sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

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À espera de um novo João XXIII

Cesar Vanucci *

“A mensagem de Roma é humilde como uma quadra popular
e grandiosa como uma catedral de verdades eternas.”
(Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde)

Bento XVI sai de cena de forma surpreendente. Deixa de sua passagem pela cátedra de Pedro o registro de uma atuação sem a reluzencia de seus predecessores mais próximos. A decisão que tomou, reconhecendo-se despojado de condições físicas e psicológicas para dar continuidade à missão que lhe foi atribuída, causou compreensível comoção. Trouxe à tona, sem dúvida, sua grandeza de caráter e, também, seu estilo discreto e sua visão extremamente racional das coisas deste mundo. Mas a renúncia ficará lembrada, lá na frente, como ato invulgar que provocou apenas rastro efêmero de estupefação. Não como um instante histórico em que teria ocorrido a ruptura de uma obra pessoal pontilhada de realizações, por meio das quais a Igreja teria dado avanços de monta na propagação da mensagem evangélica.

Bento XVI adquiriu notoriedade pelo conservadorismo entranhado e brilhantismo teológico de feição imobilista. Será, assim, merecidamente celebrado como eficiente burocrata da fé. Nunca como alguém predestinado a ascender, a qualquer tempo - como aconteceu, por exemplo, com seu antecessor próximo, João Paulo II -, a um lugar entre os luminares do pensamento religioso de todos os tempos.

É bastante sugestivo, quando se analisa o ato inesperado de Bento XVI, a identificação, por ele próprio admitida, que tinha com o Papa Celestino V, cujo tumulo visitou em Áquila, nos Apeninos, em 2009, quando do terremoto que atingiu a região. Esse Celestino V, lá por volta de 1294, aos 80 anos, resolveu abdicar das funções pontifícias. Recolheu-se a um mosteiro, entregando-se à meditação mística. Sua renúncia, 719 anos transcorridos, é o precedente mais próximo que se tem da decisão tomada por Ratzinger.

A humanidade inteira sabe. Há uma mensagem de Roma a ser transmitida a todos os homens, em todas as latitudes. Todos, mesmo os não católicos, se dão conta da importância dessa mensagem. Ela chega do fundo e do alto dos tempos. É mensagem de sabedoria. Dá voz, como lembra Tristão de Ataíde, ao amor contra o ódio, à justiça contra a exploração, à paz contra a violência, à esperança contra o desespero. O mesmo autor resume de forma lírica o teor desse recado: ele é humilde como uma quadra popular e grandioso como uma catedral de verdades eternas.

Essa mensagem não pode abrir mão, obviamente, dos valores essenciais da fonte original. Mas também não pode, por outro lado, em nome de dogmas e preconceitos rançosos, alguns de cunho nitidamente maniqueísta, instituídos pela mera vontade humana, olvidar os desafios novos, as alternativas de comportamento social nascidas da abertura da consciência humana para a realidade de um mundo em ebulição.

Para a Igreja, como depositária da mensagem, e para o personagem elevado à cátedra suprema do magistério encarregado de transmitir a mensagem, voltam-se naturalmente as expectativas e esperanças de uma humanidade confusa, sufocada pela estridência de estranhas propostas econômicas, políticas, sociais em voga, ávida por orientação que a ajude encontrar os caminhos seguros da paz, da concórdia e do bem-estar social. Por essa razão, a escolha do sucessor de Bento XVI galvaniza atenções. O que as multidões passam, então, a aguardar é a escolha de um Papa que seja capaz de empreender um diálogo sereno, respeitoso, amadurecido com todas as vertentes do pensamento religioso moderno, estabelecendo as bases duradouras de uma convivência universal saudavelmente ecumênica. É a escolha de um Pontífice que se proponha a reavaliar posicionamentos da Igreja acerca de temas candentes, como a sexualidade na vida moderna, a distribuição justa das riquezas sociais, a necessidade de mudanças na ordem econômica, as transformações comportamentais da sociedade e tantos outros desafios relevantes, alguns deles no próprio âmago da instituição, como o celibato sacerdotal, a ordenação de mulheres, por aí. O que a sociedade humana espera é a designação de um sucessor de Pedro que se mire no esplendoroso exemplo de João XXIII. Um Papa que soube promover, a seu tempo, a mais arrojada experiência de abertura empreendida até então nos domínios da Igreja, reabastecendo de esperança a eterna mensagem, na tentativa de torná-la mais atraente para ser ouvida mais longe.


