sexta-feira, 1 de julho de 2011

As tiradas de Woody Allen


Cesar Vanucci *

“O homem explora o homem
 e por vezes é o contrário.”
(Woody Allen)

Numa passagem do filme “Hannah e suas irmãs”, o personagem vivido por Woody Allen acompanha a mais jovem das irmãs a uma casa de espetáculos musicais onde se apresenta um grupo de roque na linha bate-estaca. A moça, sintonizadissima nas vestes, gestos e no falar com o clima reinante no lugar, delira com a barulhenta atração. Mas o acompanhante, assustadíssimo, pondo tom súplice na voz, manifesta o desejo de sair logo dali. Antes que o show termine. “Tenho medo de que eles resolvam, no final dessa bateção, me sequestrar.”

O humor de Woody Allen é sempre assim. Cortante, inesperado, esgarçante, revirando pelo avesso situações desconcertantes, condescendentemente absorvidas na infinita comédia humana. Aos 75 anos, em plena efervescência criativa, apontado por muitos como a voz mais representativa da chamada autoparódia, com mais de 50 títulos no currículo vitorioso de cineasta, Woody Allen é um critico mordaz do comportamento acomodado do ser humano.

“A condição humana é trágica demais para o meu gosto”, costuma dizer, acrescentando que o certo seria o homem nascer “já sabendo o motivo.” Acredita no poder mágico da palavra, anotando que “a magia me ajuda a não cair em depressão.” Os filmes que assina são, praticamente todos, do melhor nível. O que explica a profusão de prêmios por ele obtidos em festivais cinematográficos.

Seus ditos, em entrevistas e diálogos escritos para o cinema, são antológicos. Como pode ser constatado da leitura da coletânea abaixo.

– Descrevendo-se como intelectual e artista: “As pessoas sempre se enganam em duas coisas sobre mim: pensam que sou intelectual – porque uso óculos – e que sou artista – porque meus filmes sempre perdem dinheiro.”

– Sobre o que considera diversão: “Gosto mesmo é de dias cinzentos. Diversão para mim é assistir a um jogo pela televisão tomando cerveja.”

– A respeito da morte: “A morte é como o som de um trovão distante num dia de piquenique.”

– Gente boa e gente nem tanto: “As pessoas boas dormem muito melhor à noite do que as pessoas más. Claro, durante o dia as pessoas más se divertem muito mais.”

– Sobre Deus: “Se Deus existe, por que Ele não me dá um sinal de Sua existência. Como, por exemplo, manda abrir uma bela conta em meu nome num banco suíço?”

– Sobre a natureza humana: “O homem explora o homem e por vezes é o contrário.”

– Sobre a longevidade: “Você pode viver até os cem anos se abandonar todas as coisas que fazem com que você queira viver até os cem anos.”

– Sobre a liberdade: “A liberdade é o oxigênio da alma.”

– Riso de Deus: “Quer fazer Deus rir? Então, conte a Ele seus planos.”

– A única resposta: “Talvez os poetas estejam certos. Talvez o amor seja a única resposta.”

– Imortalidade: “Não quero atingir a imortalidade com meu trabalho, mas sim não morrendo.”

– Medo de morrer: “Não é que eu tenha medo de morrer. É que eu não quero estar lá na hora em que isso acontecer.”

–Sobre a morte ainda: “Morrer é como dormir, mas sem levantar-se pra fazer xixi.”

– Erro médico: “Quando um médico erra o melhor é colocar terra por cima.”

– Música japonesa: “A música japonesa é uma tortura chinesa.”

– Casamento: “Alguns casamentos acabam bem. Outros duram a vida inteira.”

– Sobre fidelidade: “Hoje em dia a fidelidade só se vê em equipamentos de som.”

– Encruzilhada da vida: “Mais do que em qualquer época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher.”

– Sobre o eco: “O eco sempre tem a última palavra.”

* Jornalista (cantonius@click21.com.br)

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