sexta-feira, 13 de maio de 2016








Situação danada de confusa

Cesar Vanucci

“Mesmo sem chance de retornar ao cargo que o consagrou,
Cunha esforça-se para manter o protagonismo.”
(José Roberto Toledo, jornalista)


A coisa anda ruça, meus caros. O surrealismo ocupou pra valer os arraiais políticos, com tricas e futricas inesperadas. A incompetência das lideranças de diferentes matizes, de todos os lados, gerou confusão dos diabos. À hora fatal da mudança temporária (com visos definitivos) do comando presidencial, os horizontes se revelam ainda toldados com mais de 50 tons de cinza. Labora em ledo engano quem alimente a suposição de que as nuvens espessas possam vir a ser rapidamente dissipadas. Queira Deus que sim. Que os prognósticos sombrios desta hora sejam fragorosamente desmentidos!

Afigura-se difícil pacas, para parcelas ponderáveis da opinião pública, admitir sem questionamentos como transformadoras, indicativas verdadeiramente de um marco histórico, as propostas até aqui anunciadas pelos que entram no poder sem nunca dele ter saído. Como olvidar sejam eles corresponsáveis, no duro da batatolina como se costumava dizer em tempos de antanho, pela acumulação do tantão de desacertos e malfeitos que desembocaram nas reações inconformadas das ruas? Poucas vezes a expressão “troca de seis por meia dúzia” soou tão vigorosa quanto agora. Os comentários dos que acompanham os desdobramentos da crise traduzem apreensão diante dos sinais até aqui emitidos. Os nomes e os métodos lembram demais da conta filme já assistido. Não há como deixar de classificar de psicodélico o enredo dessas confabulações, arranjos, composições de bastidores concertadas no palco político, tendo por fundo musical o emblemático samba do crioulo doido, do saudoso Stanislau Ponte Preta, autor igualmente de outro símbolo muito adequado para tempos estapafúrdios, o Febeapá (Festival de besteiras que assola o país).

O Ministério a ser constituído, não se sabe dizer ainda se com o mesmo número exagerado de pastas, parece que não vai abrigar, ao contrário do que se propalou, um “escrete de notáveis”. Muito antes, pelo contrário. Por conta de negociações nadica de nada republicanas. O “dá lá, toma cá” de sempre preside a escolha. Entre os indicados figuram cidadãos que, até recentemente, desempenharam funções relevantes, com poder de caneta na mão, no governo apeado e que, agora, renegam de forma inconvincente suas vinculações com as irregularidades cometidas no passado. Outro item merecedor de preocupação diz respeito a futuros ministros emaranhados nas teias das investigações da Lava Jato. Faz jus, também, a avaliações críticas uma atitude dúbia da oposição. Aceita, por um lado, funções ministeriais, enquanto, por outro lado, contesta no Tribunal Superior Eleitoral a legitimidade da chapa do PT/PMDB (Dilma – Temer) eleita em 2014.

Não passa desapercebido, de outra parte, aos que acompanham os desconcertantes desdobramentos da crise, o silêncio de conveniência dos integrantes do grupo prestes a assumir o governo quanto ao rumoroso caso do afastamento do Presidente da Câmara dos Deputados por decisão do Supremo Tribunal Federal. É de molde a causar compreensível estranheza a circunstância de o grupo por inteiro, maciçamente, conservar-se mudo e quedo que nem penedo com relação ao impactante assunto. Situação mais sem sentido: o Judiciário desaloja de suas funções, em ato sem precedentes, o dirigente de uma das Casas do Legislativo, imputando-lhe gravíssimas acusações. Como é que nenhum líder de expressão entre seus correligionários, incluindo o futuro presidente Michel Temer, bem como elementos de proa nas correntes oposicionistas animam-se a emitir parecer sobre questão de repercussão e implicações desse tamanhão? Segundo o jornalista José Roberto Toledo, “mesmo sem chance de retornar ao cargo que o consagrou, Eduardo Cunha esforça-se para manter o protagonismo”. Isso quer dizer mesmo o quê? Danada de instigante toda essa história.


