sexta-feira, 1 de junho de 2012

Clamor universal

Cesar Vanucci *

 “O bem estar do povo é a lei suprema.”
(Cícero)

O movimento pode até ter perdido o fôlego inicial. Mas deixou marcas, disseminou conceitos, ganhou consciências. Revelou algo importante para as avaliações antropológicas: as emoções populares transportadas para as ruas, não importa onde, guardam no mundo contemporâneo notáveis afinidades. Independentemente de nacionalidades, idiomas, crenças religiosas, hábitos culturais. Ocorram as manifestações em Manhatan, na Cinelândia carioca, na praça Vermelha em Moscou, nas cercanias do Taj Mahal, na Índia. A multidão, composta basicamente de jovens, do “Ocupe Wall Street”, convocada a exteriorizar seu inflamado inconformismo diante do agravamento das desigualdades socioeconômicas em seu país, reproduziu à sua maneira, dentro de contexto cultural específico, a mesma indignação que a rapaziada de numerosos lugares do Oriente despejou nas praças por ocasião da chamada “primavera árabe”. Nem tudo que uns e outros almejaram, ou continuam almejando em seu formidável desabafo cívico, impregnado de idealismo, redundou de pronto em conquistas. Ocorreram, como sabido, não poucas frustrações. Mas as idéias renovadoras lançadas no ar, as propostas de mudanças vitais apresentadas, os anseios de liberdade propagados fixaram, quando pouco, marcos referenciais reveladores nos caminhos a serem trilhados, daqui pra frente, pelas lideranças políticas e de outros setores providos de lucidez e com responsabilidades definidas na construção do desenvolvimento econômico e social. Fica muito claro na percepção global da sociedade a existência hoje de uma consciência social desperta, em tudo quanto é canto deste planeta azul, para a necessidade de reformulações sociais capazes de garantirem a elevação a patamares dignos e justos das condições de vida de todos os seres humanos. O clamor que volta e meia espoca em passeatas pelas ruas afora do mundo, desvinculado em suas origens de inspirações político-ideológicas contaminadas, acena esperançosamente com as perspectivas descortinadoras de uma nova era. Uma era mais fraternal, mais justa, consentânea com a dignidade do ser humano. Dá pra perceber, auspiciosamente, que tais ações coletivas se contrapõem visceralmente às proposições nascidas das lateralidades incendiárias. Contempla-se momento da história propenso a condenar as exacerbações e extravagâncias do fundamentalismo político e religioso em suas interpretações rançosas da aventura humana. O que está aflorando é um sopro possante e irrefreável, de feição humanística, que abomina o despotismo, a violência contra os direitos fundamentais, o racismo, a prepotência dos feudos econômicos despojados de responsabilidade e sensibilidade social, a arrogância imperial dos arranjos geopolíticos prejudiciais às nações e agrupamentos vulneráveis. E que, paralelamente, por outro lado - arriscamo-nos mesmo a dizer com “benfazejo fanatismo” –, cultua a democracia, em sua pura inteireza e intransigente apego às liberdades de ir e vir e de manifestação plena das idéias. A crescente desigualdade de renda, seja nos Estados Unidos, no Brasil, na Europa, ou quaisquer outros lugares, coloca como prioridade, na agenda dos grandes e transcendentes debates humanos da atualidade, a exigência de uma reformulação da ordem econômica e social. O processo de canalização das riquezas extraídas do talento e labor humanos precisa ser passado a limpo. O brado dos jovens do “Ocupe Wall Street” exprimiu o desconforto da sociedade estadunidense diante da constatação de que uma minoria da população é escandalosamente favorecida pelo regime de impostos e de bonificações de toda sorte vigorante no país, desfrutando à vista disso do “direito” de poder expandir incessantemente seu patrimônio pessoal. Nada diferente do que acontece, aqui por nossos pagos, ou com igual, maior ou menor intensidade, em tantos outros lugares. Vem daí a certeza da universalidade do sentimento em favor de reformas econômicas, sociais e políticas que povoa as ruas. E pra arrematar essas reflexões: o bem estar do povo é a lei suprema. Cícero já proclamava isso um bocado de anos antes da era cristã.


