quarta-feira, 27 de março de 2024

Pacto sinistro

 


                                                                                            *Cesar Vanucci

 

“O caso Marielle abriu nova janela para o combate ao crime organizado.”

(Ministro Gilmar Mendes, do STF)

 

A esperança dos democratas e dos amantes da paz é de que o deslindamento do chamado “Caso Marielle” represente prólogo e não epílogo de uma questão relevante para o bem estar coletivo. Explicando melhor: as investigações da eficiente Polícia Federal, que tomou a si a incumbência de desvendar o mistério que rodeava o infame atentado, desnudaram pacto sinistro existente na mui’ leal e heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e adjacências.  Para uma opinião pública aturdida e indignada ficou sobejamente documentada a escabrosa aliança entre políticos poderosos e inescrupulosos, milicianos virulentos e a banda podre da polícia.

A desagregadora e desembaraçada movimentação dessas forças espúrias nas engrenagens administrativas e da segurança pública produziu um cortejo interminável de desatinos. Tais desatinos fizeram os habitantes do Rio de Janeiro se sentirem constrangidos em poder alardear sua invejável condição de “Cidade Maravilhosa”.

Recapitulando os fatos: Seis anos atrás, Marielle Franco e seu motorista, Andersom Gomes voltando de um evento comunitário, onde se discutiam temas ligados a inclusão social, foram fuzilados com tiros disparados de um carro que se emparelhou com o veiculo da vereadora. Uma assessora que a acompanhava nada sofreu, além do trauma de ver seus companheiros assassinados. Como se comprovou mais tarde, as câmeras do local onde ocorreu a execução estavam estranhavelmente desligadas. A comoção provocada pelo crime somada à marcha morosa das apurações deu origem a uma pergunta que ecoou longe, volta e meia ocupando noticiário: “Quem matou Marielle?” Algum tempo passado chegou-se ao bandido que disparou os tiros e ao seu comparsa. Houve um espanto muito grande quando se soube que o atirador ex-policial, miliciano, vivendo aparentemente de soldo como inativo da PM residia numa mansão suntuosa em condomínio de alto luxo na Barra da Tijuca, possuindo numa de suas propriedades um arsenal de fuzis e metralhadoras de modelo avançado, armamento esse obviamente confiscado. A principio ele se recusou a revelar nomes dos mandantes e os “motivos” da execução. Nessa ocasião surgiu outra pergunta que não quis calar: “Quem mandou matar Marielle?” A resposta a essa indagação custou muito a ser dada e a demora deu margem a muitas especulações. Quando da mudança de Governo houve a promessa formal do então Ministro da Justiça, Flávio Dino, de encarregar a Policia Federal da investigação e apontar os culpados. A partir das diligências efetivadas no âmbito Federal o processo ganhou ritmo mais célere.

Agora, finalmente após a disposição do matador miliciano, Ronnie Lessa de contar tudo que sabe, a essa circunstancia se agregando outras esmagadoras provas, inclusive “queima de arquivos”, a reposta sobre quem mandou matar Marielle acaba de ser formalmente dada. Os mandantes apontados e já detidos são o Deputado Federal Francisco Brasão, seu irmão Domingos Brasão, Conselheiro do Tribunal de Contas do RJ e – esticando o pasmo ao máximo limite - o até outro dia chefe da Policia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa. Segundo a acusação, os três articularam os detalhes do esquema do bárbaro assassinato. A “motivação” teria sido a ferrenha oposição oferecida pela combativa parlamentar às investidas vorazes da milícia em valiosas áreas urbanas. A promíscua relação de políticos, milicianos e policiais, pelo que já foi revelado – e com muitas coisas chocantes a virem ainda à tona -, deu causa a homicídios que permanecem insolúveis e a muitos outros delitos graves que deixam moradores de regiões densamente povoadas à mercê dos assédios violentos do crime organizado.

Como já se disse, a elucidação do assassinato é prólogo de história tenebrosa a ser ainda contada.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

quinta-feira, 21 de março de 2024

Últimos capítulos

                        *Cesar Vanucci

                           “Essa novela golpista não vale a pena ver de novo”.(Antônio Luiz da Costa, educador).

 

Pra falar verdade, ninguém foi totalmente pego de surpresa com a identificação dos autores da intentona golpista. Afinal de contas, as digitais dos implicados no atentado antidemocrático estavam profusamente espalhadas por tudo quanto é canto investigado. As provas arrasadoras, meticulosamente colhidas e sistematicamente liberadas pela Polícia Federal e divulgadas pela mídia sinalizavam, desde o começo, o que estava por vir na hora fatal da designação dos nomes, sobrenomes, endereços e CPFs da patota sediciosa.