Antagonismo com odor udenista

“É a primeira vez que aparece nessa cor, porque em pronunciamentos
 anteriores (...) ela vestiu preto com uma renda branca por cima.”
(Deputado Carlos Sampaio, líder do PSDB na Câmara,
 encontrando tempo no trabalho parlamentar para assunto de moda.)

Dilma tem razão. Existe, sim, uma turma “do contra”. Independentemente das divergências políticas, que fazem parte do saudável jogo democrático, existe realmente um antagonismo sem causa, gratuito, solto no ar, voltado para toda e qualquer iniciativa governamental, mesmo as de irrecusável valor econômico e irretorquível significado social. E não é que muitos veículos de comunicação social já se acostumaram a dar repercussão exagerada a essa forma pouco inspirada de se confrontar  idéias?

O caso da redução na conta de luz das famílias e dos setores produtivos, tão bem acolhida pela opinião pública e objeto de contestação insana em alguns redutos, serve para exemplificar esse tipo de postura desprovida de isenção e bom senso.

Atendendo a justos clamores do setor empresarial, Dilma Rousseff conseguiu reduzir, de maneira bastante significativa, os custos de energia para o consumo em geral. Fez tudo rigorosamente de acordo com o figurino mercadológico, sem intervencionismos drásticos, escorada em medidas plausíveis executadas dentro da alçada federal. Às empresas do sistema ofereceu-se a antecipação nas concessões desde que concordassem com a redução das tarifas. Três delas, inclusive a Cemig, não aceitaram a proposta.

Mas caso é que as taxas foram reduzidas – algo nunca visto no gênero na história deste país - e isso constituiu uma notícia ótima para a sociedade.

Não passou desapercebido o ingente esforço da turma do contra – que parece beber “inspirações” para o que anda aprontando no estilo desarvorado da antiga UDN, em seu combate passional sem tréguas aos planos desenvolvimentistas dos radiosos tempos de JK – objetivando desqualificar a providencial decisão. Antes que o esquema da energia mais barata entrasse em vigor irrompeu assim meio de repente, do nada, uma onda espalhafatosa em torno de um apagão de dimensão descomunal que estaria prestes a ocorrer. O noticiário nosso de cada dia ficou recheado, edições seguidas, de registros acerca do “mais que provável” colapso no sistema de abastecimento de energia elétrica, “causado”, evidentemente, pela “imprevidência” governamental. A onda acabou se desvanecendo como bolhas de sabão sopradas ao vento, diante da consistente avaliação técnica das condições operacionais do sistema de abastecimento de energia elétrica apresentada pelo Ministério de Minas e Energia, descartando, de pronto, qualquer hipótese de apagão.

Na sequência dessa destemperada e malsucedida intervenção, a “turma do contra”, sem se enrubescer, apelou feio em novo e desabrido ataque à Presidenta. Ousou protocolar, na Procuradoria Geral da República, uma representação contra Dilma pelo uso – acredite, se quiser – de tom vermelho na veste envergada quando do pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão para o anúncio do corte nas tarifas de luz. O “fundamento” da hilária representação foi o de que a chefe do governo teve em mira, em optando por indumentária dessa cor, promover o seu partido político. A “denúncia” assumiu tom ainda mais psicodélico no momento em que estilistas de moda compareceram a público para explicar que a cor da roupa não era vermelha coisa alguma, mas rosa choque. Ao tomar ciência do episódio matutei com os botões de meu pijama a baita falta que vem fazendo o jornalismo irreverente do Stanislau Ponte Preta. A tal da representação é matéria que encontraria, sem mais leve dúvida, espaço destacado no seu saboroso Febeapá.

Encurtando razões, temos, assim, projetadas fartas evidências no sentido de que não poucos adversários de Dilma Rousseff, aparentemente desgostosos com as intenções de votos simpáticos à sua atuação, apuradas em sucessivas pesquisas, conservam-se firmes no propósito de, talqualmente antigos próceres udenistas na época de JK, sustentar combate desarvorado às suas ações político-administrativas.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Um comentário:

Anônimo disse...

Seu comentário sobre as últimas medidas da Dilma, principalmente a respeito da queda do preço da energia, resgata o respeito para a profissão de jornalista tão manipulada pela mídia.

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