sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Conspiração internacional

Cesar Vanucci


“A Amazônia, localizada na América do
Sul (...) é cercada por países irresponsáveis.”
(De um livro didático estadunidense)

Napoleão Bonaparte estava coberto de razão. Nada como a repetição para se compor uma excelente retórica. A insistência em torno de um tema não deixa de ser, em determinadas circunstâncias, um processo de razoável eficácia para deixar gravada na memória alguma situação que não mereça ser relegada ao limbo do esquecimento.

Quem acompanha estas maldatilografadas é sabedor de que, com certa frequência, o espaço é ocupado para considerações, com o sentido de denúncia e alerta, a respeito das ambições impertinentes e desmesuradas que a confraria dos “donos do mundo” mantém permanentemente acesas com relação à Amazônia brasileira. O “olho gordo” fixado nas incomparáveis riquezas alojadas no solo e subsolo do prodigioso território, parte inalienável deste nosso país continental, traz à tona, volta e meia, manifestações de altos próceres mundiais e produz ações práticas, por parte dos mesmos, as mais descabidas e chocantes.

Voltamos a falar, aqui e agora, de uma dessas atordoantes reações. Publicações didáticas adotadas em escolas estadunidenses, empenhadas em lavagem cerebral dos alunos, sabe-se lá com que perversos intuitos, sustentam que a nossa floresta amazônica é uma “reserva patrimonial de propriedade internacional”.

Há livros mostrando o mapa do Brasil amputado, com comentários desairosos ao nosso país. Um deles tendo por título “Introdução à geografia”, e distribuído na rede conhecida por “Junior high school”, equivalente ao nosso sistema de ensino elementar. O autor é um tal de David Norman. Vejam só o tamanho da insolente agressão cometida por esse gringo mafioso, à página 76 do livro, em meio a ilustrações inspiradas na flora e fauna amazonenses.

Título do texto: “Uma introdução à geografia.” Subtítulo: “Em uma nação ao norte da América do Sul, uma extensão de terra com mais de 3.000 milhas quadradas.”

Na sequência: “3.5.5. – A primeira reserva internacional da floresta amazônica”. A seguir o texto: “Desde meados dos anos 80 a mais importante floresta do mundo passou a ser responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas. É chamada Prinfa (A Primeira Reserva Internacional Da Floresta Amazônica), e sua fundação se deu pelo fato de a Amazônia estar localizada na América do Sul, uma das regiões mais pobres do mundo e cercada por países irresponsáveis, cruéis e autoritários. Fazia parte de oito países diferentes e estranhos, os quais, em sua maioria, são reinos da violência, do tráfico de drogas, da ignorância, e de um povo sem inteligência e primitivo. A criação da Prinfa foi apoiada por todas as nações do G-23 e foi realmente uma missão especial para nosso país e um presente para o mundo todo, visto que a posse destas terras tão valiosas nas mãos de povos e países tão primitivos condenariam os pulmões do mundo ao desaparecimento e à total destruição em poucos anos.”

Abaixo, ao lado da foto de uma borboleta, vem a seguinte legenda: “Podemos considerar que esta área tem a maior biodiversidade do planeta, com uma grande quantidade de espécimes de todos os tipos de animais e vegetais. O valor desta área é incalculável, mas o planeta pode estar certo de que os Estados Unidos não permitirão que estes países Latino Americanos explorem e destruam esta verdadeira propriedade de toda a humanidade. Prinfa é como um parque internacional, com severas regras para exploração.”

A adoção do livro em escolas estadunidenses representa, isoladamente, um fato extremamente grave. Mas a questão da ameaça à sagrada soberania brasileira na Amazônia não está circunscrita apenas a essa anotação didática imbecil. A conspiração contra os interesses brasileiros assume proporções descomunais. São numerosas as vozes, de diferentes sotaques, com influência na condução dos destinos internacionais, que fazem coro, ostensiva ou dissimuladamente, em foros mundiais, com a tresloucada ideia de que o Brasil não se mostra apto a administrar as riquezas que possui. A cobiça alienígena tem sido objeto de contínuos alertas por parte de líderes militares e cientistas.