A delação premiada do Tenente Coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro, abriu as comportas das revelações incriminatórias. A ela juntaram-se adiante, entre muitos outros indícios, os impressionantes depoimentos de dois militares de alta graduação,  reputação e credibilidade irretorquíveis, ambos integrantes do ministério de um governante que se  empenhava, obsedantemente,em golpear de morte as instituições democráticas. O ex-ministro do Exército, Marco Antonio Freire Gomes e o ex-ministro da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Jr., ouvidos como testemunhas pela PF, relataram com riqueza de detalhes, o que ocorreu nos bastidores do Palácio do Planalto na urdidura da conspiração. Foi um desfile de informações estarrecedoras. Deixou muita gente de queixo caído.  Como é possível, a essa altura de nossa evolução democrática, algo assim, ser engendrado, em desafio tão insolente à consciência cívica da nação? Durante as oitivas o General e o Brigadeiro mencionaram as pressões e constrangimentos vividos nos contatos com a antiga cúpula governamental. Registraram sua enfática recusa em participar da conjura.  Condenaram a atitude de Bolsonaro, chegando a dizer-lhe, em certo momento, ser ele passível de prisão em razão das ilicitudes praticadas. Confirmaram que todas as avaliações feitas por organismos altamente qualificados, inclusive as Forças Armadas, atestaram, peremptoriamente, a lisura das eleições e a fidedignidade dos dados extraídos das urnas eletrônicas, ao contrário do que foi propalado pelos interessados na quebra dos dispositivos democráticos.

A ruptura institucional com a implantação de um regime de exceção objetivada na trama colocada em andamento pelo ex-presidente com o conluio de outros personagens destacados na vida pública, não se concretizou em plenitude por diversos alvissareiros fatores. O primeiro deles foi a amadurecida consciência da sociedade brasileira. Mantendo  presentes  na memória lances trevosos do passado, a opinião pública repele toda e qualquer tentativa extremista de violação dos preceitos democráticos. Outro fator digno de nota foi a incontinenti reação dos Poderes Constituídos às manobras golpistas. Pesou também e muito na resistência à ação desagregadora dos plantonistas da ditadura o posicionamento legalista das Forças Armadas, como exemplificado na conduta dos dois chefes militares citados.

Esta impactante e nefasta investida antidemocrática, abortada, nos efeitos mais danosos almejados pelos conspiradores, caminha na direção dos indiciamentos e julgamentos de seus autores.  Paralelamente aos fatos relacionados ao golpe propriamente dito, aproximam-se também do desfecho investigações sobre outras cabulosas façanhas envolvendo os mesmos manjados personagens.

A novela golpista chega a seus últimos capítulos. A esperança de todos é de que as cenas vividas jamais voltem a ser exibidas.

Netanyahu, Putin, Maduro

 



                                                                                            *Cesar Vanucci

 "Chegou o momento de fazer alguma coisa, e não                   apenas lamentar".

           (Josep Borrell, Dirigente da UE )

 


1) Benjamin Netanyahu não está nem aí. O Presidente Joe Biden dos EUA, alterando um pouco a posição de apoio irrestrito as ações do Governo de Israel, asseverou que o Primeiro Ministro “faz mais mal do que bem” ao seu país. O Presidente da França Macron classificou de “inaceitável” a forma utilizada por Tel-aviv na condução do conflito. A Presidente da  União  EU, Úrsula Von der Leven afiança que Israel quer vencer a guerra “matando de fome” milhares de pessoas em Gaza. Outro dirigente da EU, Josep Borrel, brada alto que “chegou o momento de se fazer alguma coisa, e não apenas lamentar.” Guterrez, Secretário da ONU, falando das mortes e destruições em massa, clamando por uma trégua humanitária, define o que vem acontecendo em Gaza como uma irreparável catástrofe. Nas ruas de Israel, multidões pressionam o governo no sentido de concordar com a cessação das hostilidades visando a liberação dos reféns. “Médicos Sem Fronteiras” denunciam o colapso total, inédito em guerras do sistema hospitalar e de saúde, revelando que intervenções cirúrgicas, inclusive em crianças, têm sido feitas sem anestesia. Nem assim! Nem com todo esse colossal clamor, que expressa a vontade e o sentimento da quase totalidade de seres humanos em todas as partes do mundo, o imperturbável e inflexível Primeiro Ministro se dispõe a deter a avalanche bélica sanguinolenta. Ou seja, interromper a marcha dos tanques, o lançamento de mísseis e a carga da infantaria, por algum tempo, para que se possa discutir a libertação dos reféns, acudir as necessidades básicas emergenciais da população civil acossada sem ter para onde ir. Nem mesmo assim, repita-se, rejeitando argumentos ditados pelo bom senso, externados pelas lideranças políticas e espirituais, Benjamin Netanyahu se dispõe a suspender a contraofensiva e participar de negociações que definam única possível solução para essa longeva crise do Oriente Médio: a criação do Estado da Palestina.

2) A “disputa eleitoral” ocorrida, dias atrás, no vasto império russo conferiu a Vladimir Putin mais um mandato de 6 anos. O “Tzar”, como esperado, por pouco não alcançou a totalidade dos votos. Também, pudera! Todos os opositores “desistiram”, ou foram retirados do caminho por métodos bastante “persuasivos”... A nova etapa governamental se estenderá até 2030, o que permitirá a Putin manter-se no poder por 3 longas décadas, com invasões de terras alheias e tudo mais que compõe sua truculenta carreira política.  A propósito da guerra na Ucrânia, provocada pela volúpia expansionista do kremlin, cabe anotar recente duelo verbal travado entre dirigentes de duas superpotências atômicas, um deles Vladimir. Emmanuel Macron, Presidente da França, levantou a hipótese de deslocamento de tropas da OTAN para defender a Ucrânia, já que a Rússia sustenta a disposição de não arredar pé das províncias ocupadas. Os lideres dos demais países do Pacto reagiram, incontinenti, desautorizando o dirigente francês. O líder russo, por sua vez, declarou que uma possibilidade dessas representaria um ataque formal ao seu país, o que levaria, fatalmente, a uma guerra nuclear com o extermínio da civilização, já que a Rússia não hesitaria em utilizar as armas nucleares de seu arsenal. Com respeito, ainda à “eleição”, anotemos o que se passou nas províncias ucranianas ocupadas. Militares russos foram de porta em porta levando as cédulas com o nome de Putin para que os moradores a colocassem na “urna móvel”.

