sexta-feira, 16 de abril de 2021


Célia Laborne             

O segundo americano provou o gosto do espaço. Comeu nuvens e bebeu imponderabilidade, rompeu barreiras num pegador estratosférico capaz de desafiar qualquer perseguidor e ganhar um pique entre as estrelas. O apetite astral aumenta.

Não se pode evitar uma sensação de vertigem ao situar-se os astronautas na escuridão de um cosmo sem vida ou aeroporto aparente.  Não se pode evitar um tremor de expectativa.

E cada vez eles sobem mais. E, cada vez mais, abraçam um céu sem medida e sem portos: vazio, preto, indefinido.

A humanidade sente que por mais que o medo de alguns cresça ante as portas do infinito, jamais forçadas, outros estarão a postos, rompendo fronteiras a caminho da Lua, de Marte, sabe Deus onde ainda.

Quanto mais eles sobem, mais nos curvamos sobre esta Terra, hoje papável grão de areia nesse universo de estrelas.

Sobem russos e sobem americanos. Trazem filmes, ruídos, medidas e condições atmosféricas.  Só não trouxeram ainda o que está acima, abaixo e em todas as rotas por onde têm andado.   A presença daquele que vai dentro e fora dos foguetes; a verdade, a mansidão e a paz que flutuam além de todas as metas humanas.

Um passeio à Lua não devia ser um escotismo celeste ou uma viagem de turismo, mas o caminho de meditação e compreensão de uma grandeza maior do que as atômicas descobertas; um sentimento de humanidade mais proveitoso e profundo do que tratados feitos e desfeitos, uma fonte de amor mais intensa do que a propalada boa-vontade das grandes nações.

Afinal, se o homem resolveu dessecar o universo, que seja esta, ao menos, uma operação de AMOR.

(Texto extraído do livro de crônicas de Célia Laborne, LUZ SOBRE O MAR, editado em 1969)

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