Na interpretação de analistas internacionais respeitáveis, existe uma preparação psicológica remota da opinião pública internacional, à qual não seriam indiferentes algumas organizações de caráter pretensamente ecológico, com vistas a “garantir” proteção à dadivosa área, parte indissociável do território brasileiro. A fixação, mediante estranhos acordos, de bases militares estadunidenses em países sul-americanos limítrofes, faria parte desse jogo espúrio, que outra coisa não traduz senão a certeza de que muita gente anda – repita-se - de olho grande nas riquezas incomensuráveis do solo e subsolo brasileiros.


Sinistra orquestração

 Cesar Vanucci

“... Imenso território, patrimônio da humanidade,
não patrimônio dos países que dizem lhes pertencer.”
(Trecho de proclamação do Conselho Mundial das Igrejas Cristãs,
conforme denúncia do jornalista Carlos Chagas, recentemente falecido)

Como anotei no comentário passado, o emprego da repetição em matéria de informações e revelações ajuda a compor uma retórica mais convincente. Compenetrado disso, impelido por sentimentos afinados com minha crença cívica, sinto-me inteiramente à vontade para retomar, neste acolhedor espaço, o tema da conspiração internacional focada na abominável ideia da internacionalização da Amazônia. As evidências clamorosas de que existe uma orquestração sinistra armada lá fora, à volta da candente questão, não ficam adstritas ao fato, aqui registrado, de que livros didáticos adotados em escolas estadunidenses apontam a Amazônia como um protetorado internacional, e não como um dadivoso e riquíssimo pedaço de chão pertencente a este país soberano, de dimensão continental, chamado Brasil.

Tempos atrás, o jornalista Carlos Chagas, de saudosa lembrança (falecido no último dia 26 de abril), denunciou, com compreensível indignação, o posicionamento assumido pelo poderoso Conselho Mundial das Igrejas Cristãs, recomendando, com descabida insolência, “uma ação evangélica” para “delimitar as nações indígenas, sempre pedindo três ou quatro vezes mais”. O mesmo organismo, no alerta do jornalista, ousou ir mais longe ainda, em seu “sagrado dever missionário”, quando “aconselhou” sejam esgotados “todos os recursos que, devida ou indevidamente, possam redundar na preservação desse imenso território, patrimônio da humanidade, não patrimônio dos países que pretensamente dizem lhes pertencer”. Manjaram só o tamanho da impertinência? Dá pra imaginar o estrondo de pororoca amazonense que uma declaração desse teor não desencadearia, caso a pia recomendação estivesse sendo direcionada às reservas florestais dos Estados Unidos, do Canadá, da Rússia ou de algum país europeu?

Agreguemos, agora, aos fatos narrados um relato, feito anos atrás, por um ex-ministro da Marinha brasileira, Maximiano da Fonseca, um dos numerosos oficiais de alta patente engajados em campanhas de esclarecimento da opinião pública sobre a cobiça estrangeira com relação a Amazônia. Segundo ele, em escolas norte-americanas e de outros países, vem sendo encucada na cabeça dos alunos a ideia de que, para preservar o “pulmão do mundo”, uma intervenção armada se faz imperiosa. De outra parte, respeitáveis figuras, militares e civis, responsáveis por providenciais alertas à nação sobre o que rola em plagas estrangeiras a propósito do assunto, também denunciaram que super-heróis das historietas em quadrinhos, distribuídas aí fora, são volta e meia “concitados” a aplicarem exemplar punição em “cruéis vilões responsáveis pela destruição da Amazônia”. Os vilões, visto está, pela ótica destrambelhada, conscientemente perversa, dos autores desses gibis, somos nós outros, os primitivos e despreparados brasileiros descritos nas cartilhas escolares de encomenda consultadas por alunos estrangeiros.

O distinto leitor, após tomar conhecimento da indecorosa manifestação atribuída ao Conselho Mundial de Igrejas Cristãs e dos outros disparates acima revelados, poderá incorrer na equivocada suposição de serem esses registros únicos, isolados, da ameaça alienígena contundente, tão bem concatenada, aos nossos valores cívicos e nossa soberania. Ledo engano! As figuras e organizações de realce no palco mundial que fazem coro com o ponto de vista do pessoal já citado são bem numerosas. Tanto quanto “eles”, muitos e muitos outros gringos arrogantes, ocupando posições influentes, consideram a posse da Amazônia pelo Brasil “meramente circunstancial”.


