O
líder classista que acaba de partir
Cesar
Vanucci
“Um
cidadão de peso e medida.”
(Expressão ouvida de
um panificador na missa de 7º dia de Danilo Savassi)
A
gratidão é irmã gêmea do amor. Guardo este conceito no arquivo da memória desde
os risonhos tempos da adolescência. Foi-me passado, na sala de aula, no antigo
Liceu do Triângulo Mineiro, pelo professor José Peppe Junior, cidadão de
invejável formação humanística, já não mais entre nós. O Liceu foi a planta de
ensino embrionária da frondosa Universidade de Uberaba, criada pelo genial
Mário Palmério.
Dia
desses, a frase ressoou forte na mente, quando compartilhava, com os familiares
enlutados, das emoções suscitadas pelas lembranças da vida e obra de Danilo
Achiles Savassi, por ocasião da celebração da missa de 7º dia, em sua intenção,
na Igreja da Santíssima Trindade, no bairro Gutierrez, Belo Horizonte.
Imaginei, naqueles instantes, tomado de certeira convicção, que em nenhum
estabelecimento ligado às atividades de produção e comercialização na faixa de
atuação do Sindicato da Indústria de Panificação de Minas Gerais e da
Associação Mineira de Panificação, a notícia da partida do ilustre personagem
deixou de ser anotada com o mais sincero sentimento de pesar. Imaginei, também,
que nessas mesmas horas, numerosos comentários se fizeram ouvir, em palavras
encharcadas de carinho, simpatia e gratidão, sobre atos e decisões assumidos,
em longa e fecunda trajetória, pelo líder classista e sindical de maiúscula
projeção arrebatado ao nosso convívio.
Fiquei
conhecendo Danilo nos idos de 65, ao transferir minha residência de Uberaba
para Belo Horizonte. Eu era advogado do Sesi naquela encantadora cidade,
acumulando esta função com as de
jornalista e professor. O saudoso Fábio de Araujo Motta, então presidente do
Sistema Fiemg, aquinhoou-me com o honroso convite para assumir o cargo de
Superintendente da instituição. Nele permaneci por todo o tempo das gestões do
próprio Fábio, de Nansen Araujo e José Alencar Gomes da Silva. Na chegada a BH
fui acolhido de forma bastante fraternal pelos ilustres integrantes do núcleo
empresarial que, com descortino e competência, assessorava diretamente o
presidente na condução dos destinos da valorosa entidade. Savassi fazia parte
deste núcleo, que marcava presença constante no gabinete ocupado por Motta, de
onde eram expedidas as diretrizes e ordens superiores para as febricitantes
operações executadas pelos órgãos do Sistema: Sesi, Senai, Ciemg, Casfam, Iel,
além dos sindicatos filiados, muitos deles com sede na Casa da Indústria.
Diretor
tesoureiro da Fiemg, Danilo presidia, ainda, o sindicato patronal
representativo da classe panaderil. Ele não ocultava o orgulho que sentia por pertencer
à “nobre classe panaderil”. A expressão “panaderil” remete-me a uma cena de que
fui testemunha ocular. Á guisa de provocação entre amigos um empresário de
outro setor levantou dúvidas a respeito da legitimidade do vocábulo para
classificar o segmento dos panificadores. Danilo, muito no seu estilo franco,
tinha a resposta engatilhada na ponta da língua. Desfez, com exuberantes
informações, o questionamento arguido. Deu-se ao luxo de citar trecho extraído
de conto de autor português do século XIX onde o vocábulo “panaderil” havia
sido empregado.
A
causa classista em que empenhou talento, criatividade, capacidade empreendedora
e poder de liderança, o empolgava. Era, pode-se dizer, uma de suas razões de
viver. Sua sintonia com os companheiros de jornada, nos anseios comuns,
nascidos do labor cotidiano dos panificadores, era perfeita, repleta de
simpatia e afetividade. Porta-voz de fala vibrante dos pleitos e reivindicações
grupais, ele revelou-se sempre, também, colega fraternal. Mostrava-se permanentemente
disposto a dar apoio em horas dificultosas ou adversas. Sua proverbial
solicitude e disposição para o diálogo, sua diligente atuação e prestimosidade,
dele fizeram conselheiro intensamente demandado. Companheiros de empreitadas
empresariais, colaboradores de órgãos do Sistema Fiemg procuravam-no, amiúde,
para pedir sua intervenção na busca de soluções para problemas pessoais.
A
padaria Savassi, de sua propriedade, que funcionou anos a fio em ponto
estratégico numa parte nobre da paisagem belorizontina, tornou-se ponto de
incrementada convergência popular. Transformou-se em reluzente referência, em
símbolo marcante de ações comunitárias voltadas para atividades culturais,
recreativas e comerciais. Acabou batizando oficialmente um dos mais charmosos e
trepidantes pedaços de chão da geografia urbana da capital das Alterosas.
Repito
aqui o que disse, na missa de 7º dia, à estimada viúva dona Naly e filhos,
sobre o prateado amigo que acaba de “partir primeiro”, conforme a lírica
definição camoniana: o esplêndido legado de Danilo, como dirigente classista,
foi de molde a garantir eterna gratidão por parte de seus companheiros da
classe “panaderil”.
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