sábado, 14 de novembro de 2015

Fosfoetanolamina, Anvisa e SUS


Cesar Vanucci 

“Ministérios da Saúde e de Ciências anunciam estudos mais
 aprofundados a respeito do composto sintetizado em São Carlos.”
(Do noticiário dos jornais)


A inflamada controvérsia em torno da aplicação da Fosfoetanolamina no tratamento do câncer trouxe um beneficio palpável. Criou as condições propicias para a efetivação de uma pesquisa oficial aprofundada, destinada a apurar a alegada eficácia da substância medicamentosa processada no Instituto de Química da USP em São Carlos.

Abriu, ainda, a chance de se poder comprovar uma certa inconsistência nas alegações sustentadas por setores científicos quanto à exigência do registro da Anvisa para a utilização da droga citada em função de determinações judiciais. Acontece que, conforme relatado abaixo, sem que ocorram quaisquer questionamentos por parte desses mesmos setores, o SUS vem gastando fortunas em remédios estrangeiros desprovidos também de registro da Anvisa, liberados igualmente pela Justiça.

Os Ministérios da Saúde e da Ciência anunciaram a disposição governamental de promover o estudo, que já poderia ter sido efetuado há bastante tempo, a levar em conta a circunstância de que o composto sintetizado pelo químico Gilberto Chierice vem sendo aplicado com bons resultados, consoante copiosa documentação, desde o ano de 1995. A distribuição das cápsulas era regularmente procedida pela USP em São Paulo até o ano passado. Abruptamente foi interrompida, o que levou milhares de pessoas a recorrerem à Justiça para obter o produto. Segundo registros recentes do Fórum de São Carlos, oitocentas petições jurídicas são protocoladas diariamente requerendo a liberação da substância. As pessoas se louvam, esperançosamente, em testemunhos numerosos de pacientes que passaram pelo tratamento com a Fosfoetanolamina e que se confessam curados dos males que os afligiam. A cura ou a melhora alegadas são, contudo, questionadas por parte de muitos especialistas em oncologia. Eles sustentam a inexistência de avaliações clínicas rigorosas sob controle com seres humanos, etapa fundamental para que o composto possa vir a ser reconhecido pela Anvisa. Os defensores do emprego da droga contra argumentam com dados apurados pelos cancerologistas da equipe do químico Chierice. Garantem eles que a Fosfoetanolamina revela-se altamente eficaz na regressão de células tumorais de melanoma (câncer de pele), leucemia e cânceres de rim e cólon. A celeuma em torno da questão trouxe a público também a revelação de que, em mais de uma oportunidade, instituições científicas manifestaram interesse em ampliar as pesquisas realizadas no Instituto de Química da USP em São Carlos, mas as negociações a respeito jamais foram concretizadas. Outra informação de grande significado social liberada em razão da incandescente polêmica à volta da Fosfoetanolamina diz respeito ao manifesto propósito dos responsáveis pela distribuição das cápsulas de não usufruírem benefícios pecuniários da comercialização da fórmula. Em seu modo de entender o medicamento terá que ser gratuitamente fornecido aos interessados.

Existe um outro dado extremamente curioso relacionado com a relutância oferecida à ideia de liberação do composto. É alegado a toda hora que o produto não possui o registro legalmente exigido da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Tem ocorrido, entretanto, com frequência, a liberação por ordens judiciais de um punhado de fármacos estrangeiros sem o competente registro na Anvisa, considerados importantes para tratamentos especiais de saúde com custos elevadíssimos para o SUS. O caso do remédio conhecido por “Soliris”, indicado para amenizar as complicações de uma forma rara de anemia – a “hemoglobinúria paroxística noturna (HPN)” -, é bem elucidativo. Por exigência da Justiça, o SUS foi obrigado a adquiri-lo centenas de vezes. O medicamento – voltamos a lembrar, de origem estrangeira – custa 440 mil dólares ao ano por paciente. Em reais, 1.7 milhão de reais. De 2010 para cá, o Ministério da Saúde aplicou 554,5 milhões de reais só com o “Soliris”.
E ele não é a única fórmula medicamentosa adquirida pelo governo no exterior, a preços que custam os olhos da cara, desprovido do “de acordo” da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

E, agora, José?


Yitzhak Frankenthal, um humanista


Cesar Vanucci 

“Perdi meu filho pelo fato de não
existir paz entre israelenses e palestinos”.
(Yitzakt Frakhentan)

O israelense Yitzhak Frankenthal é membro do seleto e invejável clube dos corações ardentes e fervorosos. Obstinado na defesa de crenças pacifistas, conserva acesa a tocha da esperança mesmo sendo forçado a encarar, o tempo todo, insanáveis situações conflitivas, ódios fratricidas, ferozes incompreensões.

Esse cidadão judeu, sionista, abonado homem de negócios, perdeu o filho primogênito há quase 20 anos de forma bastante trágica. O rapaz foi sequestrado e assassinado por radicais das fileiras do “Hamas”. Mas a incomensurável dor pela irreparável perda não se transmutou em ódio. Ao contrário, fez irromper dentro dele uma irresistível afeição à causa da Paz. “Perdi um filho querido não por culpa dos palestinos. Perdi meu filho pelo fato de não existir paz entre israelenses e palestinos”. É o que afirma sempre, com inabalável convicção, nas pregações promovidas em favor do diálogo e da conciliação.

