sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Movimentações financeiras criminosas
                              
 Cesar Vanucci

“Quando é que uma rígida legislação específica, nascida do consenso mundial, irá por fim ao escândalo dos tais paraísos fiscais?”
(Antônio Luiz da Costa, educador)

Já dissemos e voltamos a repetir. É mais do que chegada a hora de se cogitar, numa proposi­ção em que o verdadeiro espírito da globalização seja levado re­almente a sério, de uma legislação competente, elaborada sob os auspícios da ONU, que vede a facínoras, devidamente reconhe­cidos como tais, o direito de operarem nos mercados financei­ros. Uma medida dessa magnitude seria extremamente saudá­vel. Retiraria aos terroristas, aos donos de cartéis de drogas, a corruptos de todos os matizes e a outros execráveis mafiosos a condição de poderem especular livremente em bolsas e de se lançarem aberta e ostensivamente em diversificados e lucrativos empreendimentos na esfera internacional. E, via de consequência, de auferirem, por meio de tais proces­sos, ganhos que acabem sendo carreados para operações deli­tuo­sas contra a sociedade.

As informações, volta e meia divulgadas, de que as organizações ligadas a grupos terroristas movimentam operações financeiras em todos os cantos do mundo, engajadas em negócios de alta rentabilidade, colocam em dúvida a eficiência dos governos que se empenham em rastrear e combater o banditismo organizado. Volta e meia, também, são anunciadas intervenções, em nível planetário, nos negócios dessas organizações. Mas, os resultados práticos dessas intervenções deixam muito a desejar. A opinião pública nada fica sabendo a respeito. A sensação que se tem é de que é longo ainda o caminho a ser percorrido entre a promessa de se fazer algo positivo nessa área e a realidade da implantação de rígidos e eficazes esquemas de controle, oriundos de um consenso internacional, que possam amortecer ou destruir os sistemas operacionais que garantem o fluxo de recursos financeiros para atividades que ameaçam a paz e colocam em risco vidas e patrimônios preciosos.

A aldeia global em que se transformou o mundo, regida por processos de comunicação instantânea que podem vir a ser, dependendo da vontade dos homens, valioso instrumento de progresso e bem-estar social, não tem mais como absorver e to­lerar manipulações financeiras que se coloquem ao desabrigo de causas construtivas e nobres. A sociedade humana tem todo o direito de criar mecanismos de controle dessas movimentações financeiras malsãs. O procedimento há que ser visto como atitude de legítima defesa. Os países empenhados em campanhas permanentes contra os malfeitores de todas as categorias dispõem de instrumentos capazes de neutralizar atividades rendosas utilizadas como suporte em crimes praticados contra a humanidade.

Fica evidente, por outro lado, que quaisquer decisões que venham a ser to­madas com esse saudável propósito moralizador, para alcançarem plena eficá­cia, não poderão ignorar, também, as sedutoras operações clan­destinas estimuladas pelos tais “paraísos fiscais”, criados pela velhacaria e ganância como valhacoutos de bufunfas imoral e irregular­mente adquiridas. Tome-se como exemplo mais famoso o complexo bancário suíço. Não é de hoje que, com toda aquela panca de cafetina pundonorosa, facilita a ocultação, em con­tas numeradas inacessíveis, do dinheiro mal ganho por patifes de todos os matizes e origens. Está claro que não poderá ficar de fora, nessa vastíssima ação saneadora global.


 História espantosa

Cesar Vanucci 

 “Investigação internacional descobre que Estado Islâmico repassa relíquias saqueadas para a máfia em troca de dinheiro e armas.”
(Raul Montenegro, jornalista, na revista “IstoÉ”)

As grandes potências se dizem firmemente empenhadas em combater o sinistro Estado Islâmico. Aos olhos de observadores atentos, os métodos de ação e estratégias adotados pelos sofisticados serviços de inteligência dessas potências, que têm ao dispor uma fabulosa parafernália tecnológica, fazem prova constante de irrazoável ineficiência, para não dizer apavorante incompetência.