3) A Venezuela, de Nicolás Maduro já fixou a data da próxima farsa eleitoral. Será em junho. Como é de praxe nos regimes autoritários, o caudilho de Caracas só não será “eleito por unanimidade”, se não quiser. Seus opositores já foram todos devidamente afastados da competição. Ou estão amargando prisão, ou tornaram-se “inaptos” a concorrer por força da “legislação” vigente.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A função social da riqueza


 

*Cesar Vanucci

 

"Eu resolvi financiar alunos da Einstein para sempre.”

(Professora Ruth Gottesman)

 




Na semana retrasada, todos os alunos da faculdade de Medicina Albert Einstein, localizada na região socialmente mais carente de Nova York, o bairro de Bronx, Estados Unidos, foram surpreendidos por convocação da  Reitoria, para uma reunião de emergência, sem pauta previamente anunciada. A chamada provocou alvoroço, dando origem a toda sorte de especulações. Na hora aprazada, diante de auditório lotado, mudo e quedo que nem penedo exprimindo algum receio quanto ao que iria ser dito, o Reitor da Instituição comunicou, em tom solene e pausado, que os estudantes da Albert Einstein ficariam desobrigados para sempre do pagamento das anuidades. Nos segundos seguintes o silêncio registrado foi ensurdecedor. Mais ensurdecedor ainda foi quando o público tomou consciência do lance extraordinário que deu origem ao auspicioso anuncio, explodindo em aplausos e gritos de incontida euforia. A explicação a respeito da gratuidade foi dada quando a multidão aquiesceu à ideia de uma pequena trégua para que o Reitor pudesse concluir sua bonançosa fala.   Aconteceu  o seguinte: uma antiga professora da escola, herdeira de fortuna deixada pelo marido super milionário, resolveu destinar um 1 bilhão de dólares, ou seja algo equivalente a 5 bilhões de reais, como quitação completa dos custos de graduação. O nome da benemérita, educadora é Ruth Gottesman, de 92 anos. Sua doação é tida como a maior já registrada na história de universidades americanas.

 Ruth é membro do Conselho da universidade, com mais de meio século de atuação em atividades pronunciadamente sociais. É doutora em Educação pela Universidade de Columbia. Era casada com um dos homens mais ricos do mundo, David “Sandy” Gottesman, recentemente falecido. Esta não foi sua primeira doação com fins filantrópicos. Em 2010, o casal destinou, para a mesma instituição agora contemplada, 25 milhões de dólares (125 milhões de reais). Os recursos foram aplicados na implantação de um instituto de Pesquisa com Células-Tronco e Medicina Regenerativa.

Essa magnífica história de solidariedade, projetando figura humana admirável, com percepção bastante nítida da função social da riqueza, remeteu este desajeitado escriba a um episódio guardado entre suas reminiscências mais ternas e sugestivas. Em meados dos anos 40, o grande educador Mário Palmério, que ainda não se tornara o romancista famoso que todos hoje aplaudimos, implantou em Uberaba, Minas Gerais, o Liceu do Triangulo Mineiro, pouco depois Colégio Triangulo Mineiro. O educandário foi a célula embrionária da conceituada Universidade de Uberaba.

Alunos do curso ginasial - um bom contingente deles -, pertencentes a famílias de condição financeira inferior, foram contempladas inesperadamente sem delongas burocráticas, com bolsas de estudo integrais. Os recursos carreados para essa nobre finalidade procederam de doação de um cidadão nascido em Uberaba e radicado em Uberlândia. Empresário dinâmico, que fez riqueza na atividade agropecuária e setor de serviços, Afrânio Azevedo firmou parceria com o nascente conglomerado educacional, beneficiando muita gente. Um registro que faço com emoção. Entre as centenas de estudantes favorecidos com a providencial ajuda figurávamos eu e Augusto Cesar, meu saudoso irmão, primeiro brasileiro a conquistar um Emmy e um Ondas, os mais importantes lauréis da televisão mundial.

Ao longo dos anos tomei conhecimento de outros gestos de solidariedade social praticados, sempre de forma silenciosa, por Afrânio Azevedo. Guardei dele sem ter podido desfrutar da honra de conhecê-lo pessoalmente, a lembrança de um cidadão dotado sensibilidade social, pertencente ao invejável mundo dos corações fervorosos, receptivos à ideia de que a riqueza possui indeclinável função social. Tal qual a generosa educadora estadunidense.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 11 de março de 2024

Uma mulher rodeada de palavras

 



                           *Cesar Vanucci

“Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant).