Olho gordo estrangeiro

Cesar Vanucci

“Ao contrário do que os brasileiros pensam,
a Amazônia não é deles, mas de todos nós.”
(Al Gore)

Volto a dizer: nutro uma baita desconfiança com relação aos propósitos alardeados pelo ex-vice presidente dos Estados Unidos Al Gore em sua pregação de cunho ecológico, contendo críticas à conduta dos governos - com ênfase para o de seu próprio país -, no tocante ao enfrentamento do crucial problema do aquecimento global. Admito que ele soube traçar um diagnóstico real, conquanto sombrio, da situação ambiental. Acenou com propostas inteligentes e sensatas, no aplaudido documentário “Verdades que incomodam”. Criou perspectivas de esperança numa tentativa de busca de saídas para o problema das contundentes agressões ao meio ambiente.

Mas, não consigo ocultar minha condição de cidadão brasileiro injuriado diante de inaceitáveis posicionamentos por ele ostensivamente assumidos, nesse trabalho de conscientização mundial em que se empenha, ao sustentar a tese da transformação da Amazônia num protetorado internacional. Esse candidato vitorioso naquelas eleições fraudadas pelos irmãos Bush, que levaram um deles, o xerife George, ao poder, é o autor de uma frase imbecil e assustadora: “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós.”

Ele não é o único personagem de projeção internacional a propalar sandices a respeito do tema. Margaret Thatcher, ex-primeira ministra da Grã-Bretanha, é outra figura hostil. Reportando-se ao território amazônico, ela deixou cair, entre outros despautérios, o seguinte: “Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas externas, que vendam seu território, suas riquezas, suas fábricas.” Desencadeando uma pororoca amazônica em matéria de espantos, deixando à mostra imperial e deslavada arrogância, outros partícipes de setores com influência nos rumos mundiais integram também o sinistro coro de vozes dos que ambicionam apoderar-se na marra da Amazônia. Essa fala insolente aqui é do ex-primeiro ministro inglês John Major, tempos atrás: “As nações desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum de todos do mundo. As campanhas ecológicas internacionais sobre a região amazônica estão deixando a fase propagandística para dar início a uma fase operativa que pode definitivamente ensejar intervenções militares diretas na região.”

O notório belicista Henry Kissinger, não faz por menos: “Os países industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje, se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não renováveis do planeta. Terão que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da concepção de seus intentos.” Outra ex-secretária de estado do país mais poderoso do planeta, Madeleine Albright, contribui com sua quota de desatino para a arenga conspiratória. Levanta a bola, pode-se dizer, para chutes a gol de aguerridos comparsas: “Atualmente, avançamos em uma ampla gama de políticas, negociações e tratados de colaboração das Nações Unidas, diplomacia bilateral e regional de distribuição de ajuda humanitária aos países necessitados e, também, crescente participação da CIA em atividades de inteligência ambiental.” A encorajante sugestão animou o general Patrick Hugles, chefe do órgão central de informações das forças armadas estadunidenses, a anunciar, certa feita, o propósito de acelerar a execução dos projetos de expansionismo colonialista alimentados por alguns figurões. Rosnou: “Caso o Brasil resolva fazer um uso da Amazônia que ponha em risco o meio ambiente dos Estados Unidos, temos de estar prontos para interromper este processo imediatamente.” Tipo de papo que ajuda a explicar o interesse da diplomacia americana em implantar bases militares próximas às fronteiras brasileiras, através de acordos firmados com países vizinhos.

Mais gente importante na pérfida jogada. Dois ex-presidentes, um deles (já falecido), francês, outro russo, deixaram registrada, de modo igualmente despudorado, sua participação na conspirata. "O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia,” vociferou François Mitterrand. “O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes”, repicou Mikhail Gorbachev. Como comissário da União Europeia na ONU, posteriormente no comando na Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy igualmente entendeu “seu dever” meter o bedelho no candente assunto, desovando a estapafúrdia declaração de que: “A Amazônia deveria ser considerada bem público mundial e submetida a uma gestão coletiva, ou seja, uma gestão de comunidades internacionais.”


 “Motivados” por pareceres, tão “respeitáveis”, inimigos do Brasil, olho gordo nas riquezas da Amazônia, deitam e rolam na propagação insistente, mundo afora, de intrigas que procuram desqualificar o nosso país e desclassificar a nossa gente perante a opinião pública internacional, menosprezando a legítima condição da Nação brasileira de detentora do intransferível direito de traçar, ela tão somente e mais ninguém, os rumos das políticas aplicáveis ao brasileiríssimo território amazônico. 

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