses esquemas nefandos nutrem desprezo solene aos direitos fundamentais, absorvidos no processo civilizatório, em parte significativa do mundo mesmo quando, num que outro lugar haja constatações, em circunstâncias variadas e momentos diferentes, de infringências a normas lesivas à convivência comunitária. 

A OMS e a ONU asseguram que a capacidade de produção de vacinas é mais que suficiente para atender uma demanda universal absoluta. Atestam igualmente que alguns países estocaram imunizantes em quantidade superior às necessidades domésticas. Dos fatores citados extrai-se, logicamente, a conclusão de que existem condições de se acudir, com relativa rapidez, às exigências sociais de imunização a contento da população do continente africano. Vacinas não faltam. O que está havendo é escassez de solidariedade social e vontade política. Como Guterres já advertiu, o combate eficiente ao flagelo da Covid-19 estabelece como pressuposto irrevogável a vacinação de todos habitantes do planeta. A África não pode ficar de fora na distribuição dos imunizantes.

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