FIB quer dizer 
busca da felicidade


Cesar Vanucci

“O conceito de Felicidade Interna Bruta nasceu em 1972, no  Butão...”
(Revelação do jornalista Guilherme Mazui, estudioso do tema)


Vários leitores confessaram-se entre intrigados e entusiasmados com a história a respeito da decisão tomada, no distante reino do Butão, encrustado na Cordilheira do Himalaia, de se adotar o inovador índice da  FIB (Felicidade Interna Bruta) em lugar do PIB (Produto Interno Bruto), para se mensurar a prosperidade comunitária. “Achei o maior barato”, acentuou a pedagoga Tania Ribeiro Freitas. “Depois de localizar no mapa o Butão e colher na enciclopédia dados sobre o país, pedi na agência de turismo que me dessem informações sobre como chegar lá”, contou Ascânio Fontoura, comerciante.

Com o intuito de atender solicitações para uma espichada de papo sobre essa novidade chamada FIB, este desajeitado escriba, incorrigível caçador de quimeras, considerou mais prático reproduzir, em complemento às informações transmitidas, estas outras revelações aqui, extraídas de um  trabalho assinado pelo jornalista Guilherme Mazui.
O conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) nasceu em 1972, no Butão, inspirado pelo rei Jigme Singye Wangchuck, com ajuda do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). A FIB proclama que o objetivo de uma sociedade não pode ficar restrito ao crescimento econômico, mas deve refletir a integração das finanças com a qualidade de vida. A avaliação da prosperidade social passaria, assim, a ser feita em cima de nove dimensões.

 Bem-estar psicológico - Avalia o grau de satisfação e de otimismo que as pessoas nutrem em relação a própria vida. Os indicadores incluem taxas de emoções positivas e negativas, analisam a autoestima, sensação de competência, estresse e atividades espirituais.

 Saúde - Mede a eficácia das políticas de saúde. Usa critérios como auto avaliação dos serviços oferecidos, problemas de invalidez, padrões de comportamento arriscados, exercícios físicos, qualidade do sono, nutrição etc.

 Resiliência ecológica - Mede a percepção dos cidadãos quanto à qualidade da água, do ar, do solo e da biodiversidade. Os indicadores contemplam as circunstâncias do acesso a áreas verdes, do sistema de coleta de lixo etc.

 Governança - Avalia como a população enxerga o Governo, a mídia, o Judiciário, o sistema eleitoral e a segurança pública em termos de responsabilidade, honestidade e transparência. Também mede o grau de consciência cidadã, o envolvimento das pessoas com as decisões e processos políticos.

 Padrão de vida - Avalia as rendas individual e familiar, a segurança financeira, a qualidade das habitações e por aí vai.

 Uso do tempo - Apura como as pessoas dividem o tempo. Leva em conta as horas dedicadas ao lazer e socialização com amigos e família, além do tempo empregado no trânsito, no trabalho, nas atividades educacionais, assim por diante.

 Vitalidade comunitária - Foca nos relacionamentos das criaturas dentro das respectivas comunidades. Examina o nível de confiança, a sensação de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, além das práticas pessoais de doação e de ações ligadas ao voluntariado.

 Educação - Leva em conta fatores como participação na educação formal e informal, envolvimento na educação dos filhos, valores culturais e educativos, as condições do ambiente em que se processam as atividades pedagógicas.

 Cultura - Avalia as tradições locais, os festivais promovidos pela comunidade, a participação em eventos culturais, as oportunidades das pessoas para desenvolver capacidades artísticas, além de incentivar análises críticas referentes a eventuais problemas originários de discriminação por religião, raça ou gênero.

Chama-se isso, em linguagem clara, de busca da felicidade.


E por falar em FIB e PIB...


Cesar Vanucci

“O PIB mede tudo, menos aquilo 
que torna a vida digna de ser vivida.”
(Robert Kennedy)


Os comentários aqui lançados sobre a FIB (Felicidade Interna Bruta), adotada como medidor da prosperidade social no distante Butão, motivaram algumas manifestações interessantes de componentes do reduzido, posto que leal, grupo de leitores deste desenxabido escriba.