 

Festa de forte simbolismo, rico colorido humano e arrebatantes emoções. Inundada de lirismo valeu também como exaltação de valores que conferem dignidade a aventura humana.

O ingresso de Maria da Conceição Evaristo na Academia Mineira de Letras representou, naturalmente, triunfo pessoal, justo e merecido, de uma celebrada intelectual, causando regozijo em segmentos que encontram no humanismo a própria razão de viver. Estamos diante da primeira mulher negra a integrar, em mais de cem anos, os quadros da importante instituição. Ao saudá-la o presidente Jacyntho Lins Brandão externou o desejo de que Conceição seja “a primeira, mas não a única”. Disse, ainda, no pronunciamento que "A chegada de Conceição Evaristo à AML a par do reconhecimento de sua trajetória como professora, romancista e poeta, com justiça celebrada no Brasil e no exterior, tem também o sentido de impregnar esta casa com suas qualidades e história de vida".

Bastante concorrida, a posse foi realizada na data comemorativa do dia internacional da mulher, o que emprestou brilho mais acentuado ao evento. A mesa dirigente da cerimônia foi composta exclusivamente de mulheres, entre elas convidadas ilustres vindas de diversas partes do país. Na plateia observou-se participação intensa de pessoas vinculadas às lutas pela inclusão social e combate às discriminações. Antonieta Cunha, vice-presidente do sodalício, ao homenagear Conceição, afirmou que a empossada é dos nomes mais expressivos da literatura contemporânea na América Latina. Acrescentou que, em sua obra, vanguardeira, ela enfatiza temáticas sociais relevantes, sendo possuidora de requintado estilo criativo, seja em romance, conto, ensaio ou poesia. Disse: “Não por acaso, está traduzida em tantas línguas e tem recebido tantos prêmios e homenagens.”

A vibração reinante na sessão solene tomou feitio de prolongada ovação quando, na saudação, Conceição foi comparada por sua força, raça e gana à Maria cantada nos inspirados versos de Fernando Brant, na famosa música em parceria com Milton Nascimento. Espontaneamente, como se estivesse obedecendo a uma batuta invisível, um coral de vozes improvisado fez-se ouvir numa interpretação comovente da canção. Algo eletrizante!

Com palavras embebidas de emoção e ditos poéticos extraídos de sua alentada obra literária, a escritora agradeceu à Academia, amigos, convidados, familiares que superlotavam o recinto. Relembrou episódios marcantes de sua história de vida. Falou do itinerário percorrido desde os tempos em que, integrante de família humilde e numerosa, morava na antiga favela do Pendura Saia, região centro-sul de BH. Ressaltou a influência decisiva de sua mãe Joana Josefina Evaristo, mulher simples, empregada doméstica, dotada de sabedoria inata, em sua preparação para o jogo da vida.

Do pensamento vivo e pulsante de Conceição Evaristo, autora de livros acolhidos com entusiasmo pela critica e público, temos na sequência substanciosa amostra: “Eu não nasci rodeada de livros e, sim, rodeada de palavras.”/ “Minha escrita é contaminada pela condição de mulher negra”./ “Do negror de meus oceanos a dor submerge revisitada esfolando-me a pele que se alevanta em sóis e luas marcantes de um tempo que aqui está”./ “Tenho dito e gosto de afirmar que a minha história é uma história perigosa, como é a história de quem sai das classes populares, de uma subalternidade, e consegue galgar outros espaços”./ “Gosto de dizer ainda que a escrita é para mim o movimento de dança-canto que o meu corpo não executou, é a senha pela qual eu acesso o mundo”.

Encurtando a prosa: a posse de Maria da Conceição Evaristo na AML foi evento de raro esplendor.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


terça-feira, 5 de março de 2024

A Rússia de Vladimir Putin

 



 

*Cesar Vanucci

 Vocês não podem desistir. Se eles decidirem me matar, é porque somos incrivelmente fortes" (Alexei Navalny, em documentário televisivo premiado).

 

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A ONU garante que estão em curso, neste preciso momento, em diferentes regiões deste nosso incorrigível e virulento mundo velho de guerra, 170 conflitos armados com todas as calamidades que as discordâncias por ódio, paixão, ambição pelo poder e intolerância religiosa são capazes de gerar. Junto com a de Gaza, a guerra da Ucrânia, que tem frequentando as manchetes com menor assiduidade ultimamente, atrai fortemente as atenções das lideranças globais, tendo em vista, sobretudo, as posições de confrontação indireta assumidas por superpotências nucleares.

Já com 2 anos de duração, a guerra na Ucrânia produziu milhares de vítimas fatais e feridos, uma onda incalculável de refugiados, arrasou cidades inteiras, desmantelou instalações de serviços básicos e fontes de suprimentos. A Rússia imperialista do “tzar” Vladimir Putin, que já havia em 2010, abocanhado a Crimeia, resolveu anexar ao seu vasto território, o de maior extensão do planeta, outras províncias ucranianas. Os Estados Unidos e países europeus que compõem a OTAN decidiram, em meio á condenação quase unanime das ações russas no cenário mundial, cooperar com o esforço de guerra da Ucrânia, fornecendo-lhe ajuda para organizar linhas de resistência à ofensiva do poderoso e implacável invasor.

