sexta-feira, 12 de abril de 2019


Honra demasiada

Cesar Vanucci

“A cultura é uma dimensão
constitutiva da existência humana.”
(Gilberto Amado)

Na manhã do dia 30 de março passado, sábado, vivi forte e genuína emoção. Tomei posse, em concorrida assembleia de teor literário e artístico, como membro efetivo do elenco acadêmico do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, mais antiga instituição cultural mineira, fundada por João Pinheiro. Conduzida pelo presidente Aluizio Alberto da Cruz Quintão, escritor, poeta e jurista de renome, a festiva cerimônia reuniu incontável número de amigos de variados segmentos comunitários, entre eles personagens pertencentes aos quadros, além do Instituto, da Academia Mineira de Letras, Academia Municipalista de Letras de Minas, Academia de Letras Guimarães Rosa, da Polícia Militar, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Arcádia, Academia Mineira de Leonismo e outras entidades ligadas ao movimento literário e artístico. A participação de representantes do Lions Clube foi também bastante significativa.

A parte artística do evento ficou a cargo do famoso instrumentista Cid Ornellas, nome de projeção nacional, que brindou o público presente com recital primoroso, interpretando peças musicais de Villa Lobos, Ary Barroso, Luiz Lua Gonzaga e Ravel.
Na ocasião, deu-se o lançamento do livro “Pelos caminhos do Pescador”, romance histórico com foco na figura de São Pedro, de autoria do secretário do Instituto, Joaquim Cabral Netto. Nas palavras de Cabral “há passagens (na obra) que defluem de fatos reais e, outras, que decorrem da criação do autor”. O propósito é “realçar Pedro: o Apóstolo, o homem, o líder e sua missão.”

Minha indicação para o Instituto partiu dos eminentes companheiros Paulo Duarte Pereira, Luiz Carlos Abritta e Daniel Antunes Junior. Coube ao primeiro deles a saudação ao empossando. Cidadão de inteligência privilegiada, capacidade de liderança louvada num sem número de funções, Paulo é coronel da Polícia Militar, tendo presidido o Tribunal de Justiça Militar. Elos fraternos consistentes nos unem. Amigos de longa data, firmamos, pode-se dizer, uma “tríplice aliança acadêmica”. Estamos juntos no Lions Clube, onde ele deixou como Governador rastro luminoso. Somos companheiros na Academia de Leonismo. Passamos doravante a atuar como colegas no Instituto Histórico.

No pronunciamento que fiz, ao receber o diploma, a medalha e o distintivo oferecidos aos que são investidos na honrosa titulação de sócio do Instituto, registrei, entre outras, as seguintes palavras: “Suceder Oiliam José na cadeira número 18, tendo como patrono José Pedro Xavier da Veiga, representa – como diria saudoso professor de História aos tempos da escola risonha e franca no Liceu Triângulo Mineiro, dirigido pelo genial Mário Palmério – honra demasiada da conta para pobre vassalo. Vassalo, por força das circunstâncias, catapultado por misteriosos, tanto quanto generosos desígnios, aos domínios encantados de uma realeza dotada de invulgar sabedoria, descrição mais que ajustada a este sodalício”.

Reportando-me ao patrono, lembrei que Xavier da Veiga, mineiro de Campanha, foi alguém de estatura everestiana no cenário intelectual. Jornalista, historiador, poeta, atuou destacadamente na política no século XIX. Exerceu funções como Deputado Provincial e Senador Estadual, tornando-se arauto da causa municipalista. Nutrindo por Ouro Preto verdadeira veneração, opôs-se à transferência da capital mineira para Curral Del Rey. Reconhecido pelo traquejo na administração da coisa pública, atuou como negociador em contenda do Governo de Minas com o Governo do Rio alusiva às divisas territoriais entre as duas províncias. O parecer por ele emitido influenciou decisivamente a conciliação que pôs fim na pendência. Com desempenho brilhante, fez parte do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Organizou o Arquivo Público Mineiro. Foi seu primeiro diretor, entre 1895 e 1900. Criou a Revista do Arquivo Mineiro, onde se acha estampada parte considerável de sua efervescente produção literária. No trabalho executado no Arquivo colocou a salvo de desmantelamento e destruição parte significativa da documentação provincial mineira. A rica e vasta bibliografia de Veiga enfeixa inspirados poemas, textos de primorosa feição, pujantes narrativas de conteúdo histórico.

Referi-me, ainda, no discurso, à refulgente trajetória de meu antecessor Oiliam José, educador, escritor, historiador, poeta e pensador, decano de organizações do porte do Instituto Histórico e Geográfico, Academia Mineira de Letras e Academia Municipalista de Letras. Recordei o fato de que mantínhamos, Oiliam e eu, cordial relacionamento. A atividade literária fazia parte de nosso substancioso intercâmbio de opiniões. Era enxergada como instrumento eficiente de narração da historia humana e como fator de irradiação dos valores humanísticos e espirituais que constituem nossa própria razão de viver.



Nenhum comentário:

A SAGA LANDELL MOURA

Conspiração desvendada

    *Cesar Vanucci   “Estivemos mais perto do que imaginávamos do inimaginável.” (Ministro Barroso do STF)   Os fatos apurados p...