As evidências desse insatisfatório desempenho acumulam-se. A opinião pública mundial não consegue mais esconder sua estupefação diante dos resultados pífios das campanhas deflagradas com o alegado objetivo de desbaratar o complexo militar dessa horda de fanáticos acantonada em territórios sírio, iraquiano e líbio.

As perguntas presas na garganta que clamam por respostas suscitam apreensão e temor. Se é verdade mesmo que os terroristas estão confinados em áreas delimitadas, despojados dos recursos de produção necessários, que lhes garantam condições até de sobrevivência; se são mantidos sob a mira permanente de um fabuloso aparato bélico - composto de poderosas esquadrilhas aéreas, frotas navais super equipadas, tropas terrestres bem adestradas -, como é que eles se arranjam para sustentar seu incrementado ativismo bélico? Como é que fazem para prover as demandas cotidianas básicas? Seus suprimentos logísticos nas diversas frentes de combate são garantidos por quais mananciais de produção? Chegam até eles por quais misteriosas vias? Como explicar disponham os terroristas de carros de combate, peças de artilharia, mísseis, tanques, outros armamentos de última geração, munição inesgotável, material de reposição para todos esses equipamentos? Os fornecedores desses apetrechos, imprescindíveis nas ações empreendidas pelas falanges radicais, estão, afinal de contas, baseados em que lugares? Aonde se localiza a sede das operações negociais e por qual sistema bancário tramitam os recursos alusivos às encomendas dos produtos destinados a abastecerem armazéns e arsenais? E de onde, responda quem puder, sai a dinheirama toda para as ousadas empreitadas levadas a cabo por esses amalucados guerreiros, que se valem da desvirtuada interpretação de conceitos religiosos, sagrados para multidões fervorosas, em seu nefando propósito de semear o ódio, a intolerância e o fanatismo?

Recentemente, jornalistas italianos identificaram uma situação estranha, muito estranha, ao que parece não detectada pelos supracitados setores de inteligência das grandes potências, a Itália obviamente incluída, que talvez ajude a responder, em diminuta proporção, algumas das inquietantes indagações acima arroladas. Nos arredores de Nápoles, num frigorífico controlado pela máfia, vêm sendo feitas escancaradamente, sem repressão de quem quer que seja, sombrias operações favoráveis aos interesses do ISIS. Embarcações de grande porte, controladas por bandidos chineses, russos e parceiros de outras origens da máfia italiana, singram tranquilamente as águas do Mediterrâneo para descarregar no local citado material remetido pela organização terrorista, a ser trocado por armamento. Os navios chegam carregados de tesouros saqueados pelos fanáticos fundamentalistas de sítios arqueológicos do Oriente Médio. A máfia napolitana, que mantém o controle das operações portuárias, recolhe as relíquias e as redistribui, até mesmo a museus, como denunciam os jornalistas, falsificando – ora, veja, pois! - atestados de procedência. No retorno, os navios levam armamentos e outras provisões.

Na edição de número 2447 da revista “IstoÉ”, a história dessa trama inacreditável é relatada com minuciosos detalhes pelo jornalista Raul Montenegro. Sem qualquer margem para equívocos, a parceria firmada pelos terroristas com a máfia italiana não explica, por completo, as circunstâncias de o Estado Islâmico manter-se vigoroso diante de toda a poderosa conjugação de forças constituída para desestabilizá-lo. Mas não deixa de ser um indício alarmante de coisas escabrosas que podem estar acontecendo no subsolo das conveniências geopolíticas. Coisas que fazem os serviços de espionagem e contraespionagem das grandes potências parecerem mais negligentes e ineficazes do que realmente são. Em toda essa espantosa situação, existe, tá na cara, uma lógica tenebrosa.



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