 Nas províncias conquistadas, tal qual se fez na segunda guerra mundial, nos lugares ocupados pelas tropas nazistas, os invasores de agora organizaram “plebiscitos” visando “saber” se a população concordava em abdicar da cidadania ucraniana trocando-a pela russa. Os “plebiscitos” segundo as agencias noticiosas do Kremlin, apontaram maciçamente “concordância” popular.

Na Rússia, está proibida a designação de “guerra” para o que anda rolando na Ucrânia. Putin se refere à invasão como um “exercício militar”. E ai de quem discorde!...

Onde essa guerra vai parar, ninguém consegue dizer. O governo de Moscou chegou a alegar no começo das hostilidades, que seu ataque à Ucrânia tinha caráter preventivo, já que não concordava com a possibilidade do país agredido, com sua imensa linha fronteiriça, vir a integrar a OTAN. Mas, a arremetida imperialista criou-lhe, além da inimizade irreparável dos ucranianos, outros antagonismos inesperados. Colocando as “barbas de molho”, tanto a Finlândia, quanto a Suécia (esta última rompendo uma neutralidade de 2 séculos) ambos países vizinhos, aderiram ao Tratado do  Atlântico Norte.

 A mais coisas a dizer. A Rússia de Vladimir Putin continua no inabalável e sombrio propósito de afastar na marra todo e qualquer adversário real ou imaginário que se contraponha à gana pela perpetuidade no poder de seu autoritário dirigente supremo. Como sabido, ao longo dos anos, processos variados de intimidação tem sido utilizados contra pessoas que se recusam a dizer “amém” às palavras de ordem vindas do andar de cima. Muita gente já foi morta a tiros ou ingerindo “inofensivas” chávenas de chá em ambientes descontraídos. O mais recente caso de eliminação de opositor ocorreu em uma colônia penal no ártico. Alexei Navalny , ferrenho crítico das posturas de Putin, achava-se preso desde 2021. Cumpria pena de 19 anos a partir de sua volta da Alemanha, onde se refugiara após atentado ao sorver goles de “chazinho”.  Sua morte aos 47 anos de idade deu-se em circunstâncias assaz misteriosas, o que provocou comoção mundial. A família do líder da oposição, um ativista bastante popular, defrontou-se com dificuldades enormes para trasladar seu corpo e até mesmo dar-lhe sepultura condigna.

Assim rolam as coisas nos cinzentos domínios do Tzar.

Enquanto isso a Ucrânia arde em chamas...



 







Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

UM CÂNTICO DE AMOR A PEDRINÓPOLIS

 

                                                                                      *Cesar Vanucci

 

“Um lar com meus pais na lida, muita criança e harmonia. E, toda manhã, a vida, com esperança renascia.” (Relva do Egypto Rezende da Silveira).

 

Relva do Egypto Rezende da Silveira é amiga querida de muitos anos. Nossa fraternal convivência foi cimentada na encantadora Uberaba, onde desfrutei da satisfação de tê-la como aluna na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, instituída pelas infatigáveis irmãs Dominicanas. Relva fez parte da primeira turma do primeiro curso universitário de jornalismo estruturado em Minas Gerais. Tocava-me ali a responsabilidade de ministrar aulas nas cadeiras de “Técnica em redação” e “Publicidade”. Vi, a partir daquela época, Relva crescer em seus pendores literários e em suas potencialidades humanísticas. Fácil vaticinar que ela acabaria se tornando poetisa de reconhecidos méritos na vida intelectual mineira, bem como, cidadã provida de apreciáveis dons, mãe de família exemplar, guardiã serena em seu âmbito de atuação comunitária, de saberes, conhecimentos e lições de vida que conferem dignidade a aventura humana.

Em seu primoroso livro “Pedrinópolis – um canto no tempo”, recentemente lançado em Belo Horizonte e Pedrinópilis, em concorridas noites de autógrafos, a poeta, prosadora, historiadora, antropóloga e socióloga – tudo isso aflorado de uma única vez no caprichado texto – Relva do Egypto adota o sugestivo estilo romanceiro. O estilo revela entonação rara e impulso poético desbordante.  Não é comum, entre militantes do fascinante oficio das letras alcançar o grau de sensibilidade lírica detectado no trabalho. No livro, Relva nos propõe, com entusiasmo, imersão a lugares repletos de calor humano,  daquele acolhedor rincão de um canto de nossos espaços gerais.

Afinal, “Minas são muitas”, disse aquele que é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, por ter sabido traduzir, como ninguém, a alma do mineiro, seu jeito de ser e viver e, claro, seu sertão e suas veredas: João Guimarães Rosa.  O médico, oficial da policia militar de Minas e diplomata, em suas andanças, por certo, bordejou as bandas de Pedrinópolis. Empenhado em descobertas territoriais e relatos de coisas que projetam de forma pujante o que chamamos de mineiridade, Rosa teria, de acordo com a febricitante investigação de Relva do Egypto, enaltecido aquele pedaço de chão das Gerais.

