sexta-feira, 26 de julho de 2013

Papa Francisco

Cesar Vanucci *

“A mensagem da Igreja é a voz do amor contra o ódio, da justiça contra a exploração, da paz contra a violência, da esperança contra o desespero.”
(Alceu Amoroso Lima)

Muitas revelações preciosas a fazer a respeito do fascinante personagem que o Brasil acolhe com os braços abertos e o coração em festa. Chico e sua irradiante simpatia, seu irresistível carisma e jeito cativante, já começou a mostrar ao mundo, neste curto espaço de tempo de pontificado, a que veio.

Condenou explicitamente, sem que suas palavras lograssem encontrar, sabe-se lá porque cargas d’água, a repercussão desejada por parte da grande mídia internacional, a conjuntura econômica perversa, que sujeita multidões ao opróbrio da miséria extrema. Assumiu postura mais consentânea com os valores da mensagem espiritual de que a Igreja é fiel depositária, mensagem que chega do fundo e do alto dos tempos e que acena com o bem-estar social e a confraternização universal para os homens de todas as latitudes, crenças e raças.

Adotou hábitos de simplicidade nas rotinas da função exercida. Interveio com firmeza nos negócios nebulosos praticados por colaboradores infiéis no célebre Banco do Vaticano. Num ato de forte simbolismo, provocando manifestações raivosas de líderes europeus despojados de sensibilidade social e senso humanístico, criticou o que chamou de “globalização da indiferença”, ao deslocar-se para o porto marítimo de Lampedusa, em território italiano, e lamentar, com veemência, o tratamento iníquo dispensado aos imigrantes africanos que ali aportam. Confessando-se mortificado com o fato, recordou que na insegura travessia marítima dessas levas de párias escorraçados de seus pagos e que se atiram, mar afora, com a esperança vaga de chegar a um lugar que se lhes possa oferecer condição de vida um pouco melhor, 60 mil pessoas, aproximadamente, já perderam a vida. Vergastou procedimentos, no campo da moral e dos costumes, incompatíveis com a dignidade da função eclesial, praticados por dignitários da instituição que comanda.

O Papa Chico veio ao nosso País para participar com jovens de todos os lugares e idiomas, uma geração inteira apoderada de esperança na reconstrução das estruturas sociais humanas, de uma extensa vigília baseada no estudo e discussão das temáticas angustiantes destes conturbados tempos modernos.

É de se esperar que dos contatos havidos na Jornada Mundial da Juventude, muitas inspirações novas possam aflorar de modo a refazer os caminhos futuros da Igreja. De maneira a levar a nau de Pedro a compreender melhor as angústias do homem moderno, a libertá-lo de carcomidos preconceitos e mitos. A imprimir sentido prático ao ideal ecumênico, a inserir-se pra valer nas lutas contra os desníveis sociais, a favor da preservação do meio ambiente. A repensar posições a respeito de tabus gerados pela vontade humana e não por algum valor espiritual sagrado, como acontece, por exemplo, com relação ao celibato sacerdotal, a vedação do acesso da mulher ao ministério sacerdotal e por aí vai.

O Papa Francisco é possuidor das qualificações de liderança desejáveis na promoção da grande ação reformista, cristã, evangélica, ecumênica, humanitária, pela qual o mundo inteiro anseia.


A ignomínia da tortura


“A inocência dos rapazes é indiscutível”.
(OAB, do Paraná)

Qual vai ser mesmo o desfecho dessa mais recente atrocidade cometida por policiais truculentos e desalmados contra cidadãos inocentes barbaramente submetidos no Paraná a torturas inacreditáveis para confessar crime que não praticaram?

Recapitulando o que aconteceu: uma adolescente, Tayná Adriana da Silva, 14 anos, desapareceu. Foi vista pela última vez nas proximidades de um parque de diversões onde trabalhavam quatro rapazes, com idades entre 22 e 25 anos, apontados, mesmo sem provas ou testemunhas, como responsáveis pelo sumiço da garota.

O que aconteceu depois foi um show de horrores. Os policiais encarregados da investigação do caso, no afã de responder prontamente ao clamor da população por justiça, divulgaram os nomes e as fotos dos “suspeitos”, criando ambiente propicio para que populares indignados destruíssem o parque de diversões e tentassem linchar os “autores do crime”.

Os indiciados, debaixo de tortura, confessaram o crime. A polícia utilizou variadas “técnicas” para obter a “confissão”. Choques elétricos, pau de arara, sufocamento por sacos de lixo, introdução de cabos de vassouras no ânus, outras sevicias sexuais. Um dos acusados teve a cabeça enfiada num formigueiro. Se lhes tivesse sido exigido, confessariam até mesmo o assassinato de John kennedy, decifrando graças aos eficientes métodos policiais paranaenses um tormentoso enigma já com meio século de duração.

O “eficaz método” para a extração da confissão dos “suspeitos”, levou todos eles a “admitirem” haver estuprado em sequência a garota, cujo corpo foi encontrado num poço, nas imediações do parque. Laudo da perícia atestou, mais tarde, que a menor não apresentava sinais de abuso sexual. Estava com as roupas alinhadas, sem indícios de resistência. De outra parte, o material genético do sêmen recolhido em suas vestes íntimas não era compatível com o de nenhum dos acusados.

Começou a ser trabalhada, a partir dessas constatações, a hipótese de que teria ocorrido, anteriormente à morte da menor, uma relação consensual. Depois de 17 dias de prisão nas mãos do terrorismo policial, os quatro foram considerados inocentes, já aí com a intervenção da Comissão de Direitos Humanos da OAB paranaense.

A suprema gravidade dessa história de horror levou o Governo Federal a chamar a si o exame do caso, assegurando proteção aos rapazes. O processo, ao que se anunciou, será julgado pelo Superior Tribunal de Justiça. A OAB do Paraná em manifestação pela imprensa disse que a história “chocou pela natureza das agressões, pelo tempo que durou, pela participação de numerosas pessoas e pela indiscutível inocência dos rapazes.”

Renova-se a pergunta formulada na parte introdutória deste comentário: qual será o desfecho de tudo isso? O reconhecimento oficial da inocência dos acusados terá que ser acompanhado, evidentemente, de um justo ressarcimento pelos danos morais, físicos e psicológicos que a horrenda situação produziu. Mas como é que fica a situação dos torturadores? Que punição lhes será reservada?

Faz-se imprescindível, nesse particular, uma decisão que possa traduzir, com supremo rigor, a justa repulsa da sociedade a esse e a outros processos iníquos de violação dos direitos humanos, lamentavelmente praticados por aí, por despreparados agentes da lei. É preciso saber extrair dos acontecimentos uma lição com didáticos desdobramentos.


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C O N V I T E

 


 

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