sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

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Lions celebra 100 anos 
em Ouro Preto

Cesar Vanucci

“Nossa instituição está presente hoje em 220 países.”
(Maria das Graças Campos Amaral, governadora do Lions Clube)

A encantadora “Casa da Ópera” de Ouro Preto, mais antigo teatro em funcionamento das Américas, foi o palco escolhido pelo Lions Clube para magnífica celebração de seu Centenário, envolvendo simbolicamente as laboriosas comunidades em que atuam as dezenas de clubes de Lions pertencentes à jurisdição do distrito LC-4, sediado em Belo Horizonte. Com o apoio inestimável da municipalidade da capital cívica do Brasil, cidade monumento mundial, que assegurou todo o arcabouço logístico para o êxito da empreitada cívico-cultural levada a efeito, o movimento leonístico conseguiu atrair ao evento prefeitos e outras autoridades, ou representantes, dos municípios de Belo Horizonte, Betim, Bom Despacho, Conceição do Mato Dentro, Confins, Conselheiro Lafaiete, Corinto, Curvelo, Diamantina, Divinópolis, Esmeraldas, Itabirito, Janaúba, Lagoa Santa, Mariana, Montes Claros, Nova Lima, Nova Serrana, Papagaios, Pedro Leopoldo, Pirapora, Pompéu, Santa Luzia, Sete Lagoas, Três Marias e Vespasiano, além, naturalmente, de Ouro Preto.

As comunidades mencionadas receberam das mãos da governadora do LC-4, Maria das Graças Campos Amaral, o troféu “Lions-Gratidão”, de bela concepção da lavra da artista plástica Lete Beleza, instituído para a ocasião. Os representantes das comunidades foram acompanhados, à hora da outorga das láureas, por representantes dos clubes de Lions engajados na promoção. Companheiros e companheiras leões das localidades prestigiaram em número elevado o acontecimento, que contou ainda com a participação de representantes de diferentes segmentos sociais dos municípios.

O prefeito de Ouro Preto, Júlio Pimenta, na condição de anfitrião, saudou homenageados, convidados e visitantes, enfatizando as produtivas parcerias existentes entre sua administração e o Lions. Maria das Graças, na mensagem de reconhecimento às comunidades em que o movimento leonístico promove ações assistenciais, culturais e educacionais, ressaltou o papel relevante que a instituição ocupa, por meio de serviços voluntários desenvolvidos em 220 países por quase dois milhões de associados, em favor da construção humana e do bem-estar social.

A tradicional “Invocação a Deus”, da ritualística do leonismo, foi proferida por Marise Santana de Rezende, do Lions Lafaiete Centro. Eficientes na condução dos trabalhos, Paulo Marcos Xavier da Silva de Cachoeira do Campo e Marcília Chaves dos Santos, de Ouro Preto, ambos da Academia Mineira de Leonismo, atuaram como mestres de cerimônia. O ex-governador do Lions, Luciano Guimarães Pereira, de Mariana, fez uso da palavra, pontuando expressivas realizações da gestão do prefeito Júlio Pimenta em Ouro Preto.

Solicitado a pronunciar-se, este escriba de antiga militância leonistica, salientou que a história contemporânea está a reclamar, dos homens e mulheres de boa vontade que canalizem energia e criatividade no sentido de ajudar o mundo a reconectar-se com sua humanidade, com os valores essenciais que conferem dignidade à aventura da vida. Como sempre ocorre em sessões solenes patrocinadas pelo Lions, a programação contemplou o público presente com espetáculo musical requintado, a cargo de artistas regionais, entre eles os “Violeiros de Queluz”.

Um outro momento de alto significado cívico e cultural da festa de sábado, 25 de novembro, parte da manhã, na “Casa da Ópera”, Ouro Preto, ocorreu quando a Academia Mineira de Leonismo, representada pelo vice-presidente Vespasiano de Almeida Martins Neto, entregou ao Secretário de Estado da Cultura de Minas Gerais, Angelo Oswaldo de Araújo Santos, a comenda “JK-Cultura, Desenvolvimento e Civismo”, anualmente conferida a personagem de realce na vida nacional. O agraciado, expressando-se também em nome dos homenageados com o troféu “Lions-Gratidão”, fez aplaudido discurso. Frisou que, no Brasil dos dias de hoje, a vida e obra de JK, como líder progressista, devotado à causa do desenvolvimento social, como cidadão que soube cultivar a tolerância no trato político, devem servir de inspiração a quantos se achem empenhados na retomada do crescimento econômico e no propósito de ver o país consolidar sua vocação de grandeza.