Retomando a narrativa de Relva, depois de percorrer todos os recantos por ela descritos e de ficar conhecendo personagens marcantes que fazem parte do enredo histórico de Pedrinópolis, entre eles seus ancestrais ilustres, uma bisavó índia de majestática presença, resta-me indicar, com ênfase e alumbramento a leitura de tão fascinante obra, narrada em versos e capitulada por temas. O caro leitor irá perceber tratar-se de viagem literária fluída, cadenciada, que retrata de forma envolvente uma cidade interiorana em seus aspectos políticos, religiosos, comerciais, mundanos, no culto de suas tradições e em seus anseios de progresso.

Relva convida-nos a conhecer Pedrinópolis. Passa-nos a certeza de que nos encantaremos com o que será visto.

Resumo da historia: de Canto a Canto, Relva do Egypto, com arte requintada, inspiração lírica acentuada, memória aguçada, compõem um Cântico enternecido de amor à sua querida Pedrinópolis. Tratar de ler o livro e dar uma chegadinha a Pedrinópolis, fica aí a sugestão.

 

 

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Itinerário difícil e árduo

 



 

*Cesar Vanucci

 

A solução da crise só será duradoura com a criação de um Estado palestino, reconhecido como membro pleno da ONU”.                                                                                                                                               (Presidente Lula)

 

A comparação do conflito em Gaza com o Holocausto, feita pelo Presidente Lula, ganhou compreensivelmente repercussão negativa. Mas, outra fala de Lula, ainda na Etiópia, pouco antes da malfadada e duramente criticada entrevista, produziu efeito diametralmente oposto.

Reportando-se à guerra que galvaniza as atenções, o Presidente fez correta avaliação de múltiplos aspectos do litígio, refletindo o modo de ver de parcelas majoritárias da opinião pública universal. O pronunciamento, numa conferência com chefes de Estado africanos, pode ser assim sintetizado: 1) Ser humanista, nestes tempos conturbados, é condenar com veemência o ato terrorista do Hamas em território Israelense, matando inocentes e sequestrando civis; 2) ser humanista, nestes tempos belicosos, é rechaçar igualmente a resposta desproporcional do Estado de Israel, que já vitimou 30 mil palestinos na maioria mulheres e crianças; 3) ser humanista, nos tempos de hoje, é clamar pela libertação dos reféns e pela trégua humanitária; 4) ser humanista, nestes tempos tumultuados, é admitir sem titubeios que a solução para a crise só será duradoura com a criação do Estado da Palestina.

 Estas considerações devem ser acrescidas, para melhor entendimento do assunto, de informações relevantes. Os conceitos expendidos pelo Presidente do Brasil no pronunciamento estão em sintonia com manifestações da quase totalidade dos países da ONU. Fazem parte de numerosas resoluções acolhidas por votação maciça em plenário, embora não conseguissem prosperar devido a vetos isolados.

É oportuno enfatizar, ainda, que a Assembleia da ONU definiu, já em 1948, a criação dos Estados de Israel e Palestina, nutrindo mais do que um desejo, uma inquebrantável esperança de que as duas pátrias pudessem conviver para sempre em harmonia. Israel tornou-se potência de primeira grandeza política e econômica. Mas, a Palestina, transcorridos mais de 70 anos, não ganhou o espaço prometido, tão almejado, no atlas geográfico, pelo menos até agora. O processo de implantação definitivo da Palestina com limites geográficos bem precisos, identidade própria e tudo mais que sirva para assegurar legitimidade a uma Nação no concerto mundial, esbarra em ferrenhos obstáculos. Decorre daí a lentidão, pode-se dizer mesmo, o andamento acovardado, com que são conduzidas, nas altas esferas decisórias mundiais, as articulações com vistas a tornar realidade o sonho ardente de milhões de palestinos. Uma gente espezinhada que perambula pelos descampados da vida, sem eira nem beira, recolhidos, boa parte deles, nos campos de refugiados de terras alheias.

Por mais estranho que seja, entre os que se opõe tenazmente à existência  da Palestina aparecem com destaque os próprios contendores deste conflito feroz que ensanguenta o Oriente Médio. Hamas, Hezbollah e outros grupos terroristas engajadas no conflito não aceitam o Estado da Palestina. Sua iracunda obsessão é a completa destruição do Estado de Israel. Por sua vez os governantes de Israel já deixaram manifesta em várias ocasiões radical oposição à ideia da estruturação, nos termos previstos pela ONU, do Estado da Palestina. Os contínuos assentamentos de colonos na Cisjordânia, em desafio aberto à ONU e comunidade das Nações, representão prova contundente desta censurável postura.

Pelo que se vê o itinerário a ser percorrido na busca de solução ideal para se interromper o interminável ciclo de contendas naquele cenário - o mais Sagrado da historia da civilização -, compreende, infalivelmente as etapas seguintes: cessação das hostilidades, devolução aos Palestinos das áreas indevidamente entregues a colonos israelitas, negociações com muito diálogo e participação das lideranças globais, aceitação e reconhecimento amplo, geral e irrestrito da Palestina como Estado.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

A Fala do Presidente

             O Presidente Lula saiu do                                                                                                                                         ponto.”

