sábado, 26 de junho de 2021

 

Luiz Gonzaga de Oliveira

 

Cesar Vanucci

 

“Uberaba!/Mãe que me gerou e deu à luz/este seu filho não lhe troca por nada/Deus por isso me deu um bom destino/e Ele sabe que eu faço jus.”

(João Eurípedes Sabino, presidente da ALTM, em poema dedicado ao saudoso Luiz Gonzaga de Oliveira)

 

A morte, jamais bem-vinda de um ponto de vista meramente humano, representa mudança de rota no plano existencial, dentro da perspectiva espiritual. Pesar enorme invade os corações, por conseguinte, quando da partida primeiro, antes da gente, de pessoas a que estejamos ligados por laços profundos de afeição. Parceiros valorosos em bons ou maus momentos. Criaturas que compartilharam conosco sonhos, realizações, revezes, triunfos, no curso desta peregrinação finita pela pátria dos homens, repleta de inexplicabilidades.

O pensador Richard Bach sustenta que a morte sinaliza que a missão foi cumprida. O raciocínio, bastante lógico, não proporciona, contudo, consolo suficiente para os que ficam, na hora dos adeuses doloridos. Retirado do palco da vida, por desígnios superiores, Luiz Gonzaga de Oliveira era um amigo fraternal.  Desses que “nos quer apesar de nada”, lembrando Sofocleto. Desfalca pra valer o time dos personagens exponenciais da Uberaba que tanto amou.

Cidadão do bem, jornalista altivo, destemido, irrepreensivelmente ético, pelejou sempre o bom combate. Colocava ardor nas causas abraçadas. Vai fazer uma baita falta nos debates sobre os rumos comunitários.

Meu papo frequente, anos seguidos, com Gonzaga, quase sempre ele em Uberaba, eu em Belo Horizonte, não respeitava limites de tempo. Espichava-se por conta das recordações, ou pela atualização de informações sobre temas palpitantes. No capítulo das lembranças, perpassávamos sempre casos ligados às ações empreendidas, juntos, nos bons tempos do “Correio Católico”, da “Difusora”, outros órgãos de comunicação. Figuras diletas de nosso convívio social e profissional, campanhas eletrizantes, reportagens e artigos de repercussão, que ajudaram a fazer história, afloravam nessa conversa de tom saudosista.

Dono de inteligência aguda, muita sensibilidade social, Gonzaga foi um craque no ofício jornalístico. Sabia coletar como poucos a informação e torná-la atraente ao leitor.  Tinha sempre uma palavra a dizer sobre questões de interesse público. Por vezes polêmica, vigorosa sempre, sua manifestação era acatada com respeito pela autoridade moral em que se ancorava. Uberaba teve nele, em sua memória privilegiada que sabia armazenar detalhes, versões, nomes, datas, um soberbo cronista. Isto está refletido em seus feitos, nos livros editados, em outras matérias impressas, em ditos no rádio e televisão.

Na última vez que tagarelamos, pouco antes de sua internação, andamos trocando ideias sobre sua “posse presencial” na Academia de Letras do Triângulo Mineiro. A “posse virtual”, já havia acontecido por iniciativa do companheiro João Eurípedes Sabino, dinâmico presidente da instituição. Fui por ele convidado para a saudação de praxe na cerimônia que o destino implacável resolveu cancelar, sem pedir nossa opinião. Não sei dizer se nos planos da ALTM figura a possibilidade de realização de alguma reunião especial mais adiante concernente ao assunto, já que outros dignos nomes da seara literária estão também a aguardar posse presencial. O que posso assegurar é que, se programado, o ato contará, infalivelmente, querendo Deus, com minha participação. Antecipo que irei dizer alto e bom som, certeiramente com olhares e gestos emotivos e calorosos de assentimento de plateia numerosa que Luiz Gonzaga de Oliveira foi alguém muito conhecido e admirado por todos nós que, por assim dizer, tinha cara de Uberaba.

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