O Instituto Arik, ong criada por Frankenthal para disseminar suas ideias, empenha-se em campanhas com motivações na psicologia social. O objetivo dessas campanhas é conscientizar a sociedade israelense da necessidade imperiosa de uma mudança coletiva de postura. “Meus compatriotas precisam reconhecer e repudiar o apego que nutrem com relação ao conflito”, assevera, acrescentando que para se conseguir a paz é preciso abrir o coração à conciliação, é preciso assumir compromissos solenes.

Numa entrevista no apreciado programa “Milênio”, da GNT, Yitzhak conta à jornalista Leila Sterenberg que procura incessantemente abrir veredas para que o ideal da convivência pacífica entre judeus e palestinos se transforme em radiosa realidade. Admite que nem sempre é bem compreendido nesses nobres propósitos. Os radicais não apreciam em nada o que faz. Vizinhos ortodoxos, adeptos como ele do sionismo, pararam de dirigir-lhe a palavra. O abnegado pacifista não considera entretanto esse o fardo mais cruel a carregar. Cruel – explica – é ter que se defrontar com o túmulo do filho. Voz solitária no princípio do trabalho a que consagrou sua vida, aglutina hoje contingente expressivo de simpatizantes dentro e fora de Israel.

Yitzhak Frankenthal assinala que são muitos os atos errôneos praticados pelo Estado de Israel contra os palestinos. Cita alguns: recusa intransigente a selar a paz; não aceitação das fronteiras estabelecidas no passado, definidas como corretas pelos dois lados; não aceitação da existência do Estado Palestino, universalmente reconhecido no concerto das nações. A solução, apontada por alguns, de um Estado único na conturbada região, de acordo com suas palavras, é puro nonsense, ridícula a mais não poder. A perspectiva de um Estado único só levará à continuidade do derramamento de sangue e acabará com Israel enquanto Estado judeu, porque a maioria da população será árabe. O maior erro praticado pelo governo israelense é permitir que a ocupação dos territórios palestinos prossiga.

Com fala serena e firme, encharcada de fé e esperança na alteração de rumos numa área sacudida pelo desvario extremista em diversificadas tendências, Frankenthal identifica-se admiravelmente com as propostas humanísticas da rica cultura hebraica. Personagem digno de todo respeito e admiração!


Tópicos atuais


Cesar Vanucci 

“O Deputado Eduardo Cunha tá parecido com o Paulo Maluf:
nada sabe a respeito das contas abertas em bancos suíços.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)

Ilustre desconhecido até bem pouco tempo, o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, faz parte hoje da galeria das celebridades. É detentor de encorpada folha corrida capaz de garantir-lhe, por longo período, posição de relevo no capítulo das malfeitorias políticas.

Suas contas secretas em paraísos fiscais, somadas às indecorosidades praticadas no exercício das funções colocam, neste momento, a prêmio a cabeça do parlamentar carioca. Nada a estranhar, por conseguinte, quanto às manifestações de desagrado de diversificados setores da opinião pública relativamente à sua participação, de forma tão incisiva pelo cargo ocupado, no conturbado processo político em desdobramento. O que provoca mesmo estranheza, melhor dizendo, demasiada estranheza, é o escancarado (ou fica melhor registrar despudorado?) empenho de alguns líderes, tanto da situação quanto da oposição, em firmar alianças com o incômodo personagem em manobras de política rasteira de bastidores, assegurando-lhe com isso condição para enfrentar e, quem sabe até, se safar da tremenda enrascada em que se meteu.

· O jornal deu, na página econômica, que o juro médio total cobrado no rotativo do cartão de crédito chegou, no último mês, a 414.3 por cento. Assim que, estupefato, tomei conhecimento do fato pulei logo para a página policial. Quis informar-me logo de quais teriam sido as providências adotadas, nas delegacias responsáveis pela repressão a crimes contra bens de terceiros, no sentido enquadrar nos devidos conformes os autores do delito.

· Uma paciente oncológica registrou observação curiosa a respeito da polêmica envolvendo o fornecimento gratuito, pela Universidade de São Carlos, das drágeas de Fosfoetanolamina. Disse, mais ou menos, o seguinte: alguns especialistas sustentam que a cápsula não deve ser fornecida pelo fato de não produzir, com relação a algumas pessoas, qualquer efeito terapêutico. Eu andei sendo submetida a sessões de quimioterapia sem lograr efeito positivo no organismo. Não seria, então, o caso de, também, deixar de ser recomendado o emprego da quimioterapia?


· Fosfoetanolamina mais uma vez. A droga sintética há duas décadas distribuída por dedicados professores e pesquisadores da Universidade de São Carlos, hoje no centro de uma polêmica em que é apontada como eficaz por numerosos pacientes oncológicos e rejeitada por ponderáveis setores científicos, atraiu – vejam só o tamanho da impertinência! – as atenções do “banditismo organizado”. Via internet, falsos profissionais de saúde “oferecem” o produto a clientes interessados, por “preços módicos”, assegurando “pronta entrega”. Minha Nossa Senhora da Abadia D’Água Suja!




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