                                             (Senador Jacques Wagner, líder governamental no Senado)

  

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou o que não devia e escutou o que não precisava ouvir.  Extrapolou, como se diz no jargão diplomático, a linha vermelha. A comparação da virulenta contraofensiva israelense em Gaza com a horrenda história do Holocausto foi infeliz em demasia.  As atrocidades nazistas alvejando prioritariamente a comunidade judia e envolvendo outros grupos não encontram paralelo na história dos crimes cometidos contra pessoas e patrimônios em nenhum outro momento da idade moderna, que é pontilhada, como sabido, por atentados frequentes à dignidade humana.

Ato incontinente à retórica desastrada, a reação oficial do Governo de Netanyahu foi bastante veemente, enveredando, todavia, por tom descomedido dentro dos padrões diplomáticos que regem as relações entre países que preservam histórica convivência fraternal. O Ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, depois de considerar Lula “persona non grata”, exigindo que se retratasse, mandou chamar o Embaixador brasileiro em  Telavive para reunião no “Museu do Holocausto”, com o fito de aplicar-lhe uma repreensão pública sob os holofotes midiáticos. O “pito” foi dado em hebraico, com voz alterada e sem tradutor por perto, algo pra lá de surreal. Ao Itamaraty não restou alternativa que não a de trazer de volta o Embaixador brasileiro Frederico Meyer , e convocar o Embaixador de Israel em brasília, Daniel Zonshine para encontro reservado, sem presença de jornalistas, com  o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afim de registrar o desconforto causado com o tratamento dispensado ao nosso país na momentosa questão. Não satisfeito com as atitudes já tomadas, o Chanceler Yoav,  resolveu escalar uma oitava a mais no protesto, abrindo nova frente de críticas ao Presidente do Brasil pelas redes sociais, o que está sendo considerado por observadores qualificados em política internacional comportamento inteiramente fora do compasso diplomático e que só se apresta a acirrar ânimos e ampliar discórdias.

A impressão, aventada por jornalistas, de que o Governo Netanyahu esteja empenhado em utilizar a imprópria fala de Lula, proferida na Etiópia, como instrumento de propaganda política, na tentativa de melhorar sua desgastada imagem nos planos interno e externo, parece de algum modo, corroborada por episódios bastante emblemáticos. O Presidente da Turquia, Erdogan Turkey fez pronunciamentos em dezembro e janeiro extremamente hostis à conduta das Forças Armadas de Israel em Gaza, falando em “Holocausto” e “genocídio” e comparando o Primeiro Ministro de Israel com “Fuehrer”, e “Hitler”. Telavive protestou, mas não desfechou contra o governante de Ancara e seu país a artilharia pesada verbal agora observada. De outra parte, a expressão “genocídio”, alusiva à tragédia de Gaza, foi também empregada pelo Governo da África do Sul ao propor a condenação de Israel e seus dirigentes por “crimes de guerra” na Corte Internacional de Justiça de Hia. Pela mesma forma, a reação de Israel ficou adstrita aos protocolos tradicionais da política diplomática.

A opinião pública brasileira acompanha com notório desagrado o desdobramento do caso em tela.  Ancorada nas boas relações que o Brasil mantém com o Israel desde sua criação, em 1948, quando a presidência da ONU era ocupada por Oswaldo Aranha, aguarda confiante, que as escaramuças antidiplomáticas cessem o quanto antes.  Sejam substituídas pelo tom respeitoso e fraternal que a competente diplomacia brasileira consegue imprimir, como reconhecido universalmente, a todas as ações em que se vê envolvida.

Enquanto isso em Gaza...

                                                 Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

A Fuga de Mossoró

                                 "(...)bela viola,..."


Cesar Vanucci

“Não afeta, em hipótese nenhuma a segurança das cinco unidades prisionais Federais. É um problema localizado a ser superado.” (Ministro Ricardo Lewandowski .)

 

Estupefação geral. Tudo muito surreal. Dois detentos de alta periculosidade escapuliram da penitenciaria de “segurança máxima” de Mossoró, Rio Grande do Norte, praticamente pela “porta da frente”. Por mais incrível que possa parecer, conseguiram abrir buraco entre parede e teto das celas em que se achavam recolhidos no setor mais restritivo da unidade. Munidos de um alicate (?!), fizeram um furo na cerca de alambrado do prédio, depois de circularem livremente pelos corredores e pátios, ganhando assim a liberdade. A ousada proeza se desenrolou diante de câmeras, guaritas de vigilância, mas o alarme de fuga só veio a ser acionado muito tempo depois da evasão.

 Até aqui as penitenciárias ditas de “segurança máxima” eram apontadas como fortificações inalcançáveis pelo “crime organizado” de dentro pra fora ou de fora pra dentro. Não são mais. As facções ganharam mais um round de uma série de rounds a serem ainda disputados nos combates travados com a Segurança Pública. A sensação de desconforto experimentada pela comunidade, em face de mais essa inverossímel ocorrência, clama por avaliação mais aprofundada da conjuntura carcerária. As pessoas se perguntam, boquiabertas, como é possível num presídio de “segurança máxima”, presos isolados na ala destinada a abrigar indivíduos mais violentos possam fugir sem quaisquer atropelos, interceptações, de forma tão desembaraçada.