A busca da “partícula de Deus”

“A peça que falta para o quebra-cabeças.”
(Fernando Werkhaizer, físico)

Cientistas famosos andam apregoando que suas avançadas pesquisas pelas enigmáticas veredas da física quântica vêm permitindo aproximação cada vez maior da chamada “partícula de Deus”. Gabam-se mesmo de já haver encontrado pistas intrigantes da localização do “bóson de Higgs”, estrutura supostamente responsável pelas interações na Natureza. No entendimento dos doutos, embora hipotético, um elemento provido de massa que teria aparecido logo após o também hipotético “Big Bang”, apontado por círculos científicos como a primeira de todas as coisas dentro da linha conceitual adotada pra explicar a Criação. Tal partícula seria responsável pela composição dos átomos. Advém dessa circunstância a denominação que se lhe foi dada de “partícula de Deus”. Passa bem ao largo das cogitações deste desajeitado escriba, com sua supina ignorância da temática cientifica, desdenhar ou mesmo contradizer diretamente os brilhantes físicos engajados nesse salutar propósito de descobrir, pelos atalhos das exaustivas investigações cientificas, explicações sobre como começou tudo quanto está posto aí. Mas que eu duvido possa esse bem intencionado esforço desembocar, nos prazos estipulados, nas respostas tão desejadas pelo aluvião de interrogações nascidas da compreensível inquietação humana a respeito do principio, sentido e destino da aventura da vida, ah, isso, eu duvido mesmo, sim senhores! Como se costumava dizer, noutros tempos, de forma bem descontraída em papos coloquiais, du-vi-de-o-do. Tanto quanto o meu restrito entendimento leigo consegue alcançar dessa fascinante procura levada avante por alguns cérebros privilegiados, com o concurso de tecnologias assombrosas, o chamado “bóson de Higgs” seria assim como uma peça que estaria faltando pra fechar o quebra-cabeças da teoria do “Big-Bang”, ou seja da explosão nuclear que formou o Universo. Não passa, como já dito, de hipótese, sujeita ainda a comprovação, de acordo com a expectativa de eminentes sábios. Os colisores de prótons, localizados em pontos estratégicos do mundo, empregados nessa busca infatigável já estariam, a esta altura, fornecendo indícios animadores (mais do que isso, talvez, convincentes) de que uma revelação concludente estaria prestes a ser anunciada. Mas, muitos cientistas, precavidamente, não descartam a possibilidade de que o processo possa não lograr atingir, por conta de fatores imponderáveis, os resultados ardentemente almejados. O modelo da investigação poderia ter sido composto com pressupostos equivocados. Se isso de fato, contrariando tantas esperanças, acontecer, ou seja, a descoberta da partícula não puder se consumar, outros caminhos haverão de ser, obviamente, desbravados pela ciência na tentativa de achar explicações consistentes para os mistérios que circundam a infinita vastidão cósmica. Bem, e quanto às descrenças pessoais que, simploriamente, consciente do analfabetismo cientifico que carrego, entendi de externar quanto aos resultados das investigações em curso a respeito da “partícula de Deus”, no que, afinal de contas, se fundamentam? Em mera, pura e simples intuição. Nada mais do que isso. Seria rematado tolo não reconhecesse na ciência um excepcional instrumento de procura da verdade. Uma força poderosíssima em condições de movimentar idéias e ações que se entrelaçam com o futuro e o destino da humanidade. Mas, nada obstante os extraordinários feitos e conquistas proporcionados pela ciência, levando em conta de outra parte tantos problemas cruciais angustiantes, enfrentados pela sociedade humana destes nossos tempos – problemas cuja solução distante depende bastante das inovações tecnológicas –, penso, com meus botões, apoderado de certezas, ser ainda demasiadamente cedo, no atual estágio de desenvolvimento emocional e espiritual do ser humano, pra se conceber a possibilidade da decifração cabal do código da vida. O deslindamento dessa charada não é pra agora. Aposto e dou lambuja.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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