Almoço de confraternização, transcorrido no mesmo clima de alegria e companheirismo, concluiu a memorável celebração do Centenário do Lions em Ouro Preto.

Haja percevejo
 pra fincar no mapa

Cesar Vanucci


"Vendo o trânsito das grandes cidades dá para entender  
porque tantos pilotos brasileiros brilham nas pistas de corrida".
(De um turista norueguês, citado por jornal carioca)

Não são muitos, mesmo entre os mais chegados, que sabem, mas eu já fiz parte, com muito orgulho profissional, em idas primaveras, do Serviço de Trânsito. Conto aqui como isso se deu. No comecinho da década de 50, JK Governador, fui trazido de Uberaba mode tentar a vida na Capital, pelas mãos de uma prima querida, Anita Rosa de Magalhães Goes. Figura humana extraordinária, mulher de dinamismo incomum e bravura cívica. Era casada com um homem culto, de maneiras refinadas, com brilhante passagem pela Polícia Militar, coronel Américo de Magalhães Goes. Juscelino nutria pelo casal o maior apreço e acolheu pedido de Anita para que eu fosse nomeado. Deram-me o cargo de escrevente datilógrafo no nascente serviço de estatística de acidentes de trânsito, instalado na avenida João Pinheiro, no prédio onde ainda hoje funciona o Detran. O chefe de Polícia na época era Davidson Pimenta da Rocha, dono de forte personalidade. Era visto, amiúde, naqueles tempos remansosos da segurança urbana, a transitar pelos corredores, inteirando-se das atividades dos subordinados. A equipe da Estatística, composta de três funcionários, tinha como chefe o engenheiro Heráclito, cidadão idealista e talentoso. Vim a revê-lo, anos mais tarde, em funções de relevo na atividade política. Essa grata passagem de minha vida profissional recorda-me também que o ato de minha designação foi publicado no "Minas" no mesmo dia da nomeação, para cargo idêntico, de uma pessoa de grande valor intelectual cujo nome acha-se inscrito com letras reluzentes na história da Polícia, Jesus Trindade Barreto, saudoso presidente da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, instituição que com muita honra hoje presido.

Tocava-nos na seção organizar os dados estatísticos, com base nos boletins de ocorrências. Num mapa da cidade fincávamos percevejos coloridos. As cores serviam para diferenciar a natureza dos acidentes. Os registros, naqueles tempos anteriores aos da implantação da indústria automobilística, deixavam forte impressão. Nenhum de nós, nem de leve, conseguiria adivinhar o que o incremento automobilístico iminente desencadearia na geografia da cidade e que acabaria, comparativamente, tornando inexpressivas e, até mesmo, amenas as nossas "impressionantes" estatísticas. A incidência maior de ocorrências era na Bahia e na Jacuí. Na primeira das ruas por conta dos postes centrais que, dia sim outro também, faziam vítimas entre passageiros de bondes. Na segunda rua, as colisões eram diárias num cruzamento com outros logradouros. Nada, porém, ligeiramente parecido com as tragédias automobilísticas da atualidade.

Fiquei pouco mais de um ano no Trânsito, sendo deslocado, ao depois, para servir na Delegacia Geral de Polícia do Triângulo Mineiro, em Uberaba. Mas isso já são outros quinhentos.

Dos tempos do Trânsito, conservei aceso um interesse especial pela problemática da circulação de veículos e transeuntes nas ruas , cada dia mais congestionadas da cidade em que vivo e que, por generosidade do vereador José Domingos, me fez seu cidadão honorário. Adicionei, à vista disso, recentemente, às preocupações rotineiras que carrego como homem do povo, com relação ao trânsito, o temor de que estejam para ser produzidas mortandade e mutilações sem conta entre os motociclistas. O que vivo presenciando por aí, a toda hora, em matéria de manobras ousadas, executadas pelos intrépidos ocupantes dessas ziguezagueantes viaturas, é enlouquecedor. As motos pintam na frente dos carros, subitamente, lembrando cena de filme de suspense, sempre em velocidade imoderada, surgidas dos trechos de percurso mais inesperados. Não tenho acesso às estatísticas de acidentes com motos. Suponho, entretanto, que já estejam a confirmar o meu indesejável prognóstico. Haja percevejo pra fincar no mapa.

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