 A gente se pergunta, também, como é possível aprovar-se projeto arquitetônico de penitenciária com o teto devassável. Outra estranheza a anotar: a ação dos delinquentes, em seu esforço de se sobreporem a eventuais obstáculos, deveria produzir ruídos que logicamente não passariam despercebidos a uma vigilância atenta. Fica muito difícil aceitar a tese de que a fuga não tenha sido fruto de conluio envolvendo outros participantes.

Dolorosa constatação: não há mais limites para atuação das organizações criminosas. As cadeias pertencentes a outros sistemas, que não o complexo federal, já haviam sido, de algum modo, atingidas pelo poder corrosivo e nefasto dessas ativas e perigosas quadrilhas. O noticiário nosso de cada dia proporciona relatos frequentes acerca dessa ação sorrateira sumamente danosa. Os registros falam de rebeliões, recrutamento de apenados para integrarem as facções, articulações referentes ao Tráfico externo de Drogas, “rede clandestina de celulares” operando a pleno vapor com o fito de ditar comandos para comparsas e aplicar golpes contra cidadãos incautos no sossego dos lares. Ainda agora mesmo, tomamos ciência da fuga, numa cadeia regional superlotada do Piauí, perto de Mossoró, de 17 presos de uma só vez.

A fuga de Mossoró forçou o Governo a montar uma mega operação, sem precedentes na crônica policial brasileira, com vistas à captura dos fugitivos. É provável que os resultados desejados já hajam sido alcançados à hora em que este comentário estiver sendo lido. O Ministério da Justiça tornou conhecidas inúmeras medidas tomadas com propósito de rever protocolos vigentes no sistema prisional. Anunciou, ao mesmo tempo, obras de reforço na segurança das edificações.  

 Tudo quanto exposto leva-nos a concluir que se faz urgente e inadiável  uma reflexão amadurecida e a tomada de decisões vigorosas nesse perturbador capitulo da Segurança Pública em nosso país. Governo, Justiça, Congresso e setores responsáveis pelas políticas de segurança precisam dialogar mais intensamente sobre as estratégias a serem implementadas no enfrentamento, de modo eficaz, das ofensivas do crime organizado, no centro hoje, das preocupações mais angustiantes da sociedade brasileira.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Hora da verdade.

 



*Cesar Vanucci

“As investigações abordam especificamente  fatos relacionados a tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito”.(Alexandre de Moraes, Presidente do TSE)

 




Liberou geral, como se diz na pinturesca linguagem das ruas. A hora da verdade soou como proclamado nas investigações que acabam de ser trazidas a público. As apurações da Policia Federal que vinham sendo conduzidas dentro de cadencia moderada, posto que firme e consistente, assumiram configuração mais ampla e decisiva. As arrasadoras provas levantadas deram claridade solar ao tenebroso enredo golpista, apontando praticamente todo o elenco da trama, de autores a atores e coadjuvantes.

Junção da elucidativa e explosiva “delação premiada” do ajudante de ordens do ex-presidente Bolsonaro com os elementos contidos nos atos baderneiros, atentado a bomba, depredações de patrimônios públicos e símbolos cívicos, obstruções em rodovias, invasões de repartições, agrupamentos com palavras de ordem subversivas, ameaças violentas a pessoas, de viva voz e pela internet, reuniões clandestinas e manifestações insultuosas à dignidade nacional tornou possível se compusesse retrato de corpo inteiro da manobra antidemocrática arquitetada nos gabinetes do governo desalojado do poder em eleições livres e de lisura incontestável.

Os documentos, os diálogos, as mensagens de celular e de e-mails, os vídeos (gravados pelos próprios envolvidos, em momentos de embriagante autoconfiança), além de longa série de depoimentos contundentes que integram a robusta peça acusatória elaborada pela PF são simplesmente estarrecedores. Não comportam dúvidas quanto à participação dos personagens indiciados na conspiração que pretendeu mergulhar nosso país nas trevas da ditadura.

As alegações que colocam em dúvida a legitimidade das ações promovidas pelas autoridades competentes não resistem a qualquer tipo de análise crítica.  Dizer, por exemplo, que se trata de “perseguição política” é demonstrar primitivismo intelectual desconcertante que só se explica por paixão cega.

Chamou muito a atenção nas revelações transmitidas pelos Federais o tratamento altamente desrespeitoso, insultuoso, descambando mesmo para o mais baixo calão, que alguns investigados dispensaram, nos bate-papos conspiratórios, a ilustres personagens da esfera Militar que se recusaram a aderir à felizmente malograda intentona. Num dos registros gravados, aparece um dos envolvidos na trama recomendando atitudes que  “infernizem” a vida de um chefe Militar e de seus familiares, algo sem dúvida, assustador...

Fica claro, a essa altura dos acontecimentos, que muitas coisas graves ainda existem para ser contadas.  O que já veio á tona é apenas parte da Operação “Tempus Veritatis”, segundo admitem fontes ligadas às diligencias em curso.

A opinião publica, a um só tempo que abomina toda a situação investigada regozija-se com o exemplar comportamento das Instituições diante dos fatos narrados, um reflexo admirável do sentimento Democrático Nacional.

 

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A SAGA LANDELL MOURA

Pacto sinistro

                                                                                              *Cesar Vanucci   “O caso Marielle abriu no...