sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017



Exige-se transparência solar


Cesar Vanucci 

“O que se concebe bem, se anuncia com clareza.
 E as palavras para dizê-lo chegam com facilidade.”
(Nicolas Boileau, poeta francês, século 17)

Transparência solar na apuração das circunstâncias do desastre aéreo que ceifou a vida do Ministro Teori Zavascki! Tal preocupação não pode permanecer ausente, hora alguma, das cogitações dos setores incumbidos da lida com o assunto. Apesar de compreensível do ponto de vista técnico, a recente decisão do Juiz Federal de Angra dos Reis, determinando hermético sigilo em torno do processo investigatório concorre, forçoso admitir, para que a opinião pública se sinta um tanto quanto desconfortável em relação às diligências oficiais.

É sumamente importante, neste momento, em todos os escalões, que os agentes públicos com expressas responsabilidades no impecável esclarecimento do acidente se mostrem verdadeiramente compenetrados do elevado grau das expectativas das ruas concernentes ao caso. Para que possam executar a contento sua relevante missão conta muito a certeza de que as explicações sejam transmitidas de forma convincente e clara. Toda a Nação almeja conhecer por inteiro os desdobramentos do trabalho de verificação a respeito do que, afinal de contas, andou acontecendo no voo fatídico de Parati.

A coincidência de a morte de Teori haver ocorrido na véspera da homologação de depoimentos cruciais, num processo da magnitude política, econômica e social da Lava Jato, é bastante significativa. Não há como desfazer os temores circulantes em muitas áreas no sentido de que o destino impiedoso poderia não ter sido a real causa do lastimável evento. A apuração rigorosa dos fatos, como a que se acredita esteja em andamento, terá o condão de deixar tudo muito bem elucidado, com base em rigorosa transparência.

E já que se está a tratar de transparência e clareza das coisas, seja-nos facultado focalizar, na sequência, posturas governamentais em dissonância com esses elementos, obviamente essenciais no processo de comunicação oficial com a sociedade. Vamos falar, como prometido em artigo anterior, das chamadas “síndrome da reivindicação sucessiva” e “síndrome da responsabilização regressiva”, fórmulas marotas de engazopamento da opinião pública, traduzidas em excesso de palavrório e carência de ações.

Lembrando que o Governo Michel Temer, tal qual fizeram os antecessores, acostumou-se a lidar com a segurança manipulando truques com o fito de embromar o respeitável público, o jornalista Élio Gáspari discorre magistralmente sobre o que vêm a ser essas ardilosas manobras. A “síndrome da reivindicação sucessiva”, uma delas, agrada em cheio a emproada casta dos burocratas, sempre empenhados em elaborar “agendas futuristas” que lhes propiciem a chance de não fazer o que devem. Permite corra desenvolto, conforme sublinha o jornalista, o raciocínio descrito abaixo: “As facções criminosas nos presídios só poderiam ser contidas com bloqueadores de celulares. Instalados os bloqueadores, será necessário um satélite para vigiar a fronteira e assim por diante. (...) As cadeias estão superlotadas e, em vez de botar pra trabalhar quem nunca trabalhou, defende-se a mudança na legislação penal.” E por aí a carruagem vai rodando, numa marcha inesgotável, carregando intenções que nunca se concretizam.

Já no que concerne à outra “síndrome” anotada, “a síndrome da responsabilização regressiva”, o citado jornalista sustenta que o ilustre Ministro da Justiça se acha dela apoderado. E no que mesmo consiste? Urdida, como a primeira “síndrome”, com o objetivo de empulhar a plateia, a postura adotada enfatiza a ideia de que a aterrorizante situação das penitenciárias remonta “a uma crise antiga, secular”. Suas raízes estariam fincadas nos tempos coloniais. Gáspari ironiza: “Tudo bem, a responsabilidade é de Tomé de Souza. Nada a ver com os governos de José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, todos apoiados pelo atual presidente Michel Temer”. E acrescenta, aludindo ao Ministro Alexandre Morais: “... é um homem do seu tempo. Atento às sutilezas do vocabulário, sempre que fala em “homicídio” acrescenta a palavra “feminicídio”. No mundo do politicamente correto lixo é “resíduo sólido”, e não se deve buscar a regeneração dos delinquentes, mas a “ressocialização” dos presos. Tudo seria uma questão de palavras que não fazem mal a ninguém, se na fantasia de modernidade e cosmopolitismo não se escondesse o atraso. Finge-se que tornozeleiras, satélites, radares, censos e mudanças pontuais podem resolver os problemas das prisões brasileiras. Eles resolvem o problema da ocupação do noticiário. Nada mais que isso.”

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