Antônio Manoel Almeida mandou dizer que, dia desses, na televisão a cabo, assistiu a um intrigante filme turco em que a heroína, “cansada de guerra” nos atropelos urbanos, resolve chutar tudo pra escanteio na cata do sossego acenado nas convidativas propostas de convivência social anunciadas naquele reino himalaiano. Isaura Marcondes valeu-se da deixa sobre a tal FIB para falar do PIB (Produto Interno Bruto). Encaminhou-nos texto extraído do excelente livro “O Futuro Chegou” (já comentado neste espaço), do sociólogo italiano Domenico de Masi.  Trata-se da reprodução de memorável pronunciamento de Robert Kennedy, assim como seu irmão John Kennedy, ex-presidente dos Estados Unidos, vítima de assassinato cercado de circunstâncias intrigantes no auge da carreira política. Nessa fala, de conteúdo social emocionante, é dito com todas as letras, pontos e vírgulas, que o modelo do PIB, empregado no mundo inteiro como confiável instrumento de aferição do desenvolvimento econômico, “mede tudo, menos aquilo que torna a vida digna de ser vivida”. Os conceitos expendidos no aludido pronunciamento, repetidos abaixo, antecipam, de alguma maneira – é lembrado pela atenta leitora –, ideias anos mais tarde adotadas na concepção da FIB (Felicidade Interna Bruta).


Tratemos de conferir. Robert Kennedy com a palavra: “Não encontraremos nem um fim para a Nação nem a nossa satisfação pessoal na mera busca pelo progresso econômico, na destruição sem limites dos bens da Terra. Não podemos medir o espírito nacional com base no índice Down Jones nem nos sucessos nacionais pelo Produto Interno Bruto. Porque o nosso PIB implica a poluição do ar, a publicidade de cigarros e as ambulâncias para limpar as ruas das carnificinas. Leva em conta as fechaduras especiais com que fechamos nossas portas e as prisões para aqueles que as arrombam. Nosso PIB implica a destruição das sequoias e a morte do Lago Superior. Cresce com a produção de napalm, de misseis e testes nucleares e compreende também a pesquisa para melhorar a disseminação da peste bubônica. Nosso PIB se infla com os equipamentos que a policia usa para conter as revoltas em nossas cidades; e apesar de não diminuir por causa dos danos que as revoltas provocam, aumentam quando as favelas se reconstroem de suas cinzas. Implica o fuzil de Whitman (responsável por massacre urbano)  e a faca de Speck (serial killer) e a transmissão de programas televisivos que celebram a violência para vender mercadorias às nossas crianças.(...)

E se, de um lado, o nosso PIB compreende tudo isso, por outro não leva em consideração muitas coisas. Não leva em consideração o estado de saúde de nossas famílias, a qualidade de sua educação, ou alegria de suas brincadeiras. É indiferente à decência de nossas fabricas assim como a segurança de nossas estradas. Não compreende a beleza de nossa poesia ou a solidez de nossos matrimônios, a inteligência de nossas discussões ou a honestidade de nossos funcionários públicos. Não considera nem a justiça de nossos Tribunais nem a retidão das relações entre nós. Nosso PIB não mede nem nossa inteligência, nem nossa coragem, nem nossa sagacidade, nem nossos conhecimentos, nem nossa compaixão, nem nossa devoção ao nosso País. Em poucas palavras, mede tudo, menos aquilo que torna a vida digna de ser vivida; e pode nos dizer tudo sobre os Estados Unidos, exceto se estamos orgulhosos de ser americanos.”




2 comentários:

claudio vanucci disse...

Esses índices econômicos, não levam em consideração o bem estar da maior riqueza de um país, seu povo e seus recursos naturais.

claudio vanucci disse...

Esses índices econômicos, não levam em consideração o bem estar da maior riqueza de um país, seu povo e seus